Matricídio no formigueiro: rainhas invasoras manipulam operárias

Pesquisadores identificam comportamento inédito em formigas parasitas temporárias

18.11.2025 | 15:10 (UTC -3)
Revista Cultivar
Imagens: doi.org/10.1016/j.cub.2025.09.037
Imagens: doi.org/10.1016/j.cub.2025.09.037

Rainhas de duas espécies de formigas parasitas encontraram uma maneira de conquistar colônias rivais sem recorrer à força bruta. Em vez de matar diretamente a rainha residente, essas invasoras usam uma substância química para convencer as operárias a eliminarem sua própria mãe.

Estudo científici documenta esse tipo de manipulação. O fenômeno foi observado nas espécies Lasius orientalis e Lasius umbratus, que invadem colônias das espécies Lasius flavus e Lasius japonicus, respectivamente.

O plano da invasora

A rainha parasita entra na colônia adversária de forma furtiva. Evita ser reconhecida como intrusa ao se cobrir com o odor característico do ninho. Em seguida, localiza a rainha legítima e lança vários jatos de um fluido abdominal com cheiro forte. Esse líquido, provavelmente ácido fórmico, altera o cheiro da rainha anfitriã. As operárias, que identificam seus membros principalmente pelo olfato, passam então a tratar a própria mãe como uma inimiga.

A resposta é imediata. As operárias atacam e matam a rainha do ninho. A parasita se afasta durante a confusão e retorna apenas depois do fim da agressão. Então, passa a receber cuidados das operárias órfãs, que agora cuidam de seus ovos como se fossem os da antiga soberana.

Um tipo raro de parasitismo social

O comportamento descrito pertence a uma forma conhecida como “parasitismo social temporário”. Nele, a rainha invasora assume o comando da colônia após a morte da rainha original. Esse tipo de estratégia exige eliminar a chefe protegida por dezenas ou centenas de operárias, o que representa um desafio significativo.

Historicamente, os casos conhecidos envolviam a eliminação direta. A rainha parasita matava a rival com mordidas no pescoço ou arrancava suas antenas e membros. Esses ataques expunham a invasora a riscos altos. Operárias normalmente defendem sua rainha com agressividade. O novo método evita confronto direto e reduz os riscos para a parasita.

Manipulação e convergência evolutiva

Segundo os autores do estudo, Taku Shimada, Yuji Tanaka e Keizo Takasuka, os ataques só acontecem após a aplicação do fluido. Isso indica que a morte da rainha não depende da presença constante da invasora. A substância atua como um gatilho para a agressão.

Embora o ácido fórmico seja um suspeito lógico -- por estar presente no grupo Formicinae, que inclui o gênero Lasius -- a composição exata do líquido ainda não foi confirmada por análise química. Mesmo assim, os resultados apontam para um mecanismo de manipulação comportamental sofisticado, que convergiu evolutivamente em diferentes linhagens.

As duas espécies estudadas não são próximas no grupo das formigas. Ambas parecem ter desenvolvido essa estratégia de forma independente. Isso reforça a ideia de que a manipulação química oferece vantagens evolutivas em certos contextos.

Matricídio sem benefício direto

Casos de matricídio são raros na natureza. Quando ocorrem, costumam envolver alguma vantagem para os descendentes. Em alguns aracnídeos, por exemplo, a mãe oferece o próprio corpo como alimento. Em vespas e abelhas sociais, operárias às vezes eliminam a rainha para produzir seus próprios ovos.

Nas formigas descritas, esse padrão não se repete. As operárias não ganham nada ao matar a mãe. Pelo contrário, acabam servindo à invasora e cuidando de seus descendentes. O único beneficiado é a nova rainha, que assume uma colônia sem precisar fundá-la do zero.

Outras informações em doi.org/10.1016/j.cub.2025.09.037

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