Potencial econômico dos SAFs foi debatido no VII CBSAF

26.06.2009 | 20:59 (UTC -3)

“Financiamento e assistência técnica são os maiores desafios para a

expansão dos sistemas agroflorestais”. A opinião é de Michinori Konagano, produtor de Tomé Açu (PA) e diretor da Cooperativa Agrícola Mista de Tomé Açu (CAMTA).

Adepto dos sistemas agroflorestais (SAFs) desde que a fusariose atacou o monocultivo de pimenta-do-reino da região no início dos anos 1970, Michinori discutiu o potencial econômico dos SAFs na quinta-feira(25) com participantes do VII Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais (VII CBSAF), em Luziânia (GO).

A saga da família Konagano serve de exemplo para os mais céticos quanto à viabilidade socioambiental e econômica dos Sistemas Agroflorestais. Michinori migrou do Japão para o Brasil em 1960 aos 2 anos. Atraídos pela oferta de emprego nas lavouras de pimenta, os Konagano enfrentaram 30 dias de navio do Japão ao porto de Santos (SP) e mais alguns dias até o Pará. Após cinco anos de trabalho e do “aprendizado inicial com o patrão”, a família japonesa começou a cultivar pimenta-do-reino em área própria de vinte hectares.

O plantio inicial, prejudicado pela fusariose, forçou a família Konagano a buscar alternativas para obter lucro com a produção agrícola. “A monocultura de pimenta predominava, e diante das dificuldades financeiras, buscamos uma alternativa”, lembra, sobre o desafio de seus familiares. “Os grandes produtores deixaram o município, mas os pequenos permaneceram”, conta Michinori. Consorciar a produção de pimenta com cacau foi a primeira alternativa. Aos poucos, outras culturas foram sendo inseridas no sistema. O SAFs atual combina mais de duas dezenas de espécies frutíferas, florestais, leguminosas e ainda plantas medicinais.

Michinori apresentou alguns consórcios que têm apresentado bons ganhos econômicos. O consórcio cupuaçu, cacau e pimenta tem sido um dos mais promissores. O cacaueiro, embora gere lucro só a partir do quarto ano, produz matéria orgânica benéfica para a fertilidade do solo e retenção da umidade. “É importante o produtor avaliar qual cultura pode ser utilizada para cobertura do solo em sua região”, salienta.

O plantio do cacau consorciado com açaí e taperebá (cajá) também foi

destacado. “O taperebá é uma caixa d’água. As plantas cultivadas abaixo dele são beneficiadas”, comenta.

O consórcio açaí, cacau, mogno e banana é outro que agrada ao produtor do Pará. Michinori destaca que as espécies madeireiras não dão lucro em curto prazo, mas “são como uma poupança para o produtor”. Sobre a bananeira, o produtor destaca o potencial de reter água da planta e o sombreamento.

“Não existe uma receita para o SAF. O pequeno produtor pode começar

errando, e os resultados vão sendo observados para moldar o SAF”, diz Michinori. “Ter produção e receita durante todo ano é uma das grandes vantagens”, avalia.

A CAMTA, associação dirigida por Michironi, tem 130 produtores adeptos dos SAFs. Para o produtor, o modelo que vem se mostrando viável em Tomé Açu (PA) depende de esforços de transferência de tecnologia para conquistar a confiança de produtores de outras regiões. A ausência de financiamento bancário para os SAFs também é vista como um empecilho para a expansão do sistema. A CAMTA já dispõe de uma agroindústria, resultado de um projeto da Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), com capacidade de armazenamento de 2 mil toneladas de polpa.

As dificuldades iniciais para acessar o mercado foram vencidas com a

organização em associação e apoio do SEBRAE. Parte da produção é exportada para o Japão e os Estados Unidos, país em que a polpa de açaí é um dos mais recentes sucessos no varejo.

O VII Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais encerrou-se sexta feira (26/06)

O evento foi promovido pela Sociedade Brasileira de Sistemas Agroflorestais e realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater/DF) e a organização não-governamental Mutirão Agroflorestal. A organização do VII CBSAF foi da Embrapa Transferência de Tecnologia (Brasília/DF) e o evento contoi com apoio da Embrapa Cerrados (Planaltina –DF), Embrapa Floresta (Colombo/PR) e da Embrapa Informação Tecnológica (Brasília/DF).

Gustavo Porpino

Embrapa Cerrados

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