O livro “Cultivo de soja e milho em terras baixas do Rio Grande do Sul”, desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) em parceria com a Embrapa Informação Tecnológica (Brasília, DF), reúne orientações técnicas e os avanços científicos para a produção em bases sustentáveis dessas culturas no Estado. A publicação será lançada no dia 26 de agosto, às 13h, no Estande do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), no Pavilhão Internacional da 40ª edição da Expointer, em Esteio/RS. O livro está disponível na Livraria Embrapa ao valor de 40 reais.
As orientações, de modo geral, indicam como conduzir uma lavoura de soja e de milho em terras baixas, principalmente em áreas onde o arroz já é cultivado, de maneira a se estabelecer rotação ou sucessão de culturas. Segundo a pesquisadora Beatriz Emygdio, uma das editoras técnicas, inserir essas culturas em terras baixas demanda técnicas de manejo específicas e adequadas, tendo em vista que apresentam restrições de cultivo nessas áreas.
Na parte de manejo de pragas e doenças e de plantas daninhas, o livro indica como realizar o processo, levando em consideração os produtos permitidos para cada uma das culturas. E no que diz respeito à indicação de cultivares de soja e milho, a pesquisadora ressalta que a ideia não é recomendar cultivares específicas, “mas destacar características e requisitos que aumentem a probabilidade de sucesso nessas áreas”, explica.
Dividida em 14 capítulos, a publicação aborda ainda irrigação e drenagem, rotação e sucessão de culturas, a descrição climática da região e a caracterização dos solos de várzea e terras baixas. Já nos capítulos finais, os autores trazem uma abordagem mais técnico-científica, com foco nos avanços biotecnológicos para desenvolvimento de plantas resistentes aos estresses por encharcamento do solo. “Como temos pouco conhecimento nessa área, especialmente para essas culturas, pensamos em contemplar os avanços em relação aos mecanismos de plantas para tolerância a esse estresse”, destaca Emygdio.
Também participam como editoras técnicas as pesquisadoras Ana Paula Afonso e Ana Cláudia Barneche. A autoria dos capítulos fica a cargo, além da Embrapa Clima Temperado, de pesquisadores da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), Embrapa Soja (Londrina, PR), Instituto Federal Sul-riograndense (IFSul), Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Federal de Pelotas, (UFPel), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Demanda por atualização
A elaboração da publicação ocorreu a partir da necessidade de atualização do livro “Produção de milho e sorgo em várzea”, desenvolvido pela Embrapa Clima Temperado em 2000. A ideia foi contemplar também a soja, que passou a ter importância significativa na Metade Sul do Estado. Todas as culturas em questão têm restrições para cultivo em áreas de arroz irrigado. “Elas não toleram o estresse ao encharcamento que o arroz tolera. Então, precisam de todo um manejo para serem cultivadas”, explica Emygdio.
Terras Baixas
De modo geral, as paisagens em terras baixas são planas e com baixa declividade. Os solos apresentam média fertilidade natural e baixa capacidade de drenagem – o chamado hidromorfismo –, aspecto que acaba por estabelecer um processo de retenção de água e que representa um dos principais desafios para a diversificação da matriz produtiva dessas regiões.
Nessas áreas, as atividades predominantes ainda são o arroz e a pecuária. Somente na Metade Sul do Rio Grande do Sul, o arroz irrigado por inundação ocupa cerca de 1,1 milhão de hectares. Mas, desde 2000 a soja vem ganhando cada vez mais espaço – foram cerca de 2 milhões de hectares na última safra, sendo em torno de 300 mil hectares em terras baixas, segundo dados do Irga.
Cultivo de soja na Metade Sul do RS
Em sete anos, a área de soja nessa região quase dobrou. “Hoje a metade do Sul está sendo considerada a nova fronteira da soja. É uma área de expansão”, afirma a pesquisadora Ana Braneche de Oliveira. Segundolevantamento de agosto de 2017 da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Rio Grande do Sul cultivou 5,5 milhões de hectares na última safra, ocupando a segunda posição dentre os maiores produtores nacionais. “Esse aumento foi devido à expansão da área na Metade Sul”, explica.
De acordo com a pesquisadora, dentre os motivos que contribuíram para o crescimento da cultura estão a soja tolerante a herbicida, que facilitou o manejo principalmente em áreas de arroz; e o controle das plantas daninhas do arroz com a inserção do grão. Já para os pecuaristas que realizam a Integração Lavoura-Pecuária (ILP), a melhoria da qualidade das pastagens é um dos aspectos que chama atenção.
Em comparação com o milho, a pesquisadora afirma que a soja tem vantagens porque, além de ser uma commodity – aspecto que garante preço –, tem custo de lavoura mais baixo e sofre menos com as alterações climáticas da região. A proximidade com o porto também facilita o escoamento. “A soja é um componente importante aqui na região. Entrou tanto na rotação com arroz, como com a integração com a pecuária, que são os principais para nós aqui na Metade Sul. E hoje faz parte do sistema de produção. O produtor ganha dinheiro tanto com a soja quanto com o arroz”, finaliza a pesquisadora.