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Houve aumento na frequência das precipitações em dezembro no Rio Grande do Sul (RS), porém, foram irregulares espacialmente. Na Metade Sul, os acumulados totais do mês ficaram entre 50 e 100mm, com exceção da Fronteira Oeste, que teve valores entre 100 e 150mm (Figura 1A).
Observa-se, pela figura 2, que as precipitações ocorreram em momentos diferentes em alguns locais do Estado. Por exemplo, o município de Camaquã teve registro de chuvas na primeira quinzena do mês. Já Alegrete registrou quatro eventos de chuva bem espaçados entre si. Contudo, mesmo com a maior frequência das precipitações, o acumulado total foi abaixo da média climatológica (Figura 1B).
A falta de regularidade e os baixos volumes de chuva tem preocupado os produtores da Metade Sul do Estado, visto que os reservatórios, que não estavam com 100% da capacidade no início da safra, baixaram o nível com a intensificação da irrigação nas lavouras de arroz.
Figura 1) Mapa da precipitação acumulada (A) e da anomalia da precipitação (B) durante o mês de dezembro de 2020 em relação à média climatológica no RS. As escalas de cores indicam, em mm, o acumulado de precipitação (A) e a anomalia de precipitação (B), onde valores positivos (azul) indicam precipitação acima da média e valores negativos (laranja-vermelho) indicam precipitação abaixo da média. Fonte de dados: CPTEC/INMET.
A média mensal das temperaturas ficou dentro do normal em dezembro. Na figura 2 tem-se as temperaturas diárias, que oscilaram durante o período, sendo registradas temperaturas mínimas próximas de 10°C no terceiro decêndio do mês e temperaturas máximas próximas de 40°C no primeiro decêndio.
Figura 2) Temperatura máxima e mínima diária (°C), suas respectivas normais climatológicas (NC) (°C) e precipitação pluvial diária (mm) referentes a dezembro de 2020, em alguns municípios da Metade Sul do RS, que representam as seis regionais do Irga. Fonte de dados: INMET.
Situação atual do fenômeno ENOS (El Niño-Oscilação Sul) e perspectivas
Segundo o último relatório da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), divulgado no dia 14 de janeiro, La Niña deve se manter no trimestre fevereiro, março e abril, com 80% de probabilidade, devendo entrar em fase de Neutralidade no trimestre abril, maio e junho, com probabilidade de 55%. Ainda segundo a NOAA, o sistema acoplado oceano-atmosfera esteve consistente com a fase fria do ENOS (La Niña), indicando sua continuação.
Pelo mapa da anomalia da Temperatura da Superfície do Mar (TSM), observa-se que as águas do Oceano Pacífico Equatorial se mantiveram mais frias que o normal durante dezembro (Figura 3). As anomalias nas quatro regiões do Pacífico foram de: -0,7°C, -0,8°C, -1,0°C e -0,8°C, nas regiões do Niño1+2, Niño 3, Niño 3.4 e Niño 4, respectivamente. O valor do último trimestre (outubro, novembro e dezembro) foi de -1,3°C.
Analisando os dados semanais da anomalia da TSM na região Niño3.4, os valores mais baixos ocorreram em novembro de 2020, indicando que a fase mais intensa do fenômeno já passou. Mas, os efeitos sempre são sentidos depois, por isso, a irregularidade nas precipitações ainda deverá ser observada neste verão.
A temperatura das águas do Oceano Atlântico Sul apresentou anomalias positivas em dezembro, como mostra a figura 3, devendo continuar assim no decorrer de janeiro. Este é um ponto positivo, visto que estas águas mais aquecidas fornecem maior quantidade de calor e umidade à região, favorecendo as chuvas no RS.
Figura 3) Anomalia da Temperatura da Superfície do Mar no mês de dezembro de 2020. O retângulo central na imagem mostra a região do Niño3.4, a qual os centros internacionais utilizam para calcular o Índice Niño (índice que define eventos de El Niño e La Niña). Já o retângulo menor mostra a região Niño 1+2, que modula a qualidade, ou seja, a regularidade das chuvas no Estado. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.
A temperatura das águas subsuperficiais também é monitorada e, pelo que mostram os dados, parece estar estável (Figura 4). Isso indica que o resfriamento em superfície deverá se manter nos próximos meses, dando continuidade à La Niña.
Figura 4) Anomalia da temperatura subsuperficial das águas na região Equatorial do Oceano Pacífico (°C) em relação à profundidade (de 0 a 300 m). Pêntadas significam média de cinco dias consecutivos. Fonte: Adaptado de CPC/NCEP/NOAA.
Precipitação no trimestre fevereiro, março e abril de 2021
Como vinha sendo comentado nos últimos boletins, a frequência das precipitações foi maior em dezembro e em meados de janeiro, quando comparada ao mesmo período da safra passada.
Esta tendência deverá continuar nos próximos meses, mesmo que a média mensal da precipitação não chegue ao valor da normal climatológica. Ou seja, assim como na safra 2019/2020, a safra 2020/2021 também será de chuvas abaixo da média, porém esta safra terá mais episódios de precipitação, fazendo com que os efeitos da estiagem sejam amenizados.
Para o trimestre fevereiro, março e abril de 2021, as precipitações ocorrem, mas ainda serão irregulares. A última semana de janeiro e os primeiros dias de fevereiro serão de dias com instabilidade no Estado, com as chamadas chuvas de verão que, em alguns locais, poderá acumular boa precipitação.
Para fevereiro, a previsão do INMET mostra que o acumulado mensal ficará abaixo da média climatológica. O volume total de precipitação deverá ficar abaixo dos 70mm na maioria das regiões.
Em março, a Zona Sul e o norte do RS poderão ficar com precipitação acumulada acima do normal. Os valores acumulados deverão ficar entre 160 e 200mm no Norte e entre 100 e 130mm na maioria das regiões da Metade Sul do Estado.
Já para abril, as chuvas deverão ocorrer em menores volumes,com acumulado mensal abaixo da média. Apenas em parte das Planícies Costeira Interna e Externa os valores acumulados poderão se aproximar da normal climatológica. A precipitação acumulada prevista para o mês de abril na Zona Sul deverá ficar abaixo de 60mm, na Campanha entre 60 e 80mm e nas demais regiões deverá variar entre 80 e 130mm.
Embora as precipitações tenham ocorrido de forma mais regular, devendo continuar nos próximos três meses, ainda assim, a expectativa é de que o acumulado trimestral seja inferior à normal climatológica. Não se pode descartar, inclusive, algum período de 15-20 dias sem chuva.
Com isso, deve-se manter o alerta para deficiência hídrica e cautela no uso da água, visto que algumas regiões estão com problemas para abastecimento das lavouras de arroz e também para a população.
Déficit hídrico de 2020
O ano de 2020 foi marcado pela deficiência hídrica no RS. Ou seja, choveu menos do que o esperado. O Estado teve acumulado anual de precipitação abaixo da normal climatológica, como mostram os dados de alguns locais (Figura 5). Destaca-se, alguns municípios onde o déficit de precipitação durante o ano ficou próximo, ou superior, a 500mm: Bagé, Cruz Alta, Encruzilhada do Sul, Iraí, Santa Maria e São Luiz Gonzaga.
Figura 5) Precipitação anual observada (mm) em 2020, Normal Climatológica (NC, período 1981-2010) e diferença entre a precipitação observada e a NC em 14 locais do Estado, localizados no RS. Fonte: INMET.
Na Figura 6 estão os acumulados mensais de precipitação em alguns locais da Metade Sul do RS. Observa-se que em apenas alguns meses, principalmente os de inverno, a precipitação observada foi superior à normal climatológica.
Figura 6) Precipitação mensal observada (mm) em 2020, Normal Climatológica (NC, período 1981-2010) e diferença entre a precipitação observada e a NC, em oito locais da Metade Sul, localizados na região arrozeira do Estado. Fonte: INMET.
Com um ano inteiro marcado pela deficiência hídrica, em que os reservatórios não se recuperaram totalmente e no início da safra de verão o solo também não tinha bom nível de umidade, dificultando a implantação e o estabelecimento de algumas lavouras, os efeitos negativos da estiagem foram sentidos mais cedo na safra 2020/2021, se comparado à safra anterior.
Jossana Ceolin Cera é meteorologista, doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM e consultora do Irga
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