O cultivo de gergelim no Brasil passou de 53 mil hectares na safra 2018/2019 para 175 mil hectares na safra 2019/2020, um salto de 230% em apenas um ano. A produção cresceu 123%, saindo de 41,3 mil toneladas para 95,8 mil toneladas do grão. Nos últimos dez anos, o aumento da produção foi ainda mais expressivo, cerca de 20 vezes mais grãos do que as cinco mil toneladas registradas em 2010. Mato Grosso, sobretudo os municípios de Canarana e Água Boa, na região leste do estado, concentra a maior parte da produção.
O aumento da área de cultivo em segunda safra tem revelado que a cultura ainda carece de subsídios técnicos. Para atender a essa demanda, a Embrapa, a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e parceiros estão conduzindo diferentes pesquisas, abrangendo do melhoramento genético ao pós-colheita.
Em um dos trabalhos em andamento, amostras de gergelim colhidas em lavouras comerciais na safra de 2020 foram avaliadas com o objetivo de caracterizar os grãos produzidos em Mato Grosso. As análises mostraram que os manejos de colheita e de pós-colheita influenciam a qualidade do produto, tanto em suas características físicas quanto em sua composição química. Além disso, o uso de equipamentos adequados pode reduzir as perdas na colheita.
Foram avaliadas amostras de diferentes materiais, entre cultivares registradas e grãos misturados, com colheita mecanizada e manual. No caso da colheita manual, o cultivo é feito por produtores assentados da reforma agrária, que produzem em sistema agroecológico, com destinação do produto para o mercado japonês.
Nessas condições, verificou-se que produtores devem atentar nas boas práticas, uma vez que as análises de condutividade elétrica da solução de embebição das sementes mostraram um indicativo da presença de esporos de fungos, causando perda de qualidade dos grãos. Novas análises serão feitas com a produção da safra 2021, buscando identificar o tipo de contaminantes e se apresentam algum risco para o consumo.
“Faremos análises de antioxidantes e teste de sanidade de sementes para saber quais espécies fúngicas estão presentes. É muito comum fungos causadores de micotoxinas na nossa região de temperatura muito alta. As micotoxinas podem ser um problema se o destino do grão é consumo humano, mas não temos nada medido por enquanto”, esclarece a pesquisadora da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) Sílvia Campos.
As micotoxinas são motivo de preocupação constante na produção de castanha-do-brasil, por exemplo. Pesquisas já mostraram que boas práticas na coleta e armazenamento são capazes de evitar o problema.
Perdas na colheita
O gergelim até então vinha sendo cultivado em pequenas áreas, com pouca mecanização. Não existem ainda, no mercado, plataformas específicas para sua colheita, necessárias no caso da produção em áreas cada vez maiores. O uso de plataformas voltadas à colheita da soja, por exemplo, traz algumas dificuldades, pois as diferenças entre tamanho, peso, formato e umidade entre os grãos causam perdas que podem chegar a 50%.
Adaptações nessas plataformas, feitas pelos produtores dentro das fazendas, de modo a atender as especificidades do gergelim, estão demonstrando eficácia na redução das perdas. Pesquisas conduzidas pelo professor da Universidade Federal de Mato Grosso Diego Fiorese mostraram que em uma fazenda de Campo Novo do Parecis (MT), com duas plataformas adaptadas definitivamente para o gergelim, as perdas caíram para entre 15 e 13%.
A safra de 2021 será a terceira em que Diego Fiorese monitora as perdas na colheita em lavouras de Mato Grosso. De acordo com o professor, os dados coletados devem despertar a atenção dos produtores para o valor perdido e também de empresas regionais de implementos agrícolas para a viabilidade de produzir maquinário mais adequado à cultura. “Fazendo uma conta por alto, com uma perda média de 350 kg por hectare, são de R$ 150 a R$ 200 milhões que deixam de entrar no bolso dos produtores por perdas na colheita”, estima.
Fiorese destaca, no entanto, que as perdas na cultura do gergelim começam antes mesmo da colheita, devido ao fato de ser uma planta deiscente (foto ao lado), ou seja, ela tem como característica a abertura das cápsulas (frutos) quando estão maduros. Com isso, muitos grãos caem pela ação do vento, causando uma perda natural. De acordo com o professor, em média, 20% das perdas são naturais, 70% ocorrem na plataforma de colheita e 10% nos mecanismos internos da colhedora.
“Com nossa pesquisa, teremos um norte sobre como reduzir as perdas na colheita. Mas não a solução completa. Tudo que vemos hoje são adaptações feitas dentro da porteira. Soluções disponíveis no mercado devem demorar ainda três ou quatro anos para surgirem”, afirma.
Índice de germinação
Outra característica de pós-colheita analisada pelos pesquisadores em Mato Grosso foi o índice de germinação do gergelim, uma vez que o consumo de brotos é uma das destinações do produto. Os resultados mostraram que os materiais colhidos manualmente tiveram índice de germinação superior a 89%. Os colhidos de forma mecânica apresentaram germinação máxima de 86%.
“A causa dessa diferença pode ser a danificação da semente durante a colheita. Isso acontece com qualquer grão. A colheita mecanizada machuca o embrião, principalmente quando se usam equipamentos que não são os mais adequados”, explica Sílvia Campos.
Como muitos produtores salvam a própria semente, a menor taxa de germinação também resulta na necessidade de uso de mais sementes na hora de fazer a semeadura no ano seguinte.