Pesquisador do IAC recebe prêmio por pesquisa com aplicação de bactérias benéficas em cana
Ele foi premiado na categoria pós-doc na Brazilian Bioenergy Science and Technology Conference
A queima-da-bainha, causada por Rhizoctonia solani, foi relatada pela primeira vez no Japão em 1910 e posteriormente se espalhou por toda a região de cultivo no mundo. É a principal doença do complexo de doenças fúngicas do colmo e da bainha em arroz, e economicamente a mais importante, principalmente em sistemas intensivos de produção em todo o mundo, afetando especialmente as cultivares com alto potencial produtivo, tanto em regiões de clima temperado como tropical. É uma doença de difícil manejo, por se tratar de um fungo de solo, que produz estrutura de resistência chamada de escleródios, que podem sobreviver por um longo período no solo, e por apresentar uma ampla gama de hospedeiros. Além do arroz, é capaz de infectar aproximadamente 250 espécies, incluindo plantas daninhas e plantas cultivadas como cevada, espinafre, alface, tomate, painço, feijão, soja, entre outras.
No Brasil, a ocorrência da queima-da-bainha foi relatada pela primeira vez, em 1967, no estado de São Paulo. Atualmente, a doença ocorre em todas as lavouras, tanto em sistema de cultivo irrigado tropical e subtropical, quanto de terras altas, em maior ou menor grau de severidade, com potencial para causar danos expressivos na produtividade e na qualidade final dos grãos, devido à introdução de cultivares do tipo moderno, porte semianão e com grande número de perfilhos e, principalmente, onde o arroz é plantado em rotação com a soja, que também é hospedeira de R. solani. O aumento do número de escleródios no campo durante o cultivo de soja serve como fonte de inóculo primário para a cultura de arroz. A maioria das cultivares de arroz e de soja é suscetível a R. solani, consequentemente a densidade de inóculo no solo aumenta ano a ano com a rotação arroz -soja.
O inóculo primário, aquele que vai iniciar a infecção das plantas, é constituído pelos escleródios e micélio que sobrevivem no solo e estão presentes em restos culturais. O fungo é disseminado rapidamente pela água de irrigação e/ou pelo movimento do solo durante a aração, preparo do solo. Os escleródios sobrevivem até dois anos e aumentam no solo com o tempo, flutuam na água, acumulam-se ao redor da planta do arroz e causam infecção inicial nos colmos, na altura do nível da água, ou passam de planta a planta pelo contato entre elas (Figura 1).
Os sintomas da doença ocorrem, geralmente, nas bainhas e nos colmos (Figura 1) e são caracterizados por manchas ovaladas, elípticas ou arredondadas, de coloração branco-acinzentada e bordas marrons bem definidas. Em ataques severos, observam-se manchas semelhantes nas folhas, porém com aspecto irregular.
As condições que favorecem o desenvolvimento da doença e aumentam a sua severidade são baixa luminosidade, alta umidade em torno de 95% e temperatura entre 28°C e 32°C. Elevados teores de matéria orgânica, altas doses de nitrogênio e fósforo, acompanhados de uma alta densidade de semeadura, rotações de arroz com soja e o plantio de cultivares altamente suscetíveis contribuem para o aumento da severidade da doença. Bem como os danos causados por insetos, como broca do colmo e percevejo, que predispõem a planta à infecção pelo fungo.
A doença se desenvolve rapidamente durante a floração, quando o dossel é mais denso e fechado, formando um microclima favorável ao crescimento e propagação do fungo. Os sintomas visíveis de doenças de plantas incluem a formação de lesões, o acamamento de plantas e a presença de grãos vazios. Grandes lesões formadas nas bainhas infectadas das folhas inferiores do arroz podem levar ao acamamento e à obstrução do transporte de água, nutrientes e assimilados de carboidratos pelos vasos condutores (xilema e floema), afetando o enchimento do grão. O secamento das folhas (Figura 2) reduz a capacidade fotossintética, a biomassa total e por consequência a produção. A ocorrência da doença na fase de iniciação da panícula ou floração causa uma redução do peso total dos grãos devido a uma menor porcentagem de espiguetas cheias e resulta em perdas significativas de rendimento. A propagação e a intensidade da doença dependem da quantidade de inóculo presente no material de plantio e do inóculo residual da safra anterior.
É comum que os produtores apliquem altas doses de nitrogênio, às vezes acima da necessária ou recomendada para o cultivo do arroz. Isso resulta em um crescimento vegetativo de um verde exuberante, criando um microclima favorável ao desenvolvimento da doença, onde se tem um maior número de perfilhos e maior retenção de umidade dentro do dossel.
Os danos causados por esta enfermidade podem ser reduzidos significativamente por meio do manejo integrado, com a utilização de práticas culturais mais adequadas, uso de cultivares resistentes, controle químico e controle biológico.
Características morfológicas como altura de plantas, duração do ciclo, número de perfilhos, comprimento e largura da folha bandeira e espessura ou resistência do colmo podem estar associadas à suscetibilidade da planta à doença. Plantas com arquitetura moderna são mais suscetíveis. Sabendo disso, deve-se estar atento às outras medidas a serem adotadas, para minimizar ou evitar a ocorrência da doença, como utilização de adubação nitrogenada equilibrada, densidade de semeadura recomendada e uso racional de herbicidas para o controle de plantas daninhas hospedeiras.
A rotação do arroz com outras gramíneas pode reduzir a incidência da doença, bem como a fertilização com silício (Si) tem se mostrado um método promissor de controle de queima-da-bainha. Monitoramento regular para detecção precoce de fonte de inóculo, eliminação de restos culturais, drenagem da área, evitar movimento de máquinas com consequente movimento e transporte de escleródios para outras áreas.
O melhoramento com o objetivo de resistência à queima-da-bainha é dificultado principalmente pela falta de identificação de variedades doadoras. Até o momento, nenhum genótipo de arroz, no mundo, foi identificado como imune à doença, apesar de níveis diferentes de resistência terem sido relatados. Os esforços para o desenvolvimento de cultivares resistentes à queima-da-bainha foram moderadamente bem-sucedidos, principalmente devido à falta de fonte de resistência no arroz cultivado ou em espécies selvagens relacionadas. A falta de genitores contrastantes quanto à reação à doença dificulta a validação de marcadores moleculares no desenvolvimento de cultivares resistentes. No entanto, cultivares de arroz variando de suscetíveis a moderadamente resistentes à queima-da-bainha estão disponíveis para cultivo.
Recentemente, na Embrapa Arroz e Feijão, foram avaliados 100 genótipos, em casa de vegetação e em campo quanto à resistência à queima-da-bainha. Destes, foram selecionados dois genótipos que apresentaram resistência parcial e que serão utilizados para a validação de marcadores moleculares, para o uso na seleção assistida no desenvolvimento de cultivares com resistência. Em outro estudo foi observada correlação positiva e significativa entre a severidade da queima-da-bainha avaliada no campo e em casa de vegetação. A avaliação preliminar em condições controladas de casa de vegetação, para a busca de resistência, é mais segura e uniforme que no campo, onde ocorrem simultaneamente várias outras doenças de colmo (Figura 3)
Cientistas do mundo inteiro continuam trabalhando na busca da resistência genética para o controle da doença.
Atualmente, no Brasil, o portfólio para o controle de queima- da-bainha em arroz é praticamente nulo. Existem fungicidas registrados para o controle de Rhizoctonia solani em outras culturas, porém para o uso em na cultura do arroz, as opções são quase nulas. Em outros países, os fungicidas sistêmicos pertencentes ao grupo da estrobilurina são amplamente utilizados para combater a doença. Dentro deste grupo, o fungicida azoxistrobina tem funcionado eficazmente no controle do patógeno. O número de aplicações e a composição do fungicida dependem da intensidade da doença e do nível de resistência da cultivar adotada. Os benefícios do controle usando fungicidas inclui menor incidência de doenças, provável redução de inóculo, e melhores rendimentos e qualidade de grãos. Porém, é preciso estar atento ao uso correto dessa tecnologia, para evitar a seleção de estirpes resistentes ao produto. Normalmente, o uso de fungicidas é recomendado em duas aplicações: uma entre as fases de elongação dos entrenós do colmo e iniciação da panícula, e outra na emissão das panículas.
O sucesso no controle da queima-da-bainha por meio de uso de bioagentes tem sido relatado em várias partes do mundo. Os mais utilizados são espécies de Trichoderma, Pseudomonas e Bacillus. A eficácia deste controle parece depender do momento e do número de aplicações, e ainda da combinação entre bioagentes.
Estudos realizados na Embrapa Arroz e Feijão identificaram isolados de bactérias promotoras de crescimento e de Trichoderma sp., que apresentaram resultados promissores na redução da severidade da queima-da-bainha e de outras doenças, bem como a capacidade de estimular o crescimento da raiz da cultura do arroz. Estes estudos se encontram em estágio avançado, em avaliações de campo, e em seguida estudos de formulações.
A melhor opção para o controle da queima-da-bainha em arroz é a utilização do manejo integrado, em que todos os métodos disponíveis de controle são implementados, cada um contribui em algum nível para a supressão da doença, compensando a deficiência um do outro.
Por Valacia Lemes da Silva Lobo, Embrapa Arroz e Feijão
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