Pesquisa identifica assinatura genética de cana-de-açúcar resistente à ferrugem alaranjada

Estudo, fruto de Iniciação Científica, foi desenvolvido com apoio do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar, do Campus Araras da UFSCar

05.04.2023 | 14:43 (UTC -3)
Adriana Arruda
Folha com ferrugem alaranjada
Folha com ferrugem alaranjada

Uma pesquisa de Iniciação Científica (IC) desenvolvida no Campus Araras da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) identificou um marcador molecular - espécie de assinatura genética - de cultivares de cana-de-açúcar resistentes à ferrugem alaranjada, doença importante nessa cultura, causada por fungo que se espalha pelo ar. Com isso, o estudo indicou que esta pode ser uma ferramenta molecular importante na busca por novas cultivares resistentes à doença.

O trabalho foi realizado por Ícaro Fier, graduado em Biotecnologia pela UFSCar, sob orientação de Monalisa Sampaio Carneiro, docente no Departamento de Biotecnologia e Produção Vegetal e Animal (DBPVA-Ar) da Instituição.

"Em um primeiro momento, avaliamos, em campo, a resistência à ferrugem alaranjada dessas cultivares. Depois, verificamos a frequência do marcador G1 junto às cultivares, para analisarmos se esse marcador auxilia em uma resistência ainda maior a esta ferrugem", sintetiza Carneiro.

A pesquisa constatou que o marcador molecular G1, antes testado apenas em cultivares de cana originárias dos Estados Unidos, é, também, fator de resistência à ferrugem alaranjada em 10 das 24 cultivares brasileiras testadas. Este é o primeiro estudo do País que analisa o marcador em cultivares brasileiras.

Os resultados mostraram que a eficiência do marcador G1 em prever a resistência foi de 71,43%. Além disso, na média geral, a redução na severidade da doença foi de 35% quando o marcador G1 estava presente.

A ferrugem alaranjada é causada pelo fungo Puccinia kuehnii e acomete as folhas, que ficam cheias de pontos alaranjados. A doença prejudica a fotossíntese e reduz, portanto, a produtividade da cana-de-açúcar. Diferentemente de uma bactéria, por exemplo, em que é possível ter maior controle do ambiente para evitar proliferação, o fungo é facilmente espalhado pelo ar - por isso a importância de se criar cultivares resistentes a ele.

A integração de dados de campo com o marcador G1 permitiu a identificação de cultivares de cana resistentes à ferrugem alaranjada, sendo que essa resistência foi promovida, em parte, pelos genes aos quais o marcador G1 está ligado. As cultivares resistentes e com a presença do marcador G1 podem ser aproveitadas no processo de melhoramento para realizar novos cruzamentos e, assim, obter cultivares que combinem também esse tipo de resistência à ferrugem alaranjada, criando o que os cientistas chamam de resistência durável.

"Essa resistência durável é um dos objetivos do nosso programa de melhoramento genético - o maior do País -, pois vem com o propósito de liberar cultivares resistentes às principais doenças da cana-de-açúcar, tendo, assim, maior durabilidade comercial e boas condições de produtividade", conta a docente da UFSCar.

Outra vantagem: cultivares mais resistentes diminuem o uso de produtos químicos para combater doenças - algo prejudicial à própria cana e ao ambiente.

A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Grupo de Estudos em Biotecnologia de Plantas (GEBPlant), coordenado por Carneiro, com apoio do Programa de Melhoramento Genético da Cana-de-açúcar da UFSCar (PMGCA), sediado no Centro de Ciências Agrárias (CCA), no Campus Araras.

Premiação e reconhecimento

Parte do estudo gerou a publicação "Field resistance and molecular detection of the orange rust resistance gene linked to G1 marker in Brazilian cultivars of sugarcane" (https://doi.org/10.1590/0100-5405/221803), que conquistou o Prêmio Summa Phytopathologica, como melhor artigo publicado no ano de 2020 no periódico de mesmo nome.

Além de Fier e Carneiro, o texto tem coautoria de Hermann Paulo Hoffmannn - assim como Carneiro, docente no DBPVA-Ar -, além de Thiago Willian Almeida Balsalobre e Roberto Giacomini Chapola, pesquisadores no PMGCA e integrantes da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA).

Fier, hoje estudante de doutorado no Programa de Pós-graduação em Genética e Biologia Molecular na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), comenta que a premiação trouxe a ele um incentivo pessoal, além de corroborar a importância do trabalho que os cientistas desenvolvem diariamente.

"Como profissional da área, vejo a Biotecnologia como um racional que permite criar tecnologias aplicáveis em diversas áreas. Na Agronomia, por exemplo, ela pode potencializar o desenvolvimento de cultivares mais adaptadas para as necessidades atuais. O período em que passei no GEBPlant ajudou a estruturar a minha base de conhecimentos que me impulsionaram na carreira acadêmica. Hoje, como aluno de doutorado da Unicamp, fico feliz em saber que nossos esforços geraram frutos", pontua o estudante.

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