Embrapa desenvolve sua primeira mandioca de mesa para o estado de São Paulo

Uma das características da BRS 429 é a uniformidade das raízes; nova cultivar faz parte da estratégia de diversificação de variedades para atender às demandas do setor produtivo do Centro-Sul do País

07.06.2022 | 14:13 (UTC -3)
Embrapa
Uma das características da BRS 429 é a uniformidade das raízes. - Foto: Divulgação Embrapa
Uma das características da BRS 429 é a uniformidade das raízes. - Foto: Divulgação Embrapa

Como parte da estratégia de diversificação de variedades para atender aos anseios do setor produtivo do Centro-Sul do País, a Embrapa lança a mandioca de mesa (aipim) BRS 429 para São Paulo e Paraná. É a primeira variedade de mesa da Empresa recomendada para o estado paulista. Já os mandiocultores paranaenses contam, desde 2015, com as variedades BRS 396 e BRS 399 oriundas, assim como a BRS 429, de cruzamentos realizados pela Embrapa Cerrados (DF) e validadas no Centro-Sul pela equipe da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) que atua em campo avançado na região. A contribuição da nova cultivar, que se destaca pela boa qualidade culinária e sabor, é de 49,76% de superioridade média de produtividade de raízes comerciais, quando comparada ao desempenho das variedades tradicionais das regiões, com potencial para superar 60 toneladas por hectare. 

O lançamento acontece no dia 7 de junho, na Fazenda Escola do Campus Regional do Noroeste da Universidade Estadual de Maringá (UEM/CRN), localizado em Diamante do Norte (PR), e, posteriormente, está programada uma série de ações de promoção da variedade em áreas de instituições e produtores parceiros nos experimentos nos dois estados. A previsão é de que no segundo semestre haja também a extensão de recomendação para o Cerrado, inicialmente Distrito Federal e entorno — alguns ensaios já indicam, por exemplo, 30% a mais de produtividade em relação às variedades locais.

Histórico da obtenção da variedade

Desde 2007, a Embrapa avalia mais de três mil clones de mandioca nos estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, em campos experimentais de instituições e produtores parceiros. Parte dessa coleção é gerada pelo programa de melhoramento genético de mandioca da Embrapa Cerrados, sob a responsabilidade do pesquisador Eduardo Alano Vieira, e parte pelo programa da Embrapa Mandioca e Fruticultura, coordenado pelo pesquisador Vanderlei Santos. A coleção da qual fazia parte a BRS 429 foi enviada para o Centro-Sul em 2013 e introduzida inicialmente na Embrapa Agropecuária Oeste (MS). Depois de selecionado, o material foi levado para áreas de instituições e produtores parceiros em São Paulo e no Paraná, formando uma ampla rede de experimentos. 

“Uma variedade de mandioca não é algo que se consegue em curto período de tempo. Requer ciclos de recombinações e validações. O que está se colhendo hoje, foi plantado muito lá atrás. No que se refere à BRS 429, o trabalho foi iniciado em um campo de cruzamento estabelecido em 2008/2009. Em 2009, obtivemos a semente. A primeira seleção aconteceu em 2009/2010, depois 2010/2011 e 2011/2012. Foram, portanto, três safras aqui na Embrapa Cerrados. Em 2013, o clone que deu origem à BRS 429 seguiu junto com outros materiais para o Centro-Sul”, conta Eduardo Alano.

De acordo com o pesquisador, no processo de seleção buscavam-se cinco características: resistência à bacteriose, principal doença que ocorre tanto no Cerrado quanto no Centro-Sul; material de polpa amarela, relacionada à quantidade de betacaroteno, precursor da vitamina A; alta produtividade; elevada altura da primeira ramificação, para favorecer o plantio mecanizado; e, por fim, boas qualidades culinárias, ou seja, material de mesa tem que cozinhar bem. “Essas foram as principais características que consideramos aqui em função dos nossos trabalhos de anos que vêm sendo conduzidos, fazendo esse intercâmbio, ou seja, materiais do Cerrado sendo validados de forma concomitante no Centro-Sul do País”, diz Alano. Rangel também salienta a importância do trabalho conjunto entre as Unidades da Embrapa para seleção dos materiais em regiões diferentes. “Conseguir selecionar o mesmo material para o Centro-Sul e para o Cerrado é fruto de um trabalho muito sério dos nossos melhoristas e desse diálogo que existe entre o melhoramento e a cadeia produtiva.”

Sobre o trabalho de validação na região, Rangel acrescenta que as redes de experimentação de mandioca de mesa são pouco menores que as de indústria, haja vista as parcerias muito maiores no segmento industrial. Apesar de mais limitados, os locais são, como destaca o pesquisador, bem representativos. “Por exemplo, em Diamante do Norte, o solo é originado do arenito. Já Marechal Cândido Rondon (PR) está na área de solo mais argiloso. Esses resultados comprovam que a variedade mostrou uma estabilidade muito grande e se manteve altamente produtiva em todos os ambientes testados”, ressalta.

Em busca de novos materiais

A Embrapa trabalha para lançar mais materiais de mandioca, tanto de mesa quanto para indústria — os próximos lançamentos previstos são duas variedades de uso industrial também para o Centro-Sul do País (de 2016 para cá, já foram lançadas para a região as mandiocas para indústria BRS CS01 e BRS 420). A ideia, como salienta Rangel, é obter muitas variedades, mas isso não significa que concorram entre si, pois cada uma tem características que vão agradar segmentos específicos de produtores. “Nenhuma variedade vai agradar a todos. O que acontece é uma acomodação natural dos materiais. Por isso é tão importante diversificar, pois um tende a atender mais um segmento de determinada região, outro atende a outro e por aí vai. Devemos saber posicionar os materiais e acompanhar naturalmente o que vai acontecendo”, ressalta. 

Eduardo Alano complementa que o objetivo é conferir opções de variedades de mesa para o produtor. “O interessante é que, na região do Paraná, sempre pensamos em mandioca para obtenção do amido, principalmente para polvilho, e temos visto uma grande profissionalização dos produtores de mandioca de mesa. Aqui no Cerrado, a grande maioria são horticultores que prezam por um produto de qualidade. Então vemos cada vez menos a mandioca sendo comercializada em casca e cada vez mais sendo minimamente processada, descascada, sanitizada, embalada a vácuo para comercialização. Isso exige características diferentes, e o melhoramento tem que oferecer isso aos produtores. Quando o produtor tem um produto de qualidade diferenciado, ele consegue comercializar com valor mais elevado e aumenta a renda de sua propriedade”, analisa o pesquisador. 

Aliado aos ODS

O lançamento dessa nova variedade está alinhado ao compromisso da Embrapa com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), agenda mundial adotada durante a Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável em 2015 com a missão de construir e implementar políticas públicas que visam guiar a humanidade até 2030 (Agenda 2030). Atende ao Objetivo Número 2 “Fome zero e agricultura sustentável”, que consiste em erradicar a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável.

Em 2017, foi criada a Rede ODS Embrapa, que visa gerenciar a inteligência distribuída nas Unidades de pesquisa e responder a demandas sobre a Agenda 2030. Uma análise dos Objetivos Estratégicos da Embrapa realizada pelos integrantes da Rede mostrou a vinculação, direta ou indireta, da atuação da Empresa a todos os 17 ODS. Uma página temática foi criada para mostrar como o trabalho da Empresa se vincula a cada um dos ODS. É possível compreender, a partir dessas informações, como a produção de alimentos alinhada à geração de inovação sustentável no campo contribui para a melhoria da qualidade de vida das pessoas, para a redução do preço da cesta básica e para a exportação de produtos brasileiros, o que movimenta a economia e traz recursos para o País.

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