Planejamento pode evitar perdas por geada no trigo
A previsão de um inverno com temperaturas amenas e precipitações na média histórica pode favorecer o cultivo do trigo na Região Sul
Doença de importância mundial, a pinta preta ocorre em especial nas áreas tropicais e subtropicais, podendo causar elevadas perdas. Nos últimos anos, a doença também tem crescido em importância na América do Norte, Europa e Ásia, causando perdas consideráveis na produção. Alguns autores têm atribuído a crescente importância da pinta preta às mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global.
A pinta preta é caracterizada pela redução prematura da área foliar, a queda de vigor das plantas, a quebra de hastes, a redução do ciclo e as quedas significativas no rendimento e na qualidade. O aumento de suscetibilidade à doença está geralmente associado à maturidade dos tecidos, ao florescimento e ao período de formação e crescimento dos tubérculos e frutos. Nessa fase, a maior demanda de nutrientes e fotoassimilados exigidos torna as folhas maduras mais vulneráveis à doença.
A pinta preta é caracterizada por manchas foliares necróticas, circulares, elípticas ou angulares, pardo-escuras, isoladas ou em grupos, com a presença de anéis concêntricos, bordos bem definidos, podendo apresentar ou não halo amarelado ao redor. O aumento da intensidade da doença no campo ocorre tanto pelo surgimento de novas lesões como pela expansão das mais velhas, que podem coalescer, destruindo todo o limbo foliar. As lesões em hastes e pecíolos podem surgir em plantas adultas e caracterizam-se por serem pardas, mais alongadas, deprimidas, apresentando ou não halos concêntricos. Em tubérculos de batata as lesões são castanho-escuras, de formato irregular, deprimidas e tendem a provocar podridão seca. Nos frutos de tomate, as lesões se localizam na região peduncular, são escuras, deprimidas, concêntricas e recobertas por um mofo negro constituído por frutificações (conídios e conidióforos) do patógeno. As sementes originadas de frutos com sintomas de pinta preta geralmente são contaminadas por Alternaria spp., sendo comum a ocorrência de falhas de germinação e/ou tombamento de mudas jovens.
Por muito tempo o fungo Alternaria solani foi considerado como o agente causal da pinta preta em batata e tomate por inúmeros autores. Atualmente, pesquisas vêm indicando que outras espécies também estão associadas à doença. Em batata, por exemplo, a doença também pode estar associada a outras espécies do gênero, como A. grandis e Alternaria alternata. Em tomate, além de A. solani, ocorrem as espécies Alternaria linariae (sin: A. tomatophila), que pode afetar folhas, pecíolos, caules e frutos, e A. alternata, que é mais frequentemente associada a caules e frutos. Em inoculações artificiais, A. grandis foi patogênica ao tomateiro e A. linariae à batateira.
No Brasil, a ocorrência de A. alternata é conhecida há algum tempo, porém a de A. grandis é recente. As espécies diferem quanto ao tamanho e à morfologia dos conídios, que só podem ser observados com o auxílio de um microscópio óptico. Os conídios de A. solani são geralmente individuais, ovais, podendo apresentar variações longas, curtas, largas e estreitas. Os conídios com apêndices únicos são longos, ovoides ou elipsoides, com comprimento de 109µm a 115µm e largura entre 18µm e 26µm e um apêndice de 80µm a 118µm. Conídios com dois apêndices podem atingir tamanhos de 80µm a 106µm e 16µm a 21µm de largura, acrescidos de um primeiro apêndice com 58µm a 88µm de comprimento e um segundo com 64µm a 88µm. Apresentam coloração palha, parda, marrom-oliváceo ou ouro-claro, com sete a 11 septos transversais e poucos ou nenhum longitudinais. Os conídios são inseridos em conidióforos septados retos ou sinuosos que ocorrem isolados ou em grupos, com 6µm a 10µm de diâmetro e 100µm a 110µm de comprimento e coloração idêntica aos conídios. A. alternata apresenta conídios em forma de clava ou pera invertidos, ovoides ou elipsoides, formados em longas cadeias catenuladas, com apêndices curtos, cilíndricos ou cônicos, e comprimento inferior a um terço do corpo, possuindo até oito septos transversais e vários longitudinais ou oblíquos. A. grandis possui conídios com morfologia semelhante a A. solani, porém com dimensões 50% a 100% maiores. Os conídios com apêndice único são longos, ovoides ou elipsoides com comprimento de 141µm a 192µm e largura entre 26µm e 38µm e um apêndice de 160µm a 200µm. Conídios com dois apêndices possuem corpos na faixa de 128µm a 198µm e 24µm a 30µm de largura, acrescido de um apêndice com 99µm a 160µm de comprimento e um segundo com 64µm a 88µm.
A ocorrência das três espécies pode variar em função da localidade. Na Europa observa-se que a doença é causada pelo complexo A. solani e A. alternata, enquanto que nos Estados Unidos prevalece a ocorrência de A. solani em relação a A. grandis. No Brasil, estudos recentes têm sugerido predominância da espécie A. grandis.
Mundialmente, novas espécies do gênero Alternaria têm sido descritas associadas à cultura da batata como Alternaria infectoria, Alternaria alborescens, A. protenta e Alternaria tenuissima. Essas espécies ainda não foram descritas no Brasil.
Fungos do gênero Alternaria podem sobreviver entre um cultivo e outro em restos de cultura, em solanáceas suscetíveis ou no solo na forma de micélio, esporos ou clamidósporos. Os conídios caracterizam-se por serem altamente resistentes a baixos níveis de umidade, podendo permanecer viáveis por até dois anos nestas condições. Havendo umidade e calor suficientes, os conídios germinam e infectam as plantas rapidamente, podendo o fungo penetrar diretamente pela cutícula ou através de estômatos. Após a penetração, os sintomas da doença são evidentes de quaro a sete dias após o início da infecção.
A ocorrência da pinta preta está associada a temperaturas na faixa de 22ºC a 32ºC, elevada umidade e alternâncias de períodos secos e úmidos. A doença é mais severa em verões chuvosos, mas em muitos locais também pode ocorrer no inverno, desde que haja condições favoráveis. Plantas sujeitas a desequilíbrios nutricionais, estresses causados por rizoctoniose, viroses, nematoides e pragas ou cultivadas em solos pobres em matéria orgânica são mais suscetíveis à doença.
A disseminação da pinta preta ocorre principalmente pelo plantio de sementes e mudas contaminadas, de batata-semente infectada, pela ação de ventos, água de chuva e irrigação e também pela circulação de pessoas e equipamentos agrícolas.
Os fungos A. solani e A. alternata também podem estar associados a outros cultivos como do tomateiro (Solanum lycopersicum L.), pimentão (Capsicum annuum L.), berinjela (Solanum melongena L.), petúnia (Petunia hybrida Hort.), tabaco (Nicotiana tabacum L.) e plantas invasoras como falso joá-de-capote (Nicandra physaloides L.), joá-de-capote (Physalis angulata L.), maria-pretinha (Solanum americanum L.), Amaranto (Amaranthus spp.) e picão-branco (Galinsoga parviflora).
• Escolha do local de plantio;
Evitar os plantios em áreas sujeitas ao acúmulo de umidade, circulação de ar limitada e próximos a lavouras em final de ciclo;
• Plantio de batatas-sementes, mudas e sementes sadias;
• Plantio de cultivares/híbridos tolerantes.
Em geral, as cultivares e os híbridos de tomate são considerados suscetíveis à mancha-de-alternária, no entanto, nos últimos anos alguns híbridos como Minotauro, Laura F1 e Mariana, têm sido apresentados como tolerantes à doença.
Resistentes: Ibituaçu, Aracy, Aracy Ruiva, Apuã, Éden, Monte Alegre 172.
Moderadamente resistentes: APTA 16.5, Asterix, Catucha, Cupido, Itararé, Delta, Ágata, Eliza, Novella, APTA 21.54, Baronesa, Baraka, Itararé, Ana, Clara, Cristal, SCS 365 – Cota, BRSIPR, Bel Amorosa, Armada, El Paso, Fontane, Innovator, Maranca, Marlen e Sinora.
Moderadamente suscetíveis: Atlantic, Asterix, Monalisa, Melody, Vivaldi, Caesar, Colorado e APTA 12.5.
Suscetíveis: Achat, Ágata, Almera Arrow, Bintje, Markies, Vivaldi e Mondial.
A suscetibilidade dos materiais citados pode variar em função de condições climáticas, espécies do patógeno existente na área, pressão de doença, época de plantio, espaçamento adotado, nutrição das plantas etc.
• Adubação equilibrada
Deficiências de nitrogênio causam a senescência prematura das plantas, tornando-as mais suscetíveis. Níveis adequados de potássio, magnésio e matéria orgânica no solo aumentam o vigor e a longevidade das plantas e podem reduzir a severidade da pinta preta, enquanto a deficiência de fósforo pode aumentá-la.
• Impedir o plantio sucessivo de solanáceas
Recomenda-se a rotação de culturas com gramíneas por intervalos de três a quatro anos.
• Evitar plantios adensados
A adoção de espaçamentos mais amplos e a adoção de condução vertical no caso do tomateiro podem reduzir a ocorrência da doença, por evitar o acúmulo de umidade nas folhas.
• Uso de filmes plásticos anti-UV em cultivo protegido de tomate
A redução da radiação UV no interior das estufas diminui a esporulação de Alternaria spp., desfavorecendo epidemias da pinta preta.
• Eliminar e destruir os restos culturais, tubérculos doentes e descartes
Tem por objetivo reduzir as fontes de inóculo e consequentemente diminuir a ocorrência da doença.
• Irrigação controlada
Evitar longos períodos de molhamento foliar é fundamental para o manejo da pinta preta. Para tanto, deve-se: evitar irrigações noturnas ou em finais de tarde; minimizar o tempo e reduzir a frequência das regas em campos com sintomas ou enquanto as condições forem muito favoráveis. A adoção de sistemas de irrigação localizada pode reduzir a ocorrência da doença.
• Evitar tratos culturais quando a folhagem estiver úmida
Essa medida tem o objetivo de evitar a propagação da doença para plantas não infectadas.
• Eliminação de hospedeiros intermediários e plantas voluntárias
A medida tem por objetivo eliminar possíveis fontes de inóculo.
• Vistoria constante da cultura
Tem por objetivo identificar focos da doença para facilitar e agilizar a tomada de decisões.
• Aplicação de fungicidas
Utilizar produtos registrados junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) sempre de acordo com as orientações do fabricante.
• Controle biológico
Formulações à base de Bacillus pumilus e Bacillus amyloliquefaciens têm sido recomendadas para o controle da pinta preta nas culturas de batata e tomate.
Ricardo J. Domingues, Jesus G. Töfoli, Secretaria da Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Instituto Biológico
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