IAC lança três variedades de cana selecionadas em Goiás

Materiais são adaptados às condições do Cerrado goiano e poderão atender a regiões paulistas com condições de solo e clima semelhantes

21.09.2017 | 20:59 (UTC -3)
Carla Gomes

O setor sucroenergético de Goiás e de outros locais da região Centro-Oeste do Brasil passa a contar com três novas variedades de cana-de-açúcar desenvolvidas pelo Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, com características regionais adaptadas a ambientes restritivos que incluem déficit hídrico acentuado e solos desfavoráveis para produção. As regiões Oeste e Norte paulistas também apresentam restrições semelhantes e poderão adotar as novas variedades — a IACCTC05-8069, IACCTC07-8008 e IACCTC07-8044. A produtividade agrícola desses três materiais é de 11% a 16% superior à da RB867515, a variedade mais cultivada no Centro-Sul do Brasil, segundo Marcos Guimarães de Andrade Landell, pesquisador do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. O lançamento ocorreu nesta quinta (21/09), às 8h30, em Goianésia, Goiás. A partir desse lançamento, espera-se que as novas variedades sejam difundidas para todo o Centro-Sul do Brasil. Este é o vigésimo lançamento de variedades de cana do IAC.

O lançamento foi realizado na área da Usina Jalles Machado, empresa parceira do Programa Cana IAC no desenvolvimento dessas três variedades. A parceria, iniciada há 22 anos, reúne trabalho científico e a expertise do Programa Cana IAC, com experimentos na área da Jalles Machado e investimentos públicos e privados. “A credibilidade do IAC e o empenho de toda a equipe são responsáveis por atrair empresas e agricultores com o objetivo de elevar a produtividade agrícola, a geração de renda e a sustentabilidade ambiental – desse conjunto resultam lançamentos como este que fazemos agora”, diz Landell. O desenvolvimento da IACCTC05-8069 teve início em 2005 e o das outras duas foi em 2007.

Além da alta produtividade, as novas variedades IAC apresentam grande longevidade, que deve se aproximar de dez cortes. Isto significa que o produtor terá que renovar seu canavial somente após a décima colheita – o que representa de duas a três colheitas a mais do que a média obtida nos canaviais. Esta é uma característica cada vez mais importante na canavicultura atual, segundo Landell. “Acreditamos que variedades com este perfil que estamos lançando permitam dois a três colheitas econômicas a mais, fazendo com que a renovação de um canavial se aproxime de dez colheitas”, afirma.

"As variedades selecionadas em São Paulo não têm o mesmo desempenho na nossa região, devido ao tipo de solo e ao clima seco. Então, possuir variedades adaptadas às condições de Cerrado é fundamental para alcançarmos uma maior produtividade e também reduzir custos de produção”, diz o diretor-presidente da Jalles Machado, Otávio Lage de Siqueira Filho.

A IACCTC05-8069, IACCTC07-8008 e IACCTC07-8044 também apresentam resistência às principais doenças da cultura da cana-de-açúcar nessas condições regionais, que são: carvão, ferrugens, escaldadura e mosaico. “Uma das adicionalidades esperada em uma variedade é que ela, além de ser mais produtiva, tenha uma boa resistência de campo às principais doenças”, diz o pesquisador.

De acordo com o pesquisador, a IACCTC05-8069 tem um perfil responsivo, isto é, ela responde de maneira mais acentuada a um manejo que transforme o ambiente original em outro de maior potencial. “Isto pode ser feito com a irrigação, com a utilização de compostos orgânicos, por exemplo”, explica o pesquisador. A IACCTC05-8069 é ainda mais competitiva no período de colheita de abril a agosto. Em condições de irrigação suplementar, ela se destaca ainda mais na comparação com a RB867515, que representa 29,9% das variedades plantadas na região de Goiás, de acordo com o senso varietal realizado pelo Instituto Agronômico. A IACCTC05-8069 tem teor de sacarose médio e sua época de colheita é no outono-inverno.

A IACCTC07-8008 apresenta rendimento agrícola em torno de 11% a 16% superior à da variedade padrão RB867515, em todas as épocas de colheita, tanto em ambientes restritivos, em condições de sequeiro, como em situação favorável, com irrigação complementar. “Seu grande destaque é a produtividade agrícola, originada principalmente na elevada população de colmos; esta característica proporciona à IACCTC07-8008 um grande potencial na produção de bagaço, expressa pelo indicador Tonelada de Fibra por Hectare (TFH)”, avalia o pesquisador. Seu teor de sacarose é classificado como médio e sua época de colheita vai do outono à primavera.

Já a IACCTC07-8044, que também tem perfil responsivo, é mais competitiva no período de colheita de abril a agosto, em ambientes considerados superiores. Sua colheita é feita no outono-inverno. De acordo com Landell, ela apresenta alto teor de açúcar durante um longo período da safra. “Em condições de irrigação suplementar, ela tem grande vantagem sobre a variedade RB867515 e uma população de colmos que é 38,9% superior à desta variedade padrão”. Landell explica que este perfil populacional é essencial em regiões de alto déficit hídrico, o que pode redundar em canaviais de grande longevidade. “Observa-se que um dos fatores de redução do número de colmos em um canavial é o déficit hídrico acentuado; uma variedade que parte de um número significativamente superior ao padrão nos permite inferir que ela deverá proporcionar uma perenização maior de suas soqueiras”, explica.

A seleção das variedades regionais

As variedades IACCTC05-8069, IACCTC07-8008 e IACCTC07-8044 são originárias de seleções regionais realizadas na Unidade Jalles Machado e na Unidade Otávio Lajes (UOL), ambas na região de Goianésia. As três novas variedades foram selecionadas partir de resultados observados durante quatro cortes, em duas condições, com e sem irrigação complementar, e em diferentes épocas de colheita. “Esse processo possibilitou a obtenção de um número bastante expressivo de informações consolidadas para a região, oferecendo segurança para a caracterização e indicação regional, com grandes possibilidades de cultivo em outras localidades, tanto de Goiás, como nos demais estados produtores de cana-de-açúcar”, afirma Landell.

Para a Jalles Machado, que há 22 anos decidiu iniciar uma colaboração com o IAC, a avaliação é muito positiva. “O IAC é um grande parceiro da Jalles Machado; o trabalho realizado por toda a equipe da instituição, liderada pelo doutor Marcos Landell, é muito importante para o manejo varietal adequado do nosso canavial e adoção de novos materiais, que contribuem para que possamos atingir altas produtividades”, avalia o diretor-presidente da Jalles Machado.

O pesquisador relata que na rede experimental instalada em Goianésia, esses materiais foram testados em épocas distintas de colheita, sendo outono-inverno e primavera, com dois manejos fitotécnicos, um deles de sequeiro e o outro com irrigação complementar. “Esta irrigação não atende plenamente à necessidade hídrica do ciclo, no entanto, é suficiente para condicionar o ambiente e torná-lo favorável para a produção, com um potencial de produção aproximadamente 40% superior ao do ambiente de sequeiro”, diz o pesquisador.

De acordo com Landell, a interação com a Jalles Machado teve início com a introdução de clones de cana-de-açúcar com o objetivo de entender à condição de clima e solo da região e como a planta se adaptava àquela localidade. “O projeto com a Jalles foi um piloto para todas as outras regiões restritivas do Centro-Sul do Brasil, inclusive o Noroeste, Norte e Oeste de São Paulo”, afirma Landell. Essas regiões paulistas passam por situações de muita restrição hídrica também.

Segundo Landell, a estratégia de matriz de ambiente e o correspondente manejo varietal, criada pelo Programa Cana IAC, foi iniciada na Jalles. “Mais recentemente desenvolvemos um terceiro fator para a matriz de ambiente que é a idade da planta, que tem sido chamado de Matriz 3D ou Matriz do Terceiro Eixo. Este conceito que criamos está proporcionando ganhos expressivos na produtividade de empresas e agricultores”, afirma Landell.

Nessa parceria, a Jalles Machado contribuiu com sua rede experimental e o Programa Cana IAC fez o planejamento dos ensaios feitos pela Usina a cada ano. Nesses 22 anos, foram quase duas centenas de experimentos instalados e analisados. “Esses ensaios nos deram condições de desenvolver pacotes tecnológicos que envolvem não somente variedades, mas também as estratégias de produção”, diz.

“Estamos muito orgulhosos em participar do lançamento dessas três variedades desenvolvidas por meio dessa parceria, que apresentam alto desempenho e adaptabilidade em nossos ambientes de produção”, afirma Siqueira Filho.

Landell lembra que era final de 2001 quando a equipe do IAC e da Usina combinaram a introdução de seedlings para os estudos se tornarem mais avançados com o objetivo de introduzir variabilidade genética nas lavouras do Norte goiano. “A partir daí pudemos selecionar materiais que fossem caboclos daquela região e foi isso que fizemos — essas três novas variedades são caboclas da região goiana”, resume.

O pesquisador destaca o longo tempo necessário para se chegar a novas variedades e a importância de manter os trabalhos de melhoramento e as parcerias que resultam nessas novas ferramentas tecnológicas, indispensáveis para suportar o avanço do agronegócio brasileiro.

Para o secretário de Agricultura, Arnaldo Jardim, este lançamento é a celebração de uma parceria público-privada de sucesso. “A ciência auxilia o setor de produção, que retribui com apoio à pesquisa; como recomenda o governador Geraldo Alckmin”, diz.

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