Grupo Vittia anuncia aquisição da Vitória Fertilizantes
União das duas empresas expande a oferta da tecnologia biológica no campo e amplia presença do Grupo no mercado de fertilizantes organominerais, com foco em sustentabilidade
A oliveira (Olea europaea L.) está entre as plantas mais antigas cultivadas pelo homem, possuindo importância ecológica, econômica e até mesmo cultural em diferentes países. Caracteriza-se pela rusticidade, não exigindo solos muito férteis nem regime hídrico especial para seu desenvolvimento, mas com baixa tolerância a solos encharcados e invernos intensos. Seu cultivo se concentra principalmente em países de clima mediterrâneo, representado por 95% da produção mundial, em que 73% provêm de países pertencentes à União Europeia. A Espanha é considerada a maior produtora de azeite e azeitona, com 43% da produção mundial, seguida por Itália (18%) e Grécia (12%). Contudo, países da América do Sul, tais como Chile e Argentina, vêm se destacando nesse cultivo, atingindo atualmente 1% da produção mundial. O Brasil ainda é um país dependente da importação dos frutos, e considerado o segundo maior importador de azeitonas do mundo.
Atualmente, o aumento do volume de importação, juntamente ao crescente número de pesquisas que se desenvolvem sobre esta cultura, tem estimulado agricultores a investir nesse cultivo no Brasil, principalmente nas regiões Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e Sudeste (Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo). No entanto, apesar da rusticidade da planta e de pesquisas desenvolvidas desde a implantação, as informações de manejo cultural da oliveira no Brasil ainda são insuficientes para esclarecer questões desconhecidas de produtores e pesquisadores do setor. Merece destaque o fato de que o cultivo de oliveira pode ser afetado por inúmeros patógenos, incluindo os nematoides parasitos de plantas, que podem provocar injúrias nas raízes, refletindo em seu desenvolvimento, ou apenas conviver na rizosfera sem causar danos.
Em análise à literatura internacional disponível é possível encontrar o registro de 153 espécies pertencentes a 56 gêneros de nematoides fitoparasitos associados à rizosfera das oliveiras. Algumas dessas espécies podem causar perdas às plantas de oliveiras, como Xiphinema index, X. elongatum, Pratylenchus vulnus, P. penetrans, Meloidogyne arenaria, M. javanica, M. incognita, Tylenchulus semipenetrans e Rotylenchulus macrodoratus. Entretanto, Pratylenchus (nematoide causador das lesões necróticas nas raízes) e Meloidogyne (nematoide causador de galhas radiculares) são os gêneros que vêm causando mais danos, principalmente às mudas em viveiros. No Brasil, Meloidogyne spp. e Pratylenchus ssp. são os nematoides mais disseminados e responsáveis por importantes danos econômicos em culturas anuais e perenes.
Os principais sintomas observados nas plantas parasitadas com Meloidogyne ssp. são a diminuição das brotações nas cultivares de oliveira, presença de galhas nas raízes e consequentemente diminuição do sistema radicular. Oliveiras infectadas por Meloidogyne spp. também apresentam amarelecimento das folhas superiores, seguidas de desfolha, semelhantes a deficiências nutricionais. Oliveiras infectadas com Pratylenchus ssp. apresentam sintomas semelhantes, mas ao invés de galhas, observam-se lesões escurecidas (necrose) nas raízes. Além disso, a ação mecânica causada principalmente pelo estilete dos nematoides favorece a entrada de patógenos secundários como Verticillium dahliae, causando murcha e agravando ainda mais os danos. Como exemplo, há a associação de M. incognita e P. vulnus com o fungo V. dahliae.
No Brasil, os estudos sobre a ocorrência e os danos provocados por esses organismos limita-se ao relato da ocorrência de M. javanica em oliveiras no Rio Grande do Sul em 1974 e à presença de M. incognita raça 1 e de Helicotylenchus dihystera em área do núcleo de produção de mudas e matrizes da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), localizada em São Bento do Sapucaí, São Paulo, em 2005. Apesar de ter sido um novo relato de M. incognita raça 1, essa espécie foi detectada em baixo nível populacional, não sendo observados sintomas de declínio nas plantas cultivadas no local.
Com o crescimento do cultivo de oliveiras no estado de São Paulo, foi formado um grupo multidisciplinar com pesquisadores ligados à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, como APTA – Polo Centro Sul, Instituto Agronômico (IAC), de Tecnologia de Alimentos (Ital) e o Instituto Biológico (IB), que elaboraram o projeto denominado Oliva SP (http://www.apta.sp.gov.br/olivasp), voltado ao estudo das etapas da cadeia produtiva da cultura (fitotecnia), incluindo os aspectos fitossanitários da cultura de oliveira.
Um dos objetivos do grupo Oliva SP foi promover o levantamento de espécies de nematoides fitoparasitos associados ao cultivo de oliveira em 14 municípios do estado de São Paulo: Bom Sucesso do Itararé, Cabreúva, Cunha, Ibiúna, Itatiba, Lindoia, Pedra Bela, Piedade, Pindamonhangaba, Pilar do Sul, Santo Antônio do Pinhal, São Bento do Sapucaí, São Pedro e Serra Negra. Nessas localidades, amostras nematológicas foram coletadas, os nematoides foram extraídos de 250cm3 de solo e 10g de raízes, e a identificação foi realizada em microscopia de luz com auxílio de outras técnicas (eletroforese de isoenzima/esterase e PCR), no laboratório de nematologia do Instituto Biológico, em Campinas, São Paulo.
Com base nesse levantamento, foram identificadas 11 espécies de nematoides (Figura 1), observando-se a prevalência de Helicotylenchus dihystera, presente em 88% das amostras coletadas, seguido por Pratylenchus brachyurus, presente em 53% das amostras. Algumas espécies identificadas constituíram novas ocorrências para oliveira no Brasil: H. erithrinae, P. brachyurus, P. zeae, Xiphinema diffusum, X. krugi, X. surinamense e X. variegatum. Além dessas espécies, X. santos foi identificada por análise morfométrica, morfológica e molecular, no município de Bom Sucesso de Itararé, São Paulo, sendo a primeira ocorrência dessa espécie em associação às oliveiras no Hemisfério Sul e fora dos continentes Europeu e Africano, ampliando sua abrangência geográfica.
Vale salientar que algumas cultivares de oliveira apresentaram sintomas característicos, como a espécie M. javanica que causou galhas bem definidas nas raízes das cultivares Arbequina e Koroneiki, e P. brachyurus que provocou lesões necróticas acentuadas nas raízes das cultivares Arbequina, Arbosana, Koroneiki e Maria da Fé, prejudicando o desenvolvimento de algumas plantas.
Outro fator observado nos olivais brasileiros e que merece atenção é o consórcio entre cultivo de oliveira com plantas anuais na entre linha ou em bordadura. Por exemplo, plantas das cultivares Arbequina e Arbosana apresentavam sintomas de desenvolvimento reduzido com raízes necróticas, falha de estande e um elevado número de P. brachyurus, provavelmente decorrente do aumento da população existente no local devido à situação do consorciamento com feijão, milho e braquiária, plantas tidas hospedeiras dessa espécie. Em outra área, as cultivares Arbequina, Grapollo, Koroneiki e Maria da Fé cultivadas em meio à braquiária apresentavam alto nível populacional de P. brachyurus, acarretando problemas no desenvolvimento das plantas. Também foi possível observar plantas como abóbora, batata-doce e quiabo altamente infestadas com Meloidogyne spp. na bordadura de olivais, aumentando o nível populacional desse nematoide na área, podendo levar ao agravamento desse problema no futuro.
É inegável que, dentre as medidas disponíveis de controle de fitonematoides, aquelas de caráter preventivo são mais eficientes e econômicas quando comparadas aos tratamentos curativos. O controle preventivo tem como estratégias principais a utilização de mudas isentas de nematoides e plantio em áreas não infestadas, cuja informação é obtida por meio da prévia análise nematológica do solo e raízes da cultura antes de estabelecida na área a ser cultivada.
Como ressaltado em muitas publicações sobre nematoides em diferentes culturas perenes, o principal modo de introdução de fitonematoides em áreas de cultivo se dá através de mudas contaminadas. Dessa forma, o uso de mudas certificadas é crucial para evitar a introdução e disseminação, conforme destacado pelo Professor Ailton Rocha Monteiro (Esalq-USP), em 1981: “Não se deve plantar nematoides”. No caso de cultivos irrigados, evitar o uso de água contaminada. O manuseio de implementos e máquinas agrícolas merece atenção especial, principalmente ao serem utilizados em áreas infestadas. Devem ser devidamente desinfestados antes de serem utilizados em outras áreas de plantio indenes. Com isso, o trânsito de máquinas e pessoas de áreas infestadas para sadias deve ser monitorado constantemente.
As informações de cultivares de oliveiras resistentes a nematoides ainda são bem escassas. No entanto, estudos europeus e nacionais demonstraram que algumas cultivares comportaram-se como resistentes a espécies de Meloidogyne. Na Tabela 1 estão listadas as cultivares de oliveiras com essa resistência.
Controle químico
Não há registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de nematicidas na cultura da oliveira.
O incremento de material orgânico, além de melhorar as relações físico-químicas do solo, favorece o crescimento das plantas, tornando-as mais tolerantes ao ataque de nematoides. Também propicia o crescimento das populações de inimigos naturais dos nematoides. Além disso, a decomposição da matéria orgânica libera compostos altamente tóxicos aos fitonematoides.
O manejo de plantas daninhas é essencial, evitando que os nematoides das galhas ou das lesões sobrevivam ou se multipliquem nessas plantas.
O uso de técnicas de solarização do solo também tem sido eficaz para a desinfestação contra os nematoides em viveiros de mudas.
A análise laboratorial é imprescindível para o diagnóstico da presença e identificação dos fitonematoides na área. A coleta de amostra para análise e a escolha de um bom laboratório são fundamentais para o manejo da área.
Considerando que os principais nematoides parasitam as raízes de oliveira, o bom senso deve prevalecer na coleta e envio de amostras nematológicas. O ideal é coletar a amostra na projeção da copa da oliveira. O solo deve ser aberto com auxílio de um enxadão em profundidade de 20cm a 30cm, coletando-se solo e principalmente raízes mais finas. Assim, pelo menos dez subamostras por hectare devem ser coletadas, totalizando uma amostra composta de aproximadamente 1kg de solo (com a umidade natural) e 50g de raízes.
Preferencialmente, as raízes devem ser encaminhadas envolvidas na mistura de solo para não ressecar. As amostras (solo + raízes) devem ser acondicionadas em sacos plásticos resistentes e encaminhadas com brevidade para análise. As amostras devem ser corretamente identificadas com as seguintes informações: local e data de coleta, nome da planta (cultivar), propriedade e proprietário, endereço para envio do resultado e telefone para contato. O Instituto Biológico está capacitado para receber as amostras e realizar a identificação dos nematoides - http://www.biologico.sp.gov.br/page/produtos-e-servicos/exames/exames---area-de-sanidade-vegetal.
Juliana Magrinelli Osório Rosa, Claudio Marcelo Gonçalves de Oliveira, Instituto Biológico, Centro Avançado de Pesquisa em Proteção de Plantas e Saúde Animal, Laboratório de Nematologia
A cada nova edição, a Cultivar Hortaliças e Frutas divulga uma série de conteúdos técnicos produzidos por pesquisadores renomados de todo o Brasil, que abordam as principais dificuldades e desafios encontrados no campo pelos produtores rurais. Através de pesquisas focadas no controle das principais pragas e doenças do cultivo de hortaliças e frutas, a Revista auxilia o agricultor na busca por soluções de manejo que incrementem sua rentabilidade.
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura