Fertilizante ameniza impacto da seca e surpreende pesquisadores

Experimento em nove países revela que fertilizantes podem sustentar crescimento de gramíneas mesmo sob estiagem severa

19.05.2025 | 14:30 (UTC -3)
Revista Cultivar, a partir de informações de John Brhel
Cedar Creek Long Term Ecological Research Site foi um dos 26 locais estudados como parte de um estudo global que examinou o efeito da seca e da adição de nutrientes em pastagens - Foto: Sydney Hedberg.
Cedar Creek Long Term Ecological Research Site foi um dos 26 locais estudados como parte de um estudo global que examinou o efeito da seca e da adição de nutrientes em pastagens - Foto: Sydney Hedberg.

A adubação pode proteger as plantas contra a seca. Esse foi o resultado inesperado de um estudo global liderado por pesquisadores de nove países, incluindo a professora Amber Churchill, da Universidade de Binghamton. O experimento revelou que a aplicação de nutrientes ajudou a manter o crescimento das gramíneas mesmo durante períodos curtos de estiagem extrema.

A pesquisa foi realizada em 26 áreas experimentais distribuídas por todos os continentes habitados.

Cientistas testaram os efeitos combinados de seca severa e fertilização em ecossistemas de pastagens naturais. Em média, a seca reduziu o crescimento vegetal em 19%. A fertilização aumentou esse crescimento em 24%. Quando os dois fatores ocorreram juntos, o impacto médio foi nulo.

Gramas e outras plantas do tipo graminoide responderam de forma positiva à adição de nutrientes, mesmo com a escassez de água. Esse comportamento surpreendeu os cientistas.

A expectativa inicial era de que, sob condições áridas, as plantas não reagiriam à adubação. No entanto, o resultado foi o oposto: elas conseguiram aproveitar os nutrientes disponíveis e seguir crescendo.

Segundo Churchill, essa descoberta pode ter implicações importantes para regiões que dependem da pecuária e da produção forrageira.

“O benefício existe, mas tem custo alto. Em sistemas produtivos, pode ser uma ferramenta útil, porém, não representa uma solução de longo prazo”, afirmou.

Os pesquisadores utilizaram nitrogênio, fósforo, potássio e uma dose única de micronutrientes. Cada local testou a mesma metodologia, o que deu ao estudo um alcance sem precedentes.

“O diferencial foi escalar uma experiência local para uma rede global, mantendo consistência nos métodos”, explicou Churchill.

Ela participou diretamente de dois locais. Em Yarramundi, na Austrália, foi responsável pelo monitoramento das espécies. Em Minnesota, nos Estados Unidos, organizou os dados e coordenou o compartilhamento com os demais cientistas.

As respostas das plantas variaram conforme o clima e o tipo de solo. Em regiões áridas, o efeito dos fertilizantes foi mais forte. Em áreas úmidas ou com solos já ricos em nutrientes, o impacto foi menor. Locais com maior diversidade de espécies mostraram maior sensibilidade tanto à adubação quanto à seca.

Churchill ressalta que a diversidade vegetal pode ser mais determinante para a estabilidade da produtividade do que o uso de insumos.

“Se você tem mais espécies, aumenta a chance de alguma resistir à seca. Isso garante uma biomassa mais estável ao longo do tempo.”

Esse ponto, porém, não pôde ser testado neste estudo, limitado a um único ciclo anual. A pesquisadora pretende expandir os testes em um novo projeto na Universidade de Binghamton, no laboratório a céu aberto Nuthatch Hollow.

Apesar do otimismo cauteloso, os autores alertam que os efeitos da fertilização em larga escala ainda carecem de análise. Além do custo elevado, há riscos ambientais associados ao uso excessivo de adubos.

Mais informações em doi.org/10.1038/s41559-025-02705-8

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