Pressão do bicudo no início da safra preocupa

19.01.2015 | 21:59 (UTC -3)

A atual safra de algodão em Mato Grosso se inicia em estado de alerta contra um conhecido inimigo da cotonicultura brasileira: o bicudo-do-algodoeiro (Anthonomus grandis). Responsável por dizimar lavouras de algodão do Paraná, São Paulo e de estados do Nordeste, nos anos 1990, o bicudo vem sendo monitorado pelo Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt) – braço tecnológico da Associação Mato-grossense dos Produtores de algodão (Ampa) – e a captura elevada de adultos no início da safra 2014/15, nas armadilhas instaladas nos sete Núcleos Regionais de produção em Mato Grosso, acendeu o sinal vermelho.

"Devido à grande pressão do bicudo neste início de safra – época considerada de baixa infestação -, alertamos os produtores quanto à importância das ações iniciais de controle da praga. Se o controle e o monitoramento nos talhões não forem rigorosos e efetivos, neste primeiro momento, o produtor tem alto risco de ter o bicudo fora de controle, causando prejuízos severos às lavouras", afirma o entomologista Eduardo Barros, do IMAmt.

A preocupação do pesquisador, compartilhada com o presidente da Ampa e do IMAmt, Gustavo Piccoli, é baseada nos dados do monitoramento feito desde a safra 2012/13, por meio de armadilhas sob a responsabilidade dos assessores técnicos regionais (ATRs) e a equipe de pesquisadores. Esses dados estão sendo repassados aos associados da Ampa por meio do Informativo SAP-e Bicudo/IMAmt e no último relatório enviado chamou atenção o grande número de besouros capturados, principalmente nos Núcleos Regionais Sul (região da Serra da Petrovina), Centro Leste (região de Primavera do Leste) e Centro (região de Campo Verde), embora o problema se estenda aos Núcleos Regionais Noroeste (região de Sapezal), Médio Norte (região de Campo Novo do Parecis), Norte (região de Sorriso) e Centro Norte (região de Lucas do Rio Verde).

"Temos uma média acima de 10 B.A.S (bicudos por armadilha por semana) nos núcleos Sul, Centro e Centro Leste, sendo que o índice acima de 2 indivíduos por armadilha já coloca a lavoura em alerta vermelho", informa Renato Tachinardi, ATR do Núcleo Regional Centro e responsável pelo projeto de controle de bicudo do IMAmt, que tem apoio financeiro do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).

Segundo Tachinardi, após uma queda de 58% na quantidade de bicudos capturada no Núcleo Regional Centro na safra 2013/14 em relação à safra anterior (de um índice B.A.S de 2,07 bicudos por armadilha por semana para 1,21), houve um aumento preocupante na captura de bicudo no monitoramento em pré-safra 2014/15. Foi registrado um índice B.A.S. de 9,59 na segunda semana de janeiro, o que corresponde a um aumento de 790%.

Medidas de controle – O que fazer diante desse quadro que atinge todas as regiões produtoras de Mato Grosso – estado responsável hoje por cerca de 60% da produção brasileira de algodão em pluma? "O produtor de algodão deve ficar muito atento às lavouras e seguir rigorosamente as recomendações da pesquisa", diz o presidente Gustavo Piccoli, lembrando que o bicudo é chamado de "praga silenciosa". Segundo o entomologista Walter Jorge dos Santos, que se aposentou do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) e é considerado um dos maiores especialistas nessa praga, o besouro (o bicudo adulto) se alimenta do interior dos botões florais do algodão, inviabilizando-os; as fêmeas do inseto colocam seus ovos no interior dos botões florais e das maçãs. "As larvas ficam escondidas, por isso o bicudo não é um alvo fácil e é chamado de praga silenciosa", explica o pesquisador, que fez várias palestras para produtores e técnicos de Mato Grosso em 2014, a convite do IMAmt.

Eduardo Barros, entomologista do IMAmt, lembra que, mesmo em locais com menor pressão inicial do bicudo, a atenção dos produtores e seus colaboradores deve ser mantida, devido ao difícil controle da praga e rápida explosão populacional. "Em consequência da maior população residual de bicudos presente na entressafra - causada por destruição de soqueiras adiada e de baixa qualidade, e a grande sobra de plantas de algodão nos talhões, hoje presentes nas lavouras de soja -, a praga irá migrar e se instalar com maior agressividade nas primeiras lavouras já semeadas com algodoeiro", alerta Barros. Segundo ele, isso poderá colocar em risco toda a atividade de produção de algodão em pluma em Mato Grosso.

Para evitar que isso aconteça, a equipe do IMAmt recomenda aos produtores e técnicos a realização das seguintes ações: antecipar o início da aplicação de bordadura, antecipar a aplicação em bateria em B1 (Primeiro Botão Floral), antecipar o monitoramento mais rígidos das lavouras, treinar monitores novos com foco no bicudo, eliminar fontes da praga em pátios de algodoeiras, beira de fardões, beira de carreadores, estradas, etc; fazer a revisão de pulverizadores e aplicação direcionada; dar atenção a produtos, horários de aplicação, volume, gota, etc; fazer ajuste fino e deixar toda equipe da fazenda em atenção ao controle da praga.

"Segundo o pesquisador Walter Jorge dos Santos, o gargalo do algodão é a destruição mal feita dos restos culturais – uma etapa que deve ser realizada no período de vazio sanitário, encerrado em 1º de dezembro. Se o dever de casa não foi realizado a contento, temos agora que arregaçar as mangas e fazer um controle mais efetivo do bicudo neste início de safra para evitar a explosão da população do inseto mais adiante", conclui o presidente da Ampa e do IMAmt, Gustavo Piccoli.

Compartilhar

Newsletter Cultivar

Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura

LS Tractor Fevereiro