O cultivo de morangos de Adriano Cavalcante, em Tianguá, no Ceará, começou há cerca de um ano e atende ao mercado local com uma produção de cerca de 1kg de frutos por planta. Desde o início, no plantio das primeiras mudas, o produtor, até então, inexperiente optou pela implementação do sistema biológico para produzir e prevenir pragas na cultura de morangos.
Já, a engenheira agrônoma e produtora Helga Paiva pretende aumentar o uso de bioinsumos nas plantações de soja, milho e trigo, que cultiva em Ibiá, Minas Gerais, há duas décadas.
Além de utilizarem bioinsumos em seus cultivos, ambos têm em comum a participação na primeira turma de capacitação para a produção de bioinsumos, realizada pela Escola Nacional de Gestão Agropecuária (Enagro) e encerrada no começo deste mês. O curso na modalidade de educação à distância teve 3.141 inscritos e foi o segundo com maior procura nesta gestão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Proporcionalmente ao crescimento expressivo do uso de bioinsumos na produção agropecuária nacional, também aumenta a procura do público por capacitação sobre como implementar esse sistema e utilizar bioprodutos em suas produções.
O consumo de bioinsumos pelos produtores cresce em todo o mundo na ordem de 15% ao ano. No Brasil, as taxas atingem quase o dobro, com índice de 28% e movimentação de mais de R$ 1 bilhão.
Em 2020, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) registrou 95 defensivos de baixo risco, entre produtos biológicos, microbianos, semioquímicos, bioquímicos, extratos vegetais, reguladores de crescimento. Em relação ao ano anterior, o aumento é de 121% no número de registros.
A utilização de produtos de base biológica auxilia na redução da importação de produtos químicos, gerando um impacto socioeconômico na região. É o que explica o presidente do Conselho Estratégico do Programa Bioinsumos, Alessandro Cruvinel. “A partir da produção de bioinsumos no país, é possível tornar toda a cadeia mais sustentável e responsável, com a produção local, mitigação de gases de efeito estufa, além da geração de empregos na região”.
Capacitação para a produção de bioinsumos
Por isso, tanto para agricultores quanto para os técnicos do Ministério, a capacitação se faz tão importante para o uso de forma correta de bactérias e fungos como recursos biológicos na defesa de pragas e doenças.
Devido ao grande sucesso do primeiro curso de capacitação sobre produção de bioinsumos, estão previstas outras cinco turmas, sendo uma delas ainda para este ano.
“O uso de bioinsumos é de suma importância para a produção nacional e o entendimento do uso de bactérias e outros como bioinsumos permite, na prática, uma melhor forma de aproveitamento da produção, principalmente no impulso da sustentabilidade. Além do que proporciona alimentos mais saudáveis para as famílias”, destaca Adriano Cavalcante.
Com o objetivo de começar a produzir os próprios insumos biológicos, Helga defende os treinamentos para que “os agricultores conheçam os micro-organismos mais eficientes e aprendam as formas corretas de multiplicação deles”.
Para Alessandro Cruvinel, os produtores estão acreditando, cada vez mais, neste sistema, de forma a integrar as grandes culturas nacionais a um processo de cultivo e produção biológico. “Havia uma percepção de que a produção de sistema biológico era voltada a um nicho específico e não atenderia a um grande produtor. A gente conseguiu romper essa barreira nos últimos anos”.
O presidente do Conselho Estratégico do Programa Bioinsumos ainda defende que há um mercado promissor a ser explorado, já que o Brasil reúne 20% de toda a biodiversidade do planeta e, grande parcela dela ainda não é utilizada com essa finalidade.
Programa Nacional de Bioinsumos
Criado há mais de um ano, o Programa Bioinsumos caracteriza essa tecnologia para muito além dos produtos aplicados na lavoura. O termo bioinsumos define ainda os processos e tecnologias - de origem vegetal, animal ou microbiana -, destinados ao uso nos diversos sistemas de produção agrícolas, pecuários, aquícolas e florestais.
No nicho do controle biológico, há bioinsumos com o perfil de atuação como bioinseticidas, biofungicitadas, bionematicidas para aplicação em plantas. Já para a fertilidade do solo há biofertilizantes, bioinoculantes, bioestimulantes.
Além de estarem presentes também na etapa chamada de “depois da porteira”, no armazenamento e beneficiamento dos alimentos. Já na agropecuária, os bioinsumos podem ser encontrados em produtos veterinários como vacinas, medicamentos, antissépticos, fitoterápicos dentre outros destinados à prevenção, ao diagnóstico, à cura ou ao tratamento das doenças dos animais.