Congresso Paulista de Fitopatologia discute o controle biológico e doenças de plantas

O Congresso Paulista de Fitopatologia 2022 foi realizado na Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), nos dias 14 e 15 de setembro

16.09.2022 | 15:02 (UTC -3)
Embrapa
O pesquisador Wagner Bettiol, a chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Paula Packer, e o presidente da Associação Paulista de Fitopatologia (APF), Edson Luiz Furtado. - Foto: M. Vicente
O pesquisador Wagner Bettiol, a chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, Paula Packer, e o presidente da Associação Paulista de Fitopatologia (APF), Edson Luiz Furtado. - Foto: M. Vicente

O   Congresso Paulista de Fitopatologia 2022 foi realizado na Embrapa Meio Ambiente, em Jaguariúna (SP), nos dias 14 e 15 de setembro e debateu o controle biológico de doenças de plantas e o microbioma do solo, que estão transformando os cultivos agrícolas.

Em sua 42ª edição, o evento reuniu mais de 250 participantes, entre representantes da academia, estudantes, instituições públicas e privadas e empresas parceiras e contou com 13 palestrantes convidados que apresentaram e discutiram temas relevantes e de interesse da comunidade científica e tecnológica. 

 No primeiro dia foi enfatizado que o biológico é o maior mercado do mundo e as empresas precisam se tornar independentes para que essa tecnologia seja genuinamente brasileira, além da importância da parte biológica do solo, desde sua formação, buscando estratégias de manejo para aumentar a qualidade do solo e de desempenho agronômico.
Outro ponto importante destacado é que o solo precisa ser manejado para manter uma boa diversidade para que as plantas possam selecionar organismos benéficos que as ajudem a crescer. 

Um resumo das exigências do esquema regulatório para produtos biológicos na Lei de Agroquímicos, regulamentada pelo Mapa, Anvisa e Ibama, mostra que o governo tem priorizado a análise desses produtos de baixo impacto, com uma equipe dedicada realizando essa avaliação no melhor período possível e aprovação de 8 a 10 meses em média, um dos melhores prazos em comparação com outros países. O número de produtos aprovados aumentou substancialmente nos últimos anos. Foram 92 produtos no ano passado e 60 este ano, até agosto. Provavelmente em 2022 o país vai experimentar recordes em registros cadastrais.

O histórico dos resultados dos ensaios da Rede de Ensaios de Controle Biológico do Mofo Branco na Soja mostrou a importância na escolha, não só de produtos, mas também de antagonistas para fazer o controle biológico dessa doença importante na cultura, onde se estima que cerca de 27% da soja no Brasil é infestada com esse fungo. As perdas variam em torno de 30%, podendo chegar a 70% e o controle biológico é uma das medidas de controle que devem ser integradas a outras, uma vez que individualmente nenhuma delas é eficiente.

O funcionamento das formulações micro e nanoencapsuladas de bioagentes é uma janela de oportunidades para usar o mesmo raciocínio das formulações sólidas para veicular fertilizantes nitrogenados, potássio e outros, usando aproximadamente a mesma lógica para proteger os microrganismos. Percebeu-se a necessidade de proteger esses microrganismos contra ação UV, melhorar a entrega deles em campo, como, por exemplo, evitar a exsudação, o ataque de outros microrganismos.
Descobriu-se que a melhor estratégia era substituir os materiais de encapsulamento por amido, outros polímeros de origem renovável, rochas fosfáticas, rochas potássicas, micronutrientes e até materiais mais sofisticados como nanoceluloses, para sistemas com algumas especificidades maiores para facilitar a aplicação, permitindo fazer a administração do bioagente na forma sólida diretamente na raiz, facilitando a sua multiplicação.

Já no segundo dia, foi debatido as oportunidades da inovação aberta na área de produção e comercialização de insumos biológicos, com os novos paradigmas de parcerias, universo e a necessidade de se ligar todos os pontos – desenvolvimento de ativos, incorporação de novos produtos no mercado e inserção em Políticas Públicas – na arquitetura da nova economia circular.
Também foi mostrado estudo do microbioma do solo e a ocorrência de fitopatógenos e antagonistas em diversas áreas de produção agrícola, que demonstrou a necessidade de recuperação da biodiversidade do solo por meio de manejos adequados e a incorporação de insumos de base biológica em substituição ao modelo tradicional.

Questões sobre a produção e uso de bioinsumos biológicos no controle de doenças em grandes culturas, análise crítica da produção on farm, necessidade de a realização de especificação de referência e a oportunidade de realizar o biocontrole de plantas daninhas foram igualmente debatidas no último dia do congresso.
Encerrado o evento, foi realizada a assembleia da Associação Paulista de Fitopatologia. 

Premiados

O Prêmio Paulista de Fitopatologia é dado a pessoas que contribuíram de forma relevante para o desenvolvimento do tema. Elke Cardoso, do Instituto Agronômico, recebeu o prêmio referente a 2019. Kátia Brunelli Braga recebeu referente a 2021. 
Já o Prêmio Summa Phytopathologica é anual e atribuído ao melhor trabalho científico publicado nessa revista. Referente a 2020, foi para Ícaro Fier, Thiado Balsalobre, Roberto Chapola, Hernannhoffmann e Monalisa Carneiro pelo trabalho Field resistance gene linked ro G1 marker in Brazilian cultivar of sugarcane.
Referente a 2021, foi para Renato Braga e Marcelo Pavan pelo trabalho Resistência de pimentão ao PEP YMV-LINS e obtenção de híbridos resistes. O congresso teve o apoio da Fundag e das empresas patrocinadoras Agrivalle, Biotrop, Jacto, Orion, Sakata, Vigna Brasil e Vittia.

Biocontrole: contribuição da pesquisa 

A Embrapa Meio Ambiente desempenhou um papel relevante na história da pesquisa com microrganismos no Brasil, que inclui a biodegradação e biorremediação de pesticidas e bioprospecção de microrganismos para a exploração da biodiversidade brasileira. Os estudos do corpo de pesquisadores foram, temporalmente, bastante contributivos para o desenvolvimento do controle biológico no país que, para além das pesquisas e publicações no tema, contribuíram formando e treinando estudantes de pós-graduação e doutorado e também nas participações das discussões sobre legislação junto aos órgãos estaduais e federais de controle. Por fim, prestou relevante contribuição na criação da Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico – ABCBIO.

Acervo biológico

Para melhorar a qualidade das pesquisas na área de microbiologia na busca de novos insumos, a Embrapa Meio Ambiente possui uma rica diversidade de microrganismos de alta importância agrícola e ambiental. São microrganismos osmóticos isolados da Caatinga, bactérias psicrofílicas da Antártica, bactérias halofílicas de manguezais, fungos celulolíticos da Amazônia e bactérias envolvidas na degradação de petróleo e xenobióticos. Na busca por novas aplicações biotecnológicas, a coleção se apresenta como provedora de pesquisas microbianas multifuncionais voltadas à descoberta de novos compostos de importância agrícola, ambiental e industrial.

Como ressalta o pesquisador Rodrigo Mendes, embora o setor de bioimportação tenha crescido exponencialmente nos últimos anos, ainda é sustentado por um número muito limitado de cepas microbianas. “Por essa razão, a continuidade do crescimento do setor depende da ampliação da diversidade de microrganismos usados como bioprodutos. Com um histórico de projetos de bioprospecção em diversos biomas, a Embrapa Meio Ambiente mantém a Coleção de Microrganismos - CMAA, com centenas de microrganismos, que representa uma “mina de ouro” para o desenvolvimento de novos bioprodutos” disse Mendes.

O Case Auras

A partir de isolados de actinobactérias da coleção do CMAA, potencialmente ativas no controle biológico de patógenos de plantas e na promoção do crescimento de plantas em solos secos, nasceu o primeiro inoculante bacteriano para promoção de crescimento e proteção de plantas contra a seca, gerando posteriormente o produto Auras, desenvolvido em parceria entre a Embrapa e a empresa NOOA Ciência e Tecnologia Agrícola. 

Laura Bononi, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento na NOOA enfatiza que o Auras surgiu de uma parceria com a Embrapa que durou de 2017 até 2021, quando o produto finalmente ficou apto ao mercado, mas antes disso já haviam 12 anos de estudo com os microrganismos na Embrapa.
 “Acho que isso já mostra o potencial do microrganismo e hoje o Auras é bastante Importante para a empresa, pois possui a chancela da tecnologia Embrapa, fato que agrega muito, pois dá muito resultado quando aplicado em plantas sob condição de estresse abiótico e principalmente estresse hídrico, o que denota que essa parceria é extremamente Importante, do ponto de vista da qualidade e do resultado do produto. Os produtores que usam o produto relatam satisfação com os resultados na lavoura”, conclui.

Evolução do mercado de biológico

O Congresso serviu ainda para alinhar os dados de evolução do mercado de bioinsumo, apresentados por Cristiano Limberger da Spark Inteligência Estratégica. Os números mostram um crescimento do setor de biológicos de 42% nas últimas 6 safras, considerando os principais cultivos – soja, milho e cana.
Trichodermma é o princípio biológico mais usado, tratando 8,36 mi de hectares e que apresentou um crescimento de mais de 54% de 2018 até 2022.
O Bacillus subtilis obteve um crescimento mais expressivo no período, aumentando 30% e já soma mais de 3,4% de hectares tratados

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