Embrapa e Bayer iniciam projeto piloto em agricultura de baixo carbono

A intenção é de que o projeto comece ainda este mês

07.07.2020 | 20:59 (UTC -3)
Katia Marsicano​

Com uma trajetória de cooperação no desenvolvimento de soluções voltadas à atividade agropecuária, Embrapa e Bayer se preparam para dar início a mais um projeto em parceria. A iniciativa, discutida na manhã da última sexta-feira (3 de julho), em videoconferência com a presença da Diretoria-Executiva da Embrapa e dirigentes da Bayer, foca no aumento da competitividade e sustentabilidade do agro, a partir da adoção de tecnologias de baixo carbono, com garantia de retorno financeiro aos produtores rurais. 

A intenção é de que o projeto, denominado “Avaliação piloto do balanço de carbono na produção de milho e soja no centro-sul do Brasil, para o desenvolvimento sustentável (2020/2021)”, comece ainda este mês. 

Segundo o diretor de Sustentabilidade da Bayer, Eduardo Bastos, o objetivo é aportar mais de R$ 1,2 milhão envolvendo a participação da Embrapa Meio Ambiente, Embrapa Instrumentação e Embrapa Informática Agropecuária. “Há um potencial enorme de remunerar o produtor que adotar técnicas de agricultura de baixo carbono”, disse. “Com isso, será possível garantir produtividade, melhoria na gestão de risco socioambiental e ainda contribuir com a reputação do agro brasileiro, mostrando que a atividade é parte da solução das mudanças climáticas e não o problema”.

No final do ano passado, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, se reuniu com representantes da Bayer e um dos principais temas do encontro foi a agricultura de baixo carbono. O encontro motivou o desenvolvimento de um projeto focado em três grandes pilares: agenda de pagamentos por serviços ambientais, focada em carbono (cuja base científica virá da parceria com a Embrapa); treinar e capacitar equipes de campo em agricultura de baixo carbono e a divulgação dos seus benefícios tanto aos produtores quanto para a sociedade. “A gente vai tropicalizar muita informação e mostrar que a agricultura tropical pode ser mais sustentável que a temperada”, afirmou. 

Para a fase seguinte do projeto, previsto para o período de 2021-2024, a Bayer pretende ampliar as ações, desta vez em parceria com os governos da Alemanha e Brasil. O diretor disse que, entre as metas da Bayer para 2030 estão contribuir com a redução de 30% das emissões de gases de efeito estufa na agricultura mundial, 30% do impacto ambiental das novas tecnologias e a melhoria de vida de 100 milhões de pequenos agricultores. “Temos uma emissão média de 4 milhões de toneladas e 200 mil estão na América Latina”, ressaltou.  Brasil, Estados Unidos e Índia são regiões consideradas prioritárias pela Bayer para implantação dos projetos de baixo carbono. 

Busca por soluções

O presidente da Embrapa, Celso Moretti, destacou estratégias relacionadas à sustentabilidade em desenvolvimento com a participação da Empresa, como o Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), no qual estão inseridos projetos de controle biológico, fixação biológica de nitrogênio, tratamento de dejetos e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).  

“Estamos muito empenhados na busca por soluções para demonstrar a capacidade do agro brasileiro de reduzir a emissão de gases do efeito estufa, de contribuir com a sustentabilidade dos sistemas e certificar produtores”. Ele citou o conceito de carne carbono neutro, que teve o processo de certificação de produtores e pecuaristas em parceria com a empresa Marfrig iniciado neste ano. Moretti destacou ainda a potencialidade de aplicação do mesmo conceito na cadeia produtiva do arroz de terras baixas e na pecuária de leite. “Isso tudo reforça a proposta do projeto”, afirmou. “Quem sabe no futuro teremos um conceito carbono neutro relacionado com certificação de propriedades?”. 

Celso Moretti disse que a temática discutida com a Bayer  está relacionada a vários  portfólios de pesquisa da Embrapa, como o de mudanças climáticas, sistemas florestais, grãos, manejo racional de agroquímicos, florestas e serviços ambientais, dentre outros. “A Embrapa vem mudando seu modelo de negócios com parceiros privados para projetos de inovação – atualmente, 15% da programação já são conduzidas em cooperação com o setor privado”, explicou.

Para Moretti, a Embrapa gera e entrega enorme valor ao agro brasileiro, mas ainda é pouco eficiente na captura de valor dos ativos colocados no mercado. “Por isso, vamos iniciar uma nova fase, com o respaldo do arcabouço do Marco Legal de Ciência e Tecnologia, fazendo contratos, nos tornando sócios em iniciativas, dividindo riscos e benefícios”, explicou. 

Parceria consolidada

O diretor do Centro de Expertise em Agricultura Tropical (Ceat) da Bayer, Dirceu Junior, lembrou a importância da trajetória com a Embrapa, e chamou a atenção para a parceria com a Monsanto, anterior à aquisição da empresa pela Bayer. “O acordo marco entre Bayer, na Alemanha, e Embrapa, no Brasil, foi em 2015, com o projeto de polinizadores, depois ferrugem asiática da soja e IWM (Integrated weed management), que é o gerenciamento integrado de plantas daninhas”. 

Dirceu Junior disse que nos três projetos foram investidos 28 milhões de reais com a participação de 10 unidades e mais de 30 pesquisadores. “Por parte da Monsanto Legacy, desde 2006, foram 68 projetos - 17 ainda em curso - um investimento acumulado de 32 milhões de reais, 19 unidades envolvidas e 45 pesquisadores”, disse. “Se a gente for somar tudo, são 60 milhões de reais. Mais do que isso, a capacidade intelectual que as duas empresas empenharam não tem como valorar”. 

A viabilização do projeto será conduzida pelos diretores de Inovação e Tecnologia, Adriana Martin, e de Pesquisa e Desenvolvimento, Guy de Capdeville. “É uma proposta de grande porte, que vai ao encontro a muitas atividades que estamos fazendo”, avaliou Guy de Capdeville. “São desafios de inovação, voltados a metas de impacto que o setor privado precisa e nós temos capacidade de certificação dessas cadeias em todas as fases”, comentou, ressaltando preocupação com o bioma Amazônia, que, segundo ele, requer análise e atenção, para que sejam oferecidas vantagens socioeconômicas para a população, com preservação ambiental. 

Representando a Bayer, participaram da videoconferência o diretor de Sustentabilidade, Eduardo Bastos; o diretor do Centro de Expertise em Agricultura Tropical (Ceat), Dirceu Junior; o gerente de parcerias e membro do Ceat, Renato Luzzardi; a diretora de Políticas Agrícolas e Relacionamento com Stakeholders, Alessandra Fajardo; e o chefe de Assuntos Públicos, Ciência e Sustentabilidade para a América Latina, Alejandro Girardi.  O Ceat é a área da Bayer dedicada a promover a inovação para a agricultura tropical, por meio de parcerias públicas e privadas, no desenvolvimento de pesquisas e projetos. Implementado em 2015, o centro tem como principal foco o Brasil, seus cultivos e desafios da agricultura tropical.


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