Calendário mostra a produtor do Pampa quando plantar espécies nativas

Produtores rurais do bioma Pampa contam agora com um material didático inédito para auxiliar na recomposição ambiental de suas propriedades

18.12.2018 | 21:59 (UTC -3)
Cristiane Betemps

Trata-se do Bioma Pampa – Época de Coleta de Frutos e Sementes Nativos para Recomposição Ambiental, um calendário que indica, mês a mês, as épocas propícias para coletar sementes e plantar espécies nativas nas fazendas.

A publicação é fruto da pesquisa da Embrapa, com o apoio de instituições parceiras, e é um dos produtos do projeto WebAmbiente, ferramenta que ajuda o produtor rural a fazer a recomposição ambiental de maneira personalizada e organizou um banco de dados digital contendo informações sobre espécies e estratégias para adequação ambiental da paisagem rural. A tecnologia foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e com o Ministério do Meio Ambiente (MMA).

O material dá suporte à regularização das propriedades rurais que não faziam a recomposição da vegetação natural, a fim de que possam recompor passivos ambientais, identificados no Cadastro Ambiental Rural (CAR).

O pesquisador Ernestino de Souza Gomes Guarino, responsável técnico do calendário de coleta de espécies para o Bioma Pampa, explica que o material surgiu para guiar tanto coletores de sementes, como produtores de mudas, ao indicar a melhor época da coleta. "Isso foi feito para todos os biomas do Brasil, e foi uma resposta da Embrapa a uma demanda do novo Código Florestal. Foi feito para esse público, para que ele saiba qual a época ideal para ir ao campo coletar sementes das espécies indicadas para restauração ecológica das diferentes formações vegetais de cada bioma brasileiro", conta.

Segundo o pesquisador, essa estratégia é indicada para que o trabalho dos coletores seja otimizado. "Algumas espécies têm maior demanda e é possível direcionar o trabalho para isso. Desse modo pode-se investir esforços na melhor época para fazer a coleta daquela espécie", enfatiza.

O formato do calendário

A publicação está disponível, na forma impressa e em meio digital no site do WebAmbiente e foi pensada para ser utilizada em mais de um ano. "Ela não é apenas para 2018. O calendário tem uma vida mais longa, pode ser utilizado em qualquer ano que a pessoa vá coletar sementes", destaca o pesquisador da Embrapa Ernestino Guarino.

O material apresenta, mês a mês, todas as espécies de plantas nativas, co seus nomes científicos e populares, quais terão floração ou frutificação naquele período. Janeiro, por exemplo, é um dos meses que possui maior conjunto de espécies nativas do Pampa (cerca de 70). Nele está indicada a sequência de sete dias da semana para os próximos anos, e o agricultor pode fazer as anotações no dia da semana em que fez aquela coleta. Ou seja, o usuário pode usar o mesmo 15 de janeiro para fazer diversas anotações ao longo de anos. "É uma grande agenda, na qual o agricultor vai anotar quando coletou a espécie e outras observações que ele julgar necessário registrar", completa Guarino.

No fim do material há uma galeria de fotos, capturadas em viagens de campo da equipe de pesquisa, e informações baseadas em dados de bibliografia, incluindo o conhecimento prático de muitas pessoas envolvidas no trabalho. "Nesse catálogo de fotos, o agricultor poderá ver a espécie nativa no campo, para saber o que ele está coletando, e fazer uma identificação correta", conta.

O trabalho de resgate de informações começou em 2014 e contou com a colaboração de pesquisadores das Universidades Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul (FZB/RS), da Embrapa Clima Temperado (RS) e da Embrapa Pecuária Sul (RS).

Por que restaurar a vegetação nativa?

Além da obrigação legal, a restauração de ecossistemas, principalmente daqueles localizados nas margens de cursos d'água (por exemplo, matas de galeria) proporciona serviços ambientais como a melhoria da qualidade da água e proteção da biodiversidade. "A grande vantagem dessa prática é melhorar a qualidade do ambiente dentro da propriedade agrícola. E isso acaba gerando impactos para o próprio agricultor e sua propriedade, como também para outros agricultores daquela mesma região, que se tornam beneficiários indiretamente", defende o pesquisador da Embrapa Ernestino Guarino.

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