Inverno mais seco pode favorecer qualidade do café, mas prejudicar pastagens

Início do inverno influencia produções agrícolas por todo Brasil

20.06.2016 | 20:59 (UTC -3)
Williams Ferreira, Marcelo Ribeiro e Domingos Queiroz

Hoje às 19h34min terá início o inverno, que do ponto de vista meteorológico, é a estação mais fria do ano. As temperaturas médias ao longo do inverno variam muito em função da localização geográfica e altitude das localidades. Em regra, geralmente as temperaturas mais frias ocorrem quanto mais distante se encontra a localidade da região equatorial. Caracterizado também por ser uma estação mais seca, o inverno é fundamental para o cultivo de algumas plantas que necessitam de baixas temperaturas para seu desenvolvimento.

O fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS)

Assim como previsto anteriormente, nos últimos dias as principais variáveis atmosféricas monitoradas que são associadas aos fenômenos ENOS, bem como as temperaturas do Oceano Pacífico, indicaram condições neutras desse fenômeno. Atualmente a maioria dos modelos de previsão indicam condições favoráveis ao desenvolvimento imediato de um novo fenômeno La Niña, possivelmente de fraca intensidade, a partir de agosto, que pode perdurar no próximo verão.

Chuvas em julho

As chuvas ficarão um pouco abaixo da média na mesorregião oeste e norte pioneiro do Paraná e para a região central de São Paulo. Em Minas Gerais também há probabilidade de chuva abaixo da média para a mesorregião do Vale do Rio Doce, Mucuri, Jequitinhonha, parte norte da Zona da Mata a partir da microrregião de Manhuaçú. A mesma situação está prevista para a porção norte e noroeste fluminense, todo o Espírito Santo, parte sul e nordeste da Bahia, todo estado do Sergipe e de Alagoas, região agreste de Pernambuco até o litoral, região de Borborema até o litoral da Paraíba, todo o Rio Grande do Norte, parte norte, noroeste e dos sertões do Ceará. Chuvas abaixo da média também em todo o Amapá, região do baixo Amazonas no Pará, na Ilha de Marajó, na região norte do Amazonas e no centro amazonense, em todo o estado de Roraima. Chuvas acima da média em todo o estado de Santa Catarina e Rio Grande do Sul com exceção neste último da região sudoeste do estado.

Chuvas no inverno

Considerando os valores médios de chuva que ocorre durante o inverno, há aproximadamente 40% de probabilidade de serem abaixo da média na mesorregião do leste do Mato Grosso do Sul, leste goiano, extremo oeste baiano, sudoeste do Piauí, a região de São Francisco e do sertão Pernambucano, para todo o estado do Paraná, São Paulo e em Minas Gerais, com exceção nesse último das mesorregiões do Jequitinhonha, Mucuri e Vale do Rio Doce, e nos municípios de Grão Mogol, Janaúba e Salinas na mesorregião do Norte de Minas. Para valores acima da média, há aproximadamente entre 50% a 60% de probabilidade de que as chuvas ocorram acima da média somente na parte próximo ao litoral na região sul da Bahia.

Temperaturas em julho

Para o mês de julho as temperaturas deverão ocorrer acima da média em quase todo o Brasil com exceção da mesorregião do Vale do Acre, onde encontram-se os municípios de Sena Madureira, Rio Branco e Brasiléia, do estado do Mato Grosso do Sul e das mesorregiões de Araçatuba e Presidente Prudente em São Paulo, no noroeste paranaense e em Frutal no Triângulo Mineiro, que deverão apresentar temperaturas abaixo da média do mês.

O café

Em anos típicos (climatologia normal), no início do outono ocorre a redução do número de horas de luz solar e da temperatura influenciando diretamente no metabolismo da planta de café. Já no inverno essas características climáticas são acentuadas ocorrendo também a redução das chuvas, provocando a redução do potencial hídrico do solo. Esse conjunto de condições do clima conduzem as plantas a entrarem em repouso, período caracterizado pela emissão de, em média, um ou dois pares de folhas pequenas.

É nesse período que as gemas amadurecem e aguardam a chegada das condições climáticas favoráveis para o florescimento, fato esse que é identificado como delimitador dos anos fenológicos da planta. Todavia, o último mês de maio e o atual mês de junho têm sido marcados pela entrada mais frequente de frentes frias que chegaram com grande intensidade, trazendo chuvas para as regiões cafeeiras de Minas Gerais. Deste modo, as chuvas do presente outono (que se encerra hoje, dia 20) surpreenderam as expectativas ocorrendo acima da média, fazendo, assim, com que não houvesse redução no potencial hídrico do solo, assegurando às plantas umidade suficiente para a manutenção do bom desenvolvimento vegetativo.

Esse aumento vegetativo inesperado tem proporcionado maior sombreamento nos frutos, principalmente da parte mais interna e basal (mais baixa) das plantas, contribuindo para o aumento demasiado da desuniformidade na maturação dos frutos na planta de café. Tal fato contribui para uma maior proporção de cafés colhidos verdes, reduzindo a possibilidade de produção de cafés cereja descascado, e afetando assim a qualidade final da bebida. As chuvas acima da média também contribuíram para a redução da qualidade da bebida dos cafés que foram secos em terreiros.

Diante da probabilidade de ocorrência de chuvas abaixo da média para os próximos meses do inverno e com a possibilidade do amadurecimento dos cafés da parte inferior das plantas, é esperado que os cafés colhidos daqui para frente possam contribuir para a produção de grãos de melhor qualidade. Na possibilidade de que tal fato não ocorra, a atual safra terá baixa produção de cafés de qualidade o que poderá contribuir para o aumento no preço dos cafés de qualidade superior.

Pastagens

Em algumas regiões as baixas temperaturas de inverno inibem o crescimento dos capins tropicais, tais como asBrachiarias e Panicuns. Essas baixas temperaturas, quando associadas à falta de chuvas, contribuem para a redução da forragem disponível nas das pastagens para a alimentação de bovinos, indicando o momento do pecuarista entrar com a suplementação volumosa à base de silagem, cana-de-açúcar ou feno para a alimentação do rebanho.

Nas regiões em que ocorrem eventos de chuvas mesmo durante o inverno, como no Sul do Brasil, pode-se lançar mão da sobressemeadura com forrageiras temperadas (aveia, azevém, trevos, etc) em cima do capim tropical. Tal fato permite assegurar o pastejo, ofertando um pasto de alta qualidade.

Nas regiões Sudeste e Centro-oeste, em que a precipitação é muito reduzida nessa estação, a sobressemeadura com forrageiras temperadas só e possível em pastos irrigados. Mas, mesmo no Sudeste e Centro-oeste, em regiões de baixa altitude (abaixo de 400 a 500m), em que a temperatura mínima não é inferior a 15ºC, somente a irrigação e a adubação do pasto tropical podem dar boas respostas em produção de forragem. As chuvas recentes do final do outono, em volumes bastante razoáveis em algumas regiões do Sudeste e Centro-oeste, possibilitaram um pequeno prolongamento na estação de pastejo, todavia, a necessidade da suplementação volumosa permanece importante para evitar a degradação do pasto já muito rebaixado, o que pode comprometer a rebrotação na próxima primavera.

Para aqueles produtores que já estão adotando a integração lavoura-pecuária, as chuvas deste final de outono foram muito importantes para potencializar o crescimento do pasto que sucedeu o milho e sofreu com a falta de chuvas entre março e abril.

O prognóstico

A análise e o prognóstico climático aqui apresentados foi elaborada com base na estatística e no histórico da ocorrência de fenômenos climáticos globais, principalmente daqueles atuantes na América do Sul. Foram consideradas ainda as informações disponibilizadas livremente pelo NOAA; Instituto Internacional de Pesquisas sobre Clima e Sociedade — IRI; Met Office Hadley Centre; Centro Europeu de Previsão de Tempo de Médio Prazo — ECMWF; Boletim Climático da Amazônia elaborado pela Divisão de Meteorologia (DIVMET) do Sistema de Proteção da Amazônia (SIPAM) e com base nos dados climáticos disponibilizados pelo INMET/CPTEC-INPE. Pelo fato do prognóstico climático fazer referência a fenômenos da natureza que apresentam características caóticas e são passíveis de mudanças drásticas, a EPAMIG e a Embrapa Café não se responsabilizam por qualquer dano e, ou, prejuízo que o usuário possa sofrer, ou vir a causar a terceiros, pelo uso indevido das informações contidas na presente matéria. Sendo de total responsabilidade do usuário (leitor) o uso das informações aqui disponibilizadas.

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