Brasil utiliza mais de 130 milhões de doses de inoculantes biológicos nas lavouras

Melhorias nas culturas, ganhos em produtividade e benefícios ao meio ambiente são destaques

28.07.2023 | 14:49 (UTC -3)
Michele Stella, edição Cultivar

Um cenário promissor para o mercado de insumos biológicos para a agricultura tem se estabelecido desde o último ano. Com mais de 130 milhões de doses de inoculantes biológicos comercializados e ganhos de 16% na produtividade da soja com a coinoculação, os benefícios não se restringem apenas apenas aos agricultores, mas os insumos também se mostram favoráveis ao meio ambiente, substituindo os fertilizantes químicos nitrogenados e reduzindo o uso de outros fertilizantes minerais fosfatados.

Segundo Mariangela Hungria da Cunha, pesquisadora da Embrapa, com a fixação biológica do nitrogênio (FBN), há uma redução estimada de 5,4 toneladas de equivalentes de dióxido de carbono (CO2) por hectare na cultura de soja. Os dados são apontados tendo como base a produtividade atual dessa oleaginosa no Brasil. Contabilizando os mais de 44 milhões de hectares, o resultado é de uma expressiva redução de 236 milhões de toneladas de equivalentes de CO2 que deixam de ser liberados na atmosfera.

Ainda de acordo com a pesquisadora, o Brasil tem potencial para melhorar esse cenário e atingir o número de 240 milhões de toneladas de equivalentes de CO2 não emitidas, somando o potencial do milho ao da soja. Em valores, isso representaria uma economia na compra de fertilizantes químicos de 27,4 bilhões de dólares para o mercado agro brasileiro.

"Esses benefícios econômicos e ambientais resultam em ganhos sociais, melhorando não só a qualidade de vida dos agricultores, mas também de toda a sociedade", avalia, e acrescenta: "tão importante quanto esses benefícios, é mostrar que o investimento de longo prazo em pesquisas dá retorno econômico e ambiental ao país. Certamente, sem a pesquisa em FBN, o Brasil não se posicionaria como o maior produtor e exportador mundial de soja, pois os custos com fertilizantes nitrogenados inviabilizariam a competitividade", conclui.

Benefícios na cultura do milho

Outro case de sucesso quando se trata dos benefícios do uso de inoculantes biológicos para os produtores e meio ambiente é a cultura do milho, destaca Mariângela. Recentemente, estudos da Embrapa endossaram a substituição de 25% da adubação nitrogenada de cobertura pela inoculação com Azospirillum brasilense no cultivo. Isso equivale a uma redução potencial no custo de produção de cerca de R$ 119,19/ha, ou seja, de mais de 0,5 bilhão de dólares para o país, considerando os 22,51 milhões de hectares de milho plantados.

Para o diretor executivo da Associação Nacional dos Produtores e Importadores de Inoculantes (Anpii), Solon Cordeiro de Araújo, o ambiente agrícola está aceitando e buscando cada vez mais os insumos biológicos. "De produtos alternativos, eles estão passando a ser a primeira opção dos agricultores. Para a manutenção deste cenário, é necessário continuar com um forte esquema de pesquisa e desenvolvimento, proporcionando produtos ainda com maior eficiência para o produtor rural", considera.

Alguns entraves ainda precisam ser superados no Brasil, salienta ele, principalmente considerando nichos que utilizam de forma errada os insumos biológicos, que exigem cuidados em sua aplicação para sua maior eficiência. Atualmente, das 130 milhões de doses de inoculantes biológicos comercializadas no país, cerca de 80% são destinadas ao cultivo da soja, seguida pelo milho e trigo. A proposta é que outras culturas também sejam beneficiadas, e os resultados de pesquisas são fundamentais neste contexto.

"Além de representar politicamente o setor de inoculantes no âmbito político e regulatório, a Anpii tem um amplo trabalho de cooperação com as áreas de pesquisa, visando novos e mais eficientes produtos", explica. O diretor executivo também salienta o desenvolvimento de pesquisas científicas na forma de Aliança Estratégica Tecnológica, que reúne todas as empresas em estudos na fase pré-competitiva.

Agricultura sustentável

Mariangela destaca que o Brasil é reconhecido internacionalmente como o país que mais se beneficia do uso de microrganismos na agricultura. Um dos desafios apontados pela pesquisadora é alcançar e atender melhor os pequenos produtores e disponibilizar produtos para outras culturas.

Para ela, o cenário indica uma busca constante pela inovação por parte de pesquisadores, da indústria e dos representantes públicos no legislativo, que devem fiscalizar e estimular boas práticas de fabricação.

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