Principais recomendações no manejo de resistência de daninhas em soja

Na luta contra plantas daninhas resistentes o uso de boas práticas agrícolas é fundamental

09.12.2020 | 20:59 (UTC -3)
Cultivar Grandes Culturas

Prevenção ou manejo dos problemas crescentes de resistência de plantas daninhas a herbicidas é na atualidade um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores de soja no Brasil. Para enfrentar este problema é recomendado que seja aplicado o conceito de mitigação da resistência, que consiste na ação de reduzir a propagação, a severidade e o impacto econômico da resistência, através do uso de boas práticas agrícolas (BPA). 

Uma BPA envolve principalmente o conceito de diversidade, que se aplica de forma ampla ao sistema de produção como um todo na propriedade, assim como nas práticas específicas de manejo dentro da condução dos tratos da cultura. Nas áreas produtoras de soja pelo Brasil é adotado um sistema de produção que envolve diferentes cultivos em sucessão em um mesmo ano agrícola, assim, diversificar estes cultivos significa mudar o ambiente de produção, e dessa forma quebrar o sincronismo entre a planta daninha resistente e a monocultura. Da mesma forma, na condução de uma cultura é recomendável diversificar práticas de manejo, principalmente aplicando herbicidas de diferentes mecanismos de ação, onde o uso de residuais desempenha um papel importante no processo.

Destacam-se cinco BPAs, juntamente com algumas orientações ao produtor, para adoção no processo de mitigação da resistência em seu sistema de produção. Uma BPA a ser adotada e que resulta em grande ajuda no manejo da resistência é o manejo outonal no pousio. Um bom exemplo reside no sistema de produção do Cerrado, onde o produtor utiliza a sucessão de soja/milho, e em seguida tem um período de pousio, com baixa precipitação pluvial, até o novo plantio da soja.

Nesse sistema, uma prática que com certeza resulta na supressão da infestação das plantas daninhas resistentes é o uso de cultura de cobertura. Porém, a baixa incidência de chuva limita essa prática. Para isso é recomendado o cultivo do capim-braquiária, que além da rusticidade, apresenta uma excelente cobertura e grande produção de fitomassa, suprimindo completamente a população de plantas daninhas resistentes, além das vantagens agronômicas desta prática. Na Figura 1 é possível observar uma área após a dessecação do cultivo da braquiária, com a excelente cobertura do solo e supressão total da infestação de plantas daninhas. Em outras regiões são recomendadas outras culturas, adaptadas às condições locais.

Figura 1 - Área dessecada com glifosato após o cultivo da cultura de cobertura com capim-braquiária, na região de Sinop (MT)
Figura 1 - Área dessecada com glifosato após o cultivo da cultura de cobertura com capim-braquiária, na região de Sinop (MT)

Caso o produtor não esteja disposto a utilizar uma cultura de cobertura, é recomendável que após o cultivo do milho, como segunda safra, seja empregado um tratamento herbicida, chamado de manejo outonal. Para isso, são utilizadas associações de herbicidas com ação pós e pré-emergente, como glifosato, 2,4-D, graminicidas, saflufenacil, diclosulan, flumioxazin, dentre outros recomendados para essa modalidade de aplicação.

A segunda BPA recomendada é a dessecação sequencial, ou seja, em áreas onde as plantas daninhas resistentes ao glifosato fazem parte da comunidade infestante nas proximidades do momento da semeadura da soja, há necessidade de aplicações sequenciais, para que o produtor utilize o conceito de “plantio no limpo”. Para isso, é realizada primeiramente a aplicação de glifosato associado com um herbicida de translocação, como o 2,4-D, para controle de folhas largas, ou um graminicida para controle do capim-amargoso ou do capim-pé-de-galinha. Sequencialmente, dez a 15 dias após, para complementar o controle dessas plantas resistentes, utiliza-se geralmente um herbicida de ação de contato.

Na semeadura da soja, vem a terceira BPA recomendada, que é o uso do herbicida residual. Pode ser aplicado junto com a sequencial do herbicida de contato ou após a semeadura da soja. Esta prática proporciona uma dianteira competitiva para a soja, que inicia seu desenvolvimento no limpo, e flexibiliza a aplicação do glifosato na soja, evitando a matocompetição precoce (Figura 2). A escolha do herbicida residual depende do espectro de plantas daninhas existentes na área, sendo que se espera do produto alta eficácia, amplo espectro, seletividade para a cultura, sustentabilidade econômica e ambiental, além de que permita associações com outros herbicidas, sem efeito de carryover para culturas em sucessão.

Figura 2 - Área de soja em Alto Parnaíba (MA), com uso integrado de cultura de cobertura e herbicidas residuais
Figura 2 - Área de soja em Alto Parnaíba (MA), com uso integrado de cultura de cobertura e herbicidas residuais

A etapa seguinte de uma BPA é a aplicação seletiva de herbicidas depois da implantação da cultura da soja, ou seja, os herbicidas seletivos. Claro que neste momento o produtor lança mão do glifosato como principal ferramenta da manejo, porém, a eventual presença de plantas daninhas resistentes ao glifosato exige herbicidas alternativos. Destacam-se os herbicidas inibidores da Protox e ALS para folhas largas, e os graminicidas pós-emergentes para o controle de gramíneas. A grande preocupação neste momento é a seletividade dos pós-emergentes para folhas largas.

Finalmente, a eliminação das plantas daninhas resistentes na pré-colheita, juntamente com o controle das plantas daninhas em bordas de talhão e estradas, bem como preventivamente limpar colhedeiras após o uso em áreas com plantas daninhas resistentes, completa as BPAs. Através desta BPA, adota-se o conceito de “tolerância zero” para as plantas daninhas resistentes, pois é nesta fase que essas plantas constroem o seu banco de sementes, e se o objetivo é mitigar a resistência, o banco de sementes das plantas daninhas resistentes deve ser exaurido, evitando a introdução de novas sementes.

A mensagem aos produtores é simples: “cultura no limpo com diversidades de práticas agronômicas no sistema de produção”. Use diferentes mecanismos de ação dos herbicidas, pratique rotação de culturas, use doses recomendadas de herbicidas e faça controle em pré e pós-colheita. Boas práticas agrícolas contribuem para a sustentabilidade da produção no campo.

Christoffoleti chama atenção para importância de boas práticas agrícolas
Christoffoleti chama atenção para importância de boas práticas agrícolas

Pedro Jacob Christoffoleti, Agrocon Assessoria Agronômica 

Cultivar Grandes Culturas Outubro 2020

A cada nova edição, a Cultivar Grandes Culturas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de grandes culturas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade. 

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