Pesquisa desenvolve banana mais resistente à Sigatoka-negra

Uma nova cultivar de banana é a mais recente aposta da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) para alavancar o crescimento da cultura no Pará

21.03.2017 | 20:59 (UTC -3)
Léa Cunha

Uma nova cultivar de banana é a mais recente aposta da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) para alavancar o crescimento da cultura no Pará, o maior produtor da Região Norte e o quinto maior do País. Desenvolvida em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental, a BRS Pacoua é moderadamente resistente à Sigatoka-negra, principal doença que atinge a cultura, e se destaca por apresentar ciclo de produção em menor tempo e maior número de frutos por cachos quando comparada à Pacovan, a cultivar mais utilizada e aceita no Norte do Brasil e altamente suscetível a referida doença, fato que tem inviabilizado o seu cultivo em algumas áreas do Norte brasileiro.

O nome da cultivar homenageia o frei Cristóvão de Lisboa que, no século 17, na obra História dos animais e árvores do Maranhão, se referiu ao fruto da banana como pacoua e à planta como pacoueira. Esse nome, provavelmente, seria uma corruptela de Pacova, que era como os índios chamavam a banana.

Devido à moderada resistência à Sigatoka-negra, a BRS Pacoua tem potencial para minimizar os danos à cultura e permitir que o produtor cultive a fruteira e consiga elevar a produtividade, trazendo maior rentabilidade à sua propriedade e melhor qualidade de vida. Sua produtividade é superior à da Pacovan que, devido à suscetibilidade às principais doenças, raramente atinge 15 toneladas por hectare no Estado do Pará.

“Ela é bem mais precoce do que a Pacovan em termos de produtividade. Com a Pacovan, colhe-se o primeiro cacho em torno de dez a 12 meses, e com a nova cultivar se consegue acelerar a colheita em torno de dois a três meses. Mas é claro que isso depende muito do manejo que o produtor faz. Quando o produtor é mais tecnificado, o ciclo tende a ser menor”, destaca Edson Perito Amorim, pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura e líder do Programa de Melhoramento Genético de Banana e Plátanos da Embrapa.

De acordo com os dados colhidos nos experimentos montados no Pará, a BRS Pacoua tem potencial de produzir até três vezes mais que a Pacovan. “Temos dados de cachos pesando até 20 quilos no caso da BRS Pacoua enquanto da Pacovan chegava a algo em torno de seis, sete quilos. São quase três vezes mais, no mesmo ambiente”, assegura Amorim. Uma vantagem da BRS Pacoua diz respeito ao formato dos frutos são retos e uniformes, o que facilita a arrumação das pencas nas caixas e posteriormente a formação dos buquês nos pontos de vendas em supermercados, principalmente.

Sustentabilidade

A substituição de plantios de bananeiras suscetíveis à Sigatoka-negra por cultivares tolerantes ou resistentes é uma alternativa sustentável, incentivada pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca do Estado do Pará (Sedap). Além de ter potencial de mercado muito grande, já que é parecida com outras cultivares que têm mercado cativo no estado, a BRS Pacoua se adequa especialmente ao produtor familiar, já que vai prescindir do uso de agroquímicos para o controle de doenças.

“Só o fato de não ter que pulverizar fungicida já é uma certa proteção para o produtor. Ela se adequa muito bem a essa questão do cultivo orgânico e também ao pequeno produtor, que pode ter uma redução de custos com as compras de insumos e também se adequar às exigências do mercado, que não permite a utilização de defensivos”, salienta o engenheiro-agrônomo Geraldo Tavares, da Sedap.

Segundo Antônio Jose Elias Amorim de Menezes, analista da Embrapa Amazônia Oriental, os testes da BRS Pacoua duraram dois anos. “Os experimentos foram realizados em três propriedades dos municípios de Capitão Poço, Santa Isabel e Santo Antônio do Tauá. O acompanhamento dos experimentos era realizado a cada dois meses, sempre com coleta de dados e avaliações”.

Produção

Raimundo Xavier, de Santo Antônio do Tauá (PA), é um dos produtores que aprovaram a novidade. “Foi a melhor variedade que consegui aqui na região. Já tinha plantado outras variedades, mas despencam. Produzi de cinco a seis ciclos dela e continuo ainda produzindo bem. Se tivesse chuvoso teria banana para 40 a 42 quilos no cacho, mas mesmo assim [com o tempo seco] está dando 25, 30 quilos. A produção é muito boa, tem mercado para ela, é bem viável. Estou muito satisfeito”, declara Xavier.

Para Raphael Siqueira, produtor de Belém (PA), a produtividade da BRS Pacoua é muito boa. “Tem palmas [pencas] de 25 até 30 bananas em alguns casos e os cachos chegam apesar entre 30kg e 40kg, o que é uma produtividade excepcional. Nós estamos fornecendo, ainda uma quantidade ainda não muito grande, diretamente para os supermercados. A aceitação é muito boa, e o paladar lembra a banana Prata”, afirma.

Como na produção de qualquer variedade, para ter sucesso com a BRS Pacoua, o agricultor deve ficar atento aos aspectos relacionados à implantação e manutenção do bananal, como exigências climáticas e escolha da área de plantio, mudas, exigências nutricionais, tratos culturais, manejo de plantas daninhas, irrigação, pragas e doenças e métodos de controle.

De acordo com Menezes, a BRS Pacoua também pode ser utilizada em consórcios, seja em sistemas agroflorestais (SAFs) ou junto a plantações de açaí e cacau, o que é muito comum no Pará. "A banana produz em um ano e ajuda o agricultor a conseguir um retorno rápido do investimento, pois o açaí leva em média quatro anos para produzir, por exemplo. Além da renda com venda da banana, as folhas e restos do manejo do bananal servem de adubo e armazenamento de água para a plantação de açaí, reduzindo os custos de manejo", observa.

Melhoramento preventivo reduz disseminação de doença da banana

Diz o ditado popular que é melhor prevenir do que remediar. E foi na linha do melhoramento preventivo que a Embrapa resolveu, em 1982, atacar um dos mais graves problemas da cultura da bananeira e que fatalmente chegaria ao Brasil, a Sigatoka-negra. Causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, a doença já estava ocorrendo na América Central e em alguns países da América do Sul, o que facilitaria sua entrada pela região Norte.

O engenheiro-agrônomo Sebastião de Oliveira Silva, ex-pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura responsável pelo Programa de Melhoramento Genético da Banana naquele período, lembra o início do trabalho preventivo. “A Inibap (Rede Internacional para o Desenvolvimento das Bananas e Plátanos, hoje Bioversity Internacional), ligada à FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), à qual também estamos ligados, provocou esse trabalho”, explica.

Segundo Oliveira, sabendo que um dos grandes problemas do País seria a Sigatoka-negra, a Embrapa conseguiu, associada à Inibap, testar alguns genótipos fora do Brasil. Os híbridos foram enviados não só para a Costa Rica, mas para diversos países onde a Sigatoka-negra era um problema. “Nós precisávamos saber se eles realmente seriam resistentes, mas, não tendo a doença aqui, era impossível fazer essa avaliação”, lembra.

Melhoramento

O programa de melhoramento da Embrapa Mandioca e Fruticultura era recente – teve início em 1982 – e recebeu apoio substancial da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) tanto na indicação e contratação de consultores, quanto na organização das viagens nacionais e internacionais de coleta de germoplasma – uma amostra de variedades de uma mesma espécie de planta.

Cada amostra coletada é chamada de acesso e incluída no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) visando preservar a ampla variabilidade genética desses materiais para estudos atuais e futuros. Indispensável para a geração e o melhoramento de variedades, o BAG de banana da Embrapa Mandioca e Fruticultura tem 370 acessos, é o maior da cultura no Brasil e o segundo maior do mundo.

Melhoramento preventivo reduz disseminação de doença da banana

Diz o ditado popular que é melhor prevenir do que remediar. E foi na linha do melhoramento preventivo que a Embrapa resolveu, em 1982, atacar um dos mais graves problemas da cultura da bananeira e que fatalmente chegaria ao Brasil, a Sigatoka-negra. Causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, a doença já estava ocorrendo na América Central e em alguns países da América do Sul, o que facilitaria sua entrada pela região Norte.

O engenheiro-agrônomo Sebastião de Oliveira Silva, ex-pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura responsável pelo Programa de Melhoramento Genético da Banana naquele período, lembra o início do trabalho preventivo. “A Inibap (Rede Internacional para o Desenvolvimento das Bananas e Plátanos, hoje Bioversity Internacional), ligada à FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), à qual também estamos ligados, provocou esse trabalho”, explica.

Segundo Oliveira, sabendo que um dos grandes problemas do País seria a Sigatoka-negra, a Embrapa conseguiu, associada à Inibap, testar alguns genótipos fora do Brasil. Os híbridos foram enviados não só para a Costa Rica, mas para diversos países onde a Sigatoka-negra era um problema. “Nós precisávamos saber se eles realmente seriam resistentes, mas, não tendo a doença aqui, era impossível fazer essa avaliação”, lembra.

Melhoramento

O programa de melhoramento da Embrapa Mandioca e Fruticultura era recente – teve início em 1982 – e recebeu apoio substancial da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) tanto na indicação e contratação de consultores, quanto na organização das viagens nacionais e internacionais de coleta de germoplasma – uma amostra de variedades de uma mesma espécie de planta.

Cada amostra coletada é chamada de acesso e incluída no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) visando preservar a ampla variabilidade genética desses materiais para estudos atuais e futuros. Indispensável para a geração e o melhoramento de variedades, o BAG de banana da Embrapa Mandioca e Fruticultura tem 370 acessos, é o maior da cultura no Brasil e o segundo maior do mundo.


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