Aplicação da nutrigenômica aponta caminhos para otimização dos cultivos
Ciência tem auxiliado o setor na busca por melhoria da produtividade e qualidade
A safra de algodão colorido que começou a ser colhida em meados do mês passado em algumas regiões da Paraíba deve chegar a cerca de 50 toneladas de pluma, segundo estimativa dos produtores e dos técnicos da Empresa Paraibana de Pesquisa, Extensão Rural e Regularização Fundiária (Empaer). Isso representará uma produção pelo menos três vezes maior em relação à safra passada, de acordo com dados da instituição.
Entre os fatores que levaram a esse aumento estão a adesão da empresa Santa Luzia Redes e Decoração a um acordo internacional para que seus produtos sejam de algodão 100% sustentável até 2025. O algodão colorido orgânico é uma das principais matérias-primas usadas pela empresa. Apenas o grupo Santa Luzia está contratando a produção de cerca de 60 hectares nesta safra, com expectativa de chegar a 100 hectares no próximo ano.
A Santa Luzia Redes e Decoração, localizada em São Bento, sertão da Paraíba, desde 2006 vinha cultivando o algodão colorido natural e orgânico certificado em 20 hectares em sistema de agricultura familiar, em municípios no entorno da fábrica. A matéria-prima alimenta a fábrica que produz artigos têxteis de decoração: redes de descanso, mantas, entre outros, para abastecer o mercado nacional e internacional.
Com a demanda crescente, a empresa decidiu ampliar a produção em 300% para atender tecelagens do mercado interno e externo. “Essa produção não será destinada apenas às Santa Luzia Redes e Decoração. Nosso interesse em aumentar a produção é comercializar a pluma de algodão e futuramente o fio de algodão por que a procura tem crescido e nós vimos uma oportunidade de oferecer a outras empresas do mercado interno e externo que desejem utilizar o algodão colorido na sua produção”, conta o diretor da empresa, Armando Dantas.
A produção de algodão orgânico do grupo Santa Luzia se concentra nos municípios de Brejo do Cruz, Belém do Brejo do Cruz, São Bento e São José do Brejo do Cruz, cultivados em sua maioria por comunidade quilombolas, em sistema de agricultura familiar, com uma produtividade média de 1.200 quilos de algodão por hectare. Segundo o empresário, cerca de 180 pessoas estão envolvidas na produção.
Duas tecnologias da Embrapa Algodão para a agricultura familiar, ainda em fase de validação, foram testadas nas áreas de produção do grupo Santa Luzia, com resultados animadores, possibilitando esse aumento da produção. “Duas máquinas para auxiliar na agricultura orgânica, uma para deslintamento das sementes por meio de flambagem e outra para plantio dessas sementes, foram testadas na área. Os testes e validação das máquinas foram realizados em 900 quilos de sementes, com ótimo percentual de germinação. Essas validações tiveram bons resultados e serão interessantes para aperfeiçoar os equipamentos de disponibilizá-los para a agricultura familiar”, conta o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Algodão João Henrique Zonta.
O extensionista da Empaer em São Bento Geraldo Bonifácio coordenou os testes com a plantadeira e ficou satisfeito com os resultados. “A produção foi muito boa, quem plantou com ela ficou muito satisfeito e no próximo ano nós vamos plantar todas as áreas com o equipamento porque facilita bastante o trabalho dos agricultores. Dá para plantar até outras culturas, como milho, feijão etc.”, relata.
Outra iniciativa que têm contribuído para o aumento da produção da pluma orgânica (branca ou colorida) é o projeto Algodão Paraíba, coordenado pela Empaer desde 2015, com parceria da Embrapa Algodão, da Norfil S/A Indústria Têxtil e da Cooperativa de Produção Têxtil Afins do Algodão (Coopnatural).
Os técnicos da Embrapa Algodão e Empaer levam o conhecimento para a atividade agrícola, ensinando o agricultor cultivar sem defensivos, manejar corretamente o solo e a água, sobretudo na região do semiárido, onde ocorrem longos períodos de estiagem. “A ação da empresa em priorizar o cultivo em áreas remotas e de grande vulnerabilidade social é louvável. Isso traz um benefício significativo como a transformação econômica para estas famílias que antes plantavam apenas para subsistência e, hoje, já nutrem novas perspectivas”, declara Nivaldo Moreno Magalhães, presidente da Empaer.
Além disso, o grupo Natural Cotton Color tem a expectativa de colher uma área contratada de cerca de 40 hectares, nos municípios de Juarez Távora e Salgado de São Félix, e a Associação dos Produtores do Assentamento Queimadas, no município de Remígio, espera colher cerca de cinco hectares.
A iniciativa Unidade Internacional de Sustentabilidade liderada pelo Príncipe Charles, no Reino Unido, visa facilitar o consenso sobre como resolver alguns dos principais desafios ambientais e sociais das cadeias de fornecimento de algodão. O “Desafio do Algodão Sustentável de 2025”, surgiu em 2017 como proposta alinhada com Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e do Acordo de Paris. O pacto reúne 39 empresas transnacionais que se comprometeram a desenvolver produtos com algodão 100% sustentável.
Algodão naturalmente colorido
A Embrapa desenvolveu a primeira cultivar de algodão colorido há 20 anos, com o objetivo de oferecer alternativas de renda para os agricultores do Semiárido, além de contribuir para a preservação ambiental. De lá para cá, já foram lançadas seis variedades, com tonalidades que variam do verde aos marrons claro e avermelhado. A cultivar mais adotada pelos produtores é a BRS Rubi, por sua tonalidade mais escura, que é mais demandada pela indústria têxtil.
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