Com preços elevados, produtor de soja retoma negociação
Os atuais patamares elevados de preços estimulam sojicultores a comercializarem o produto remanescente da safra 2018/19 e os poucos volumes já disponíveis da temporada 2019/20
A Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, realizará o evento Grande Encontro do Amendoim: Genética e Tecnologia para o Oeste Paulista, em 23 de janeiro de 2020, a partir das 7h40, em Adamantina, interior paulista. O evento reunirá produtores de amendoim para discutir o cultivo do grão na palha, o manejo de pragas e doenças da cultura, além de apresentar as cultivares mais recentes para produção do grão em sistema orgânico e com alto índice de ácido oleico, o que dobra o tempo de prateleira do produto.
Segundo o pesquisador da APTA, Fernando Nakayama, o cultivo do amendoim tem crescido no Oeste Paulista. “São Paulo é responsável por 90% da produção nacional de amendoim. Cerca de 90% dela é destinada ao mercado externo, o que mostra sua qualidade e a profissionalização de toda a cadeia produtiva. Percebemos uma forte tendência de crescimento desta cultura na região Oeste paulista, por isso, decidimos fazer este evento para levar mais informações aos produtores”, afirma.
Uma característica interessante da produção nesta região do Estado é o cultivo do amendoim não apenas em áreas de renovação de pastagens e de cana, como ocorre em outras localidades. “Por termos mais terras ociosas, os produtores estão firmando contrato de arrendamento longo, com mais de cinco anos, para o cultivo do amendoim como cultura principal. Mais um motivo para compartilharmos informações, pois este produtor está se dedicando exclusivamente a cultura”, explica o pesquisador. O Instituto Agronômico (IAC), um dos seis institutos de pesquisa que compõem a APTA, detém 70% dos materiais genéticos plantados no País. “A APTA, por meio do IAC e suas unidades regionais, trabalha há muitos anos para o desenvolvimento da cadeia produtiva”, diz Nakayama.
O cultivo de amendoim na palha será um dos assuntos discutidos no evento. Atualmente, 80% da produção de amendoim em São Paulo é feita no período de renovação dos canaviais. Com a proibição da queima para a colheita da cana e a mecanização da atividade, os produtores de amendoim precisam se adaptar a realidade de cultivar essa oleaginosa sobre palhada, uma prática já bastante comum entre os produtores da soja, mas pouco conhecida entre os de amendoim.
O pesquisador do IAC, Denizart Bolonhezi, explica que o Instituto iniciou pesquisas nesta área em 1999, quando a proibição do uso do fogo e a utilização da colheita mecânica da cana era pouco discutida e não chegava a 10% da área colhida. Hoje, 100% dos canaviais paulistas são colhidos com máquinas, sistema que deixa a cada colheita pelo menos 15 toneladas de palhada sobre a superfície do solo. Os resultados gerados nos últimos 20 anos, permitem recomendar a prática aos produtores. “Com base em todo esse nosso know-how de pesquisa, conseguimos orientar o produtor de amendoim com segurança. O plantio do grão na palha é uma realidade”, afirma.
Apenas os custos com diesel nas operações de preparo do solo, para a retirada da palhada no canavial, aumentam em R$ 1.000,00 por hectare, os gastos com a implantação da lavoura. De acordo com a literatura internacional, para a produção de 1,0 kg de grãos de amendoim são perdidos 5,0 kg de terra por erosão.
“Este índice pode chegar a 13 kg de terra por quilo de grãos produzidos nas condições brasileiras. Devido ao alto risco de erosão quando se adota preparo intensivo de solo na cultura do amendoim, em algumas regiões as usina têm apresentado dificuldades aos produtores para estabelecer os contratos de arrendamento”, afirma o pesquisador. Ele ressalta que os produtores de amendoim são predominantemente arrendadários, e na eventualidade de não conseguirem terras para cultivar no Estado de São Paulo, onde está concentrado todo parque de beneficiamento e industrialização da cadeia produtiva, precisam buscar terras em outras regiões, fato que aumentam os custos com transporte e impostos.
Os estudos de Bolonhezi mostram que o cultivo do amendoim na palha traz mais sustentabilidade a atividade -- já que não há erosão do solo -- e reduz os custos de produção, que compensa uma possível perda de 10% na produtividade da cultura em período de muita chuva. “Nossos experimentos mostraram que em época de seca, o cultivo de plantio do amendoim na palha traz ganhos de produtividade. Nas épocas de chuva, há uma pequena redução. A queda dos custos operacionais, porém, compensa esta perda de produtividade”, diz.
As pesquisas do IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, continuaram ininterruptas nos últimos 20 anos e permitiram testar outras opções de manejo conservacionista do solo, além da semeadura direta sobre palhada, a qual oferece ainda resistência de adoção pelos produtores. Nas últimas quatro safras o IAC testou equipamento que realiza preparo reduzido em faixas de 30 cm. Assim o produtor consegue manter mais de 70% do solo coberto e não necessita trocar a semeadora. “Com esses resultados de pesquisa, conseguimos dar uma boa orientação aos agricultores. Provamos também, cientificamente, algumas práticas, trazendo segurança para os interessados em adotá-las”, explica Bolonhezi.
Os trabalhos científicos foram desenvolvidos com recursos aportados pela Fundação Agrisus e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Juntos, os recursos não chegaram a R$ 50 mil. Apenas com a venda desse equipamento de cultivo mínimo, a empresa fabricante gerou mais de R$ 500 mil de Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para o Estado de São Paulo. Para cada real captado para pesquisa, houve um retorno de R$ 10,00 na arrecadação, somente com a venda do equipamento, sem contar os benefícios indiretos. É a prova que a pesquisa pública traz impactos diretos tanto para o produtor, quanto para o mercado e para a arrecadação estadual”, afirma.
Durante o Grande Encontro do Amendoim: Genética e Tecnologia para o Oeste Paulista serão apresentados para os produtores os mais recentes lançamentos de cultivares desenvolvidas pelo IAC. Serão mostradas também quatro linhagens que estão sendo estudadas pelo Instituto e que devem estar no mercado em breve.
Duas das cultivares são de lançamento recente. A IAC OL5, lançada em 2018, é do tipo Runner (plantas rasteiras com vagens de duas sementes de pele clara), o mais procurado tanto no mercado interno como externo. Esta cultivar possui a característica “alto oleico”, ou seja, alto teor de ácidos oleico, que propicia maior vida de prateleira do produto. No aspecto agronômico, IAC OL5 mostra alto potencial produtivo, sendo ainda moderadamente resistente a doenças fúngicas foliares e a virose.
Outro material apresentado no evento será o IAC Sempre Verde, primeira cultivar de amendoim adequada para o mercado de produtos orgânicos. Com grãos de pele vermelha e tamanho pequeno e médio, esta cultivar destaca-se pela alta resistência a doenças foliares, possibilitando o cultivo sem o uso de fungicidas. “A produtividade da IAC Sempre Verde pode atingir 5.000 quilos por hectare sem o uso de fungicida, resultado muito superior ao obtido por todos os amendoins de pele vermelha ou de pele clara (Runners) existentes atualmente no mercado”, explica Ignácio José de Godoy, pesquisador do IAC. O material foi lançado durante a Agrishow, em 2019.
Segundo Godoy, o IAC Sempre Verde chega como alternativa aos produtores que pretendem aproveitar nichos de mercado, como o de produtos orgânicos in natura ou processados, como a pasta de amendoim, que está ganhando popularidade entre os consumidores brasileiros.
O manejo de pragas e doenças também será tema de palestra no evento organizado pela APTA em Adamantina. O pesquisador da Agência, Marcos Doniseti Michelotto, abordará em sua palestra pragas como a tripes-do-prateamento, a lagarta-do-pescoço-vermelho e o percevejo-preto. Entre as doenças, serão compartilhadas informações a respeito da mancha-preta.
Durante a palestra, Michelotto orientará os agricultores a identificar no campo a necessidade ou não da aplicação de defensivos agrícolas e o melhor momento para isso ser feito. Segundo o pesquisador, é comum entre os produtores a aplicação dos produtos químicos de forma calendarizada, ou seja, feita a partir de uma programação já pré-estabelecida.
“Sabemos que esta prática é comum, principalmente porque o produtor de amendoim faz o plantio em terras arrendadas, por isso, tem mais dificuldades de locomoção dos equipamentos para as diferentes áreas. Porém, queremos conscientizá-lo que é possível reduzir a aplicação dos produtos”, afirma.
Michelotto explica que para identificar se é necessário ou não aplicar inseticidas, o produtor deve dividir a propriedade em talhões e amostrar 20 pontos. Em cada ponto é preciso escolher cinco plantas e em cada planta escolhida de modo aleatório amostrar um folíolo jovem, ainda fechado, abrir e realizar a contagem do número de tripes e/ou lagarta. Ao final da avaliação, se 30% dos folíolos tiverem a presença do tripes, deve-se realizar a aplicação de inseticidas recomendados para o controle do mesmo. No caso da lagarta, deve-se trabalhar com 20% dos folíolos infestados. Se estiver abaixo deste percentual, ele deve realizar novo monitoramento nos próximos dias. “É possível reduzir de nove para cinco aplicações de inseticidas realizando este procedimento”, explica o pesquisador da APTA. Os folíolos são aquelas estruturas que fazem a subdivisão das folhas.
Segundo Michelotto, a APTA também desenvolve pesquisas relacionadas ao percevejo-preto, uma praga de solo que atinge as vagens de amendoim após 90 dias do plantio. “Estamos testando alguns produtos, inclusive biológicos, para identificar quais podem ser usados para combater esta praga. O percevejo-preto ao se alimentar dos grãos ainda nas vagens torna-os manchados e impróprios para a alimentação. A praga não causa nenhum sintoma visual na planta, por isso, o produtor só vai saber se sua área teve ataque da praga quando seu produto é encaminhado para a indústria”, conta.
A mancha-preta, que é a principal doença da cultura, também será contemplada na palestra. O pesquisador da APTA afirma que as cultivares atualmente utilizadas possuem diferentes graus de resistência a esta doença e que o intervalo entre as aplicações de fungicida pode ser adequado de acordo com a cultivar adotada resultando em maior eficácia de controle e até redução nas pulverizações.
Data: 23 de janeiro
Horário: A partir das 7h40
Local: Polo Regional Alta Paulista da APTA
Endereço: Estada 14, km 06, Adamantina/SP
Informações: poloaltapaulista@apta.sp.gov.br | 18 3521-4800 | 19 98123-0705 (WhatsApp).
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