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Dissertação de mestrado defendida na Universidade Federal de Lavras (Ufla) contribui para abandonar a idéia de que o cafeeiro não responde à aplicação de altas doses de fósforo (P) no solo em sua fase de produção, sobretudo, em solos de baixa fertilidade.
As conclusões de Thiago Henrique Pereira Reis reafirmam a visão de uma nova corrente que busca repensar o sistema produtivo do cafeeiro, visando torná-lo mais eficiente, competitivo e sustentável. Neste estudo, que recebe o apoio financeiro do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café, observou-se que o cafeeiro irrigado respondeu à adubação fosfatada, obtendo uma produtividade média de 70 sacas em seis anos avaliados com a maior dose de P2O5 (400 Kg/ha).
A pesquisa de Thiago Reis segue a linha adotada pelos pesquisadores da Embrapa Cerrados, da equipe do pesquisador Antônio Fernando Guerra, aprofundando os conhecimentos quanto ao comportamento e disponibilidade de fósforo no solo, observados no âmbito do sistema solo-planta. O estudo questiona os atuais critérios de recomendação de adubação fosfatada para o cafeeiro. Desta forma, buscou caracterizar a disponibilidade de P quando da aplicação de maiores doses do nutriente, por meio de seu fracionamento no solo. Constatou-se que a maior parte dos compostos fosfatados está na fração biodisponível, ou seja, aquela ainda disponível às plantas. Também se buscou caracterizar a variação das formas inorgânicas de fósforo ligadas a Ferro (Fe), Alumínio (Al) e Cálcio (Ca), por meio do fracionamento das mesmas, ao longo dos ciclos de cultivo.
Sob orientação do professor Antônio Eduardo Furtini Neto e coorientação do pesquisador da Epamig, Paulo Tácito Gontijo Guimarães, o estudo quantificou as frações do nutriente em função da produtividade do cafeeiro em dois experimentos com solos distintos: em um Latossolo Vermelho distrófico, em área irrigada localizada em Planaltina (DF), no Campo Experimental da Embrapa Cerrados, e em um Argissolo Vermelho distrófico, em área de sequeiro, em Cabo Verde, Sul de Minas Gerais.
A conclusão do estudo de Thiago Reis revela que o fósforo aplicado ao solo encontra-se na fração biodisponível, principalmente ligado ao Alumínio, sendo esta a forma que predominantemente fornece o nutriente ao cafeeiro. Vale lembrar que o fósforo total (PT) é composto de frações orgânicas e inorgânicas do nutriente e apresentam diferentes graus de disponibilidade para as plantas. Nesse sentido, analisando-se os resultados obtidos pelo fracionamento do P inorgânico, onde não ocorreu a adição de P no solo (dose 0 kg ha de P2O5), observou-se que a maior parte do nutriente esteve complexada com Fe, prevalecendo a ordem P-Fe>P-Al>P-Ca, para todas as camadas avaliadas nos dois anos (0 a 10, 10 a 20 e 20 a 40cm).
À medida que as doses de P no solo foram aumentadas, todas as frações inorgânicas do nutriente aumentaram, de modo mais expressivo o P-Al, seguido do P-Fe e, posteriormente, o P-Ca. Esse comportamento foi observado com maior destaque na camada de 0 a 10 cm, uma vez que a adubação fosfatada na cultura do cafeeiro ocorre em superfície, sem haver incorporação, sendo o nutriente de baixa mobilidade no solo.
De maneira geral, os maiores ganhos de produtividade do cafeeiro foram constatados a partir da dose anual de 200 kg/ha de P2O5. Esses resultados mostram-se expressivos em relação a estudos anteriores, quando foram analisadas doses de 0 a 180 kg de P2O5 e incrementos da ordem de 12 a 16% na produtividade. Na área de sequeiro avaliada, a produtividade foi de 69,5 sacas beneficiadas/ha, na safra 2008, para a área que recebeu 300 kg/ha de P2O5 e 38,8 sacas beneficiadas/ha para a área adubada convencionalmente. Neste experimento, localizado no Sul de Minas, além da maior produtividade, a aplicação de alta dose de fósforo ainda resultou em um menor efeito da bienalidade, mantendo-se a produtividade acima de 60 sacas/ha nos dois anos avaliados.
Por muitos anos, o cafeeiro foi considerado uma planta que não respondia à aplicação de doses de fósforo no solo em sua fase de produção. Provavelmente, chegou-se a esta conclusão devido ao fato do fósforo ser um dos nutrientes menos exportados pelo cafeeiro, como descrito nos trabalhos do professor Eurípides Malavolta, que também creditava ao nutriente o papel de armazenar e transferir energia para a planta. Além disso, anteriormente, o cafeeiro era cultivado em solos de média a alta fertilidade e a maioria das fazendas experimentais nas diferentes regiões do mundo situava-se em localidades nessas condições. Entretanto, alguns trabalhos têm mostrado que esta planta consegue responder a incrementos de fósforo, principalmente nos solos de baixa fertilidade como os originalmente sob cerrado.
As pesquisas acerca do comportamento do fósforo no solo foram intensificadas a partir do desenvolvimento da tecnologia do estresse hídrico controlado pela equipe da Embrapa Cerrados. Existia uma demanda crescente por informações sobre a influência de adubações fosfatadas no desenvolvimento, vigor das plantas e pegamento da florada. Existia a idéia de que o nível de fósforo observado nas análises do solo de alguma forma estaria inadequado para as plantas. Neste sentido, o estudo de Thiago Reis retoma os trabalhos que focalizam a importância do fósforo na formação e manutenção dos cafeeiros.
Os resultados demonstram que o ajuste nutricional é necessário também nas lavouras de sequeiro, visando garantir o desenvolvimento das plantas e o pegamento da próxima safra, sobretudo, para lavouras de alta performance. Contudo, ainda há necessidade de responder muitas indagações a respeito do assunto.
Cibele Aguiar
Embrapa Café
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