Anec divulga balanço do desempenho das exportações brasileiras de grãos em março
No acumulado do ano, as exportações de soja somam um volume de 18.3 milhões de toneladas
Mais de mil e quatrocentos produtores rurais, técnicos e consultores agrícolas participaram na sexta-feira (29/03) da 13ª edição do Dia de Campo sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO). “Daqui pra frente só planto consorciado. Já participei de outras edições desse evento e as informações que sempre obtive aqui foram muito úteis para que eu adotasse neste ano o sistema integrado na minha propriedade. Não vejo outra forma de agir”. É o que conta a produtora rural Ludmila de Queiroz, da fazenda Fiuza (Ipameri/GO), uma das participantes do Dia de Campo. Ela adotou em sua fazenda o sistema agropastoril (lavoura+pecuária).
Propriedade hoje vitrine da tecnologia, a Fazenda Santa Brígida começou a mudar sua história em 2006, quando adotou a integração lavoura com pecuária para, inicialmente, renovar o pasto com o custo amortizado pela agricultura. O componente florestal foi inserido no sistema em 2009. Esse histórico da fazenda foi repassado no Dia de Campo por Roberto Freitas, consultor técnico da propriedade. “Antes esse pasto era totalmente degradado. Ao procurar a Embrapa, pesquisadores sugeriram a reforma a custo zero. Isso seria feito com o cultivo da soja, que pagaria a conta”, contou.
Antes de iniciar o plantio, porém, o solo da propriedade foi devidamente corrigido. “Desde o primeiro ano, a soja já apresentou um bom desempenho. Depois disso introduzimos o milho, consorciado com braquiária, que a gente considera que é a alma do nosso processo aqui na fazenda”, afirmou Rodrigues. Segundo ele, com o avanço da fertilidade, foram sendo introduzidos outros cultivos. “Nesse processo, temos condicionado de forma gradual o perfil do solo. E contamos aqui com uma grande participação das raízes, ajudando nesse sistema. A braquiária promove uma redistribuição desses nutrientes. Além disso, também favorece a descompactação do solo, dentre outros benefícios”, relata.
O consultor atribui à diversificação de cultivos o fato de a fazenda não apresentar depois da implantação da integração reboleiras de doenças. “Esses solos possuem uma sanidade muito grande”. Ele detalhou no Dia de Campo como esse trabalho é feito. “Hoje usamos uma divisão dos talhões para fazer as rotações dos cultivos, onde num talhão vamos ter milho de verão com braquiária, no outro, temos soja mais sorgo, ou soja mais milho safrinha, ou soja mais girassol. Também consorciamos girassol e milho safrinha com capim. Trabalhamos ainda com milheto e um determinado tipo de sorgo, conhecido como aveia preta. Esse sistema tão diversificado nos dá uma estabilidade técnica”, explica. Ele ressaltou, no entanto, que são usadas apenas culturas comerciais. “Nada está aqui apenas para manejar pragas e doenças de solo”.
Um dos pesquisadores que orientou a proprietária da Fazenda Santa Brígida, Marize Porto, no início da implantação da integração foi o pesquisador da Embrapa, João Kluthcouski, que estava presente no Dia de Campo. “Ninguém podia imaginar que íamos chegar onde chegamos”, contou ao informar que a tecnologia de integração já ocupa 15 milhões de hectares no Brasil. “Hoje ou o produtor entra, ou vai ficar para trás”, alerta. Segundo ele, com a integração é possível produzir o ano todo, fazendo até quatro safras por ano. E com a diversificação de cultivos, custos e riscos de produção são reduzidos. “Quando produzimos soja depois de braquiária conseguimos até 25 sacas a mais, isso é fantástico”, comemora.
Além das vantagens agronômicas, econômicas e ambientais, o especialista destaca ainda os ganhos sociais da tecnologia. “A intensificação demanda mais mão de obra, com isso, mais postos de trabalho são criados. Todo mundo sai ganhando”, afirma. João K., como é conhecido, pontuou, no entanto, que os pecuaristas acabam encontrando mais dificuldade para adotar o sistema integrado. “Não há como negar que para os lavoreiros é mais fácil, eles já dispõem de toda a estrutura necessária. Mas, o mais importante é começar. Existe máquina para todos os tipo de produtores, grandes ou pequenos. Se fosse dar um conselho diria: comece pequeno e pense grande”.
O pecuarista Paulo Estrela, da fazenda Taquari, presente no Dia de Campo, aproveitou o evento justamente para tirar dúvidas sobre a tecnologia e pedir orientações para o especialista da Embrapa, João K. Ele adota na propriedade o modelo silvipastoril (floresta+pecuária). “Foi muito proveitoso ter participado do Dia de Campo. Além de assistir às excelentes apresentações, também fui com o objetivo de conversar com o João K. A conversa foi ótima e já estou colocando em prática as orientações que ele me repassou”, contou.
Valor agregado
“Hoje já tenho uma fazenda recuperada, toda rodando dentro do sistema de ILPF. Agora queremos aumentar o valor agregado de cada um dos itens, intensificando ainda mais a produção”. É o que conta a proprietária da Fazenda Santa Brígida, Marize Porto. E para auxiliar o produtor nessa tarefa, uma das estações do Dia de Campo tratou do manejo da lavoura para altos rendimentos de grãos, abordando mais especificamente a questão das variações climáticas e seus impactos sobre a produtividade.
“A região do Cerrado é abençoada com luminosidade e possui temperatura ideal para a agricultura, garantindo elevadas produtividades, mas um dos problemas que enfrentamos aqui são os ‘veranicos’, períodos de estiagens que ocorrem durante a safra. Em determinados anos e regiões, esses veranicos causam consequências sérias e perdas significativas”, relatou Sérgio Abud, da Embrapa Cerrados, responsável pela condução da estação do Dia de Campo que abordou esse assunto.
Segundo ele, um dos fatores que limitam a produtividade das culturas no Cerrado é a distribuição de água durante a safra. Ele usou como exemplo a soja. “Se todos os componentes determinantes da produtividade forem muito bem distribuídos, estima-se que o rendimento potencial da cultura pode chegar a mais de 200 sacos por hectares. No entanto, a água é um fator limitante dessa produtividade. Para reduzir o impacto do défict hídrico nas lavouras de grãos, os produtores necessitam de alta eficiência no manejo da lavoura”, explicou. Atualmente, a média de produtividade brasileira é de 50 sacas/hectares. Os recordistas do concurso do CESB (Comitê Estratégico Soja Brasil), no entanto, já atingiram 149 sacas/hectare.
De acordo com Abud, em média, da germinação até a colheita, uma planta de soja precisa em torno de 5,8 milímetros de água por dia, ou seja, uma variedade de 110 dias, para suprir as suas necessidades, necessita de pelo menos 600 milímetros, bem distribuídos durante o ciclo da cultura. “Essa é a necessidade de água para que a planta possa se desenvolver e ter alta produtividade”. Ele pontuou alguns cuidados que o produtor deve ter a fim de favorecer o desenvolvimento das plantas, dentre eles, um bom preparo do solo, químico, físico e biológico, a escolha de genética adaptada à sua propriedade, uso de sementes com alto vigor e semeadura feita com capricho, garantindo um bom arranjo de plantas. “E, como garantia de redução de perdas de produtividade, o produtor deverá adotar um excelente manejo fitossanitário, garantindo folhas saudáveis e funcionais até o final do ciclo da cultura. Essas práticas irão garantir uma alta produtividade de grãos”, afirmou.
O especialista da Embrapa explicou que um solo com perfil bem construído favorece o desenvolvimento radicular das plantas e a maior absorção de água e nutrientes, para que, assim, a cultura supere os veranicos característicos da região do Cerrado. Nesse contexto, segundo ele, a Integração Lavoura Pecuária, com o uso da braquiária e de outras plantas de cobertura, é fundamental. De acordo com Abud, a Fundação Mato Grosso conduziu um ensaio que mostrou isso. O experimento foi composto por vários tratamentos com sistemas diferentes de cultivo.
“Nos anos com boa distribuição de chuva, esses tratamentos não apresentaram diferenças de produtividades. Em 2014/2015, ocorreu uma seca forte e dois deles se destacaram: soja seguida de pousio e soja seguida de braquiária. Nessa safra, a área de soja com pousio produziu 29 sc/ha, já a de soja com braquiária, 59 sc/ha. Portanto, 30 sacos por hectare de diferença”, afirmou. Segundo ele, foi feita a análise química dos solos dos dois tratamentos e observou-se que os solos eram quimicamente iguais. “No entanto, ao se fazer a análise biológica, verificou-se que eram biologicamente distintos. E sabemos que solos biologicamente ativos permitem melhor desenvolvimento das plantas e, portanto, são mais produtivos”, enfatizou.
Segundo Abud, as perdas de produtividade por déficit hídrico ou manejo agrícola variam muito de uma região para outra e tem relação direta com o nível tecnológico dos produtores. Ele pontuou algumas medidas que podem ser adotadas para tentar minimizar essas perdas, dentre elas, a seleção de data de semeadura com menor risco climático, conforme recomendações técnicas, e a adoção de um manejo adequado do solo e da lavoura, favorecendo, assim, um “ótimo” desenvolvimento das plantas. Abud recomendou que, em regiões com elevada probabilidade de ocorrência de veranicos, o foco do produtor seja, preferencialmente, na construção do perfil de solo, garantindo, assim, um bom armazenamento de água.
Sistema equilibrado
A viabilidade econômica da ILPF na Fazenda Santa Brígida foi objetivo de análise de uma das estações do Dia de Campo. “Para fazer a avaliação econômica, precisamos saber de onde está vindo o dinheiro e quanto está vindo. No caso da Santa Brígida, 57% da receita vem da pecuária e 44% da agricultura”, afirmou Miquéias Michetti, do Instituto Mato-grossense de Economia Apropecuária. De acordo com ele, se ao invés de ter optado por fazer ILPF, a propriedade goiana tivesse se tornado uma fazenda de soja, a cada 100 reais que ela tem hoje, ela teria apenas 30 reais de receita bruta. “A receita total da Santa Brígida é de 12 mil reais por hectare. Se tivesse só soja, seria de 4 mil reais. Sabemos que a safrinha no sistema ajuda a diminuir o custo fixo da produção. Existe uma lógica econômica que faz esse sistema ser diferente dos outros”, afirmou.
O Dia de Campo tratou ainda da condução da pecuária dentro do sistema integrado da Fazenda Santa Brígida. O tema foi conduzida pelo diretor da Rede ILPF, William Marchió. Segundo ele, o trabalho na propriedade é direcionado para que se consiga produzir entre 19 e 22 arrobas por hectare. “Com a integração, no entanto, estamos conseguindo 32 arrobas por hectare, além de uma carcaça com boa cobertura de gordura”, comemora.
Antes da implantação do sistema na fazenda, eram produzidas apenas 2,5 arroba por hectare. Agora, além de contarem com uma pastagem de qualidade, eles também fazem uma suplementação da alimentação com milho e farelo de soja e de sorgo cultivados na propriedade. “Com isso, conseguimos um ganho médio entre 500 e 800 gramas por dia a um custo de 95 reais. Quando os animais já estão adultos e tenho a perspectiva de terminá-los na palhada, aumento ainda mais essa suplementação, e eles passam a ganhar de 1,1 a 1,4 kg/dia a um custo de 110 reais a arroba”, explica. Segundo Marchió, vão para o confinamento apenas os animais que não atingiram o peso ideal. “Lá eles ganham em média 1,7 kg/dia a um custo de 122 reais a arroba”, informou.
Marchió pontuou ainda algumas vantagens da integração dos sistemas, como a ciclagem de nutrientes do solo e a possibilidade de se obter mais de um produto numa mesma safra. “Aqui na Santa Brígida não conseguimos dissociar a agricultura da pecuária. A ILPF é um sistema de produção equilibrado, ambientalmente correto, sequestrador de gás de efeito estufa e que, principalmente, dá ao produtor um retorno econômico interessante”, afirmou. Ele ressaltou que a fazenda, apesar de buscar retorno econômico, optou por praticar uma agricultura baseada em ciência por todo o legado que as instituições de pesquisa deixou. “Talvez o Brasil seja hoje um dos poucos países do mundo que conseguem entregar uma agricultura sustentável rentável”, afirmou.
ILPF
O Dia de Campo da Fazenda Santa Brígida é promovido pela Associação Rede ILPF, parceria público-privada formada pela Embrapa, cooperativa Cocamar e as empresas John Deere, Syngenta, Bradesco, Ceptis, Soesp e Premix. A coordenação técnica do evento ficou a cargo do pesquisador da Embrapa Lourival Vilela e contou ainda com o apoio da Universidade Estadual de Goiás e prefeitura de Ipameri (GO). A Associação Rede de Fomento ILPF busca acelerar a adoção desses sistemas integrados como parte de um esforço visando à intensificação sustentável da agricultura brasileira.
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