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A banana, um cultivo essencial para a segurança alimentar global e para a subsistência de milhões de pequenos produtores agrícolas, enfrenta sua ameaça mais grave em décadas: a cepa Tropical Race 4 (TR4) do fungo Fusarium provoca uma verdadeira pandemia nas plantações e as está devastando em diversos países.
A TR4, que causa uma doença que se propaga com grande facilidade, já está presente na América Latina e no Caribe. Não se conhece uma cura, o que torna imprescindível um esforço coordenado de diversos atores dos setores público e privado para gerar conhecimento científico, construir capacidades entre os produtores e conter a doença, de maneira a assegurar a continuidade da produção de um cultivo que é alimento e fonte de receita para uma parcela significativa da população, especialmente nos países em vias de desenvolvimento.
Assim o afirmaram os cientistas Gert Kema e Chelly Hresko, dois dos especialistas que mais têm investigado o tema no mundo, em uma conversa organizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA).
“Pode ser surpreendente saber como a banana é importante para tanta gente, especialmente para as pessoas vulneráveis, cuja seleção de comidas é limitada. Ela representa até 25% das calorias que incorporam diariamente. E é cultivada em 135 países, sustentando as receitas de inúmeros pequenos produtores”, disse Hresko.
Hresko, responsável por Inovação em Pesquisa e Desenvolvimento para Doenças e por Eficiência Agrícola na Organização de Biotecnologia de Bayer, acrescentou: “A principal dificuldade que enfrentamos é que não podemos contar com a magia da química para nos livrar dessa doença. Tudo o que podemos fazer, enquanto desenvolvemos conhecimentos científicos, é treinar os produtores sobre as melhores formas de contenção. É um desafio muito complexo”.
Kema explicou que a cepa TR4 do fungo Fusarium ataca a variedade de banana Cavendish, que hoje abrange aproximadamente 50% da produção global de banana, 95% dos mercados de exportação e é a única que comercializada de forma massiva na América Latina e no Caribe, bem como no Ocidente em geral.
Essa variedade é dominante nos mercados globais há cerca de 70 anos, por sua resistência natural ao chamado Fusarium Race 1, que havia dizimado a produção de banana Gros Michel, a mais propagada até então.
“A Cavendish tem sido uma solução tão maravilhosa nos últimos 70 anos, que praticamente não tem havido investigação para entender o que é exatamente a doença TR4 e como as plantações podem se proteger dela”, relatou Kema, que dirige o laboratório de fitopatologia — a ciência que estuda as doenças das plantas — da Universidade de Wageningen, nos Países Baixos.
“Portanto, não é de surpreender que, assim que essa doença veio à tona, em pouco tempo se converteu em uma ameaça para toda a produção. Agora enfrentamos uma situação que, em certos aspectos, é uma repetição da história que aconteceu com a variedade Gros Michel”, acrescentou.
O especialista explicou que a doença, hoje transformada em ameaça global, foi detectada pela primeira vez na Jordânia, mas se originou no Sudeste Asiático, assim como a própria banana: “A TR4 é uma espécie particular de Fusarium que começou na Indonésia, disseminou-se pelo restante do Sudeste Asiático e, agora, está se movendo para o oeste: Índia, Paquistão, Oriente Médio, África e, depois, Colômbia”.
A presença da doença na Colômbia — único país da América Latina e do Caribe até o momento — foi confirmada oficialmente em 2019 pelo Instituto Colombiano Agropecuário (ICA), que a detectou em plantações no norte do país. Não existe uma resposta precisa sobre como e por que chegou até lá.
“Também poderia ter sido qualquer outro país produtor de bananas na América Latina ou no Caribe. Foi completamente aleatório”, disse Kema.
O cientista, que tem 38 anos de experiência no estudo de patologias das plantas, explicou: “Sabemos que a doença é transmitida pelo solo, mas não há razões para concluir que, com o transporte das bananas, a contaminação se propague. Entendemos que a principal razão da disseminação são os viajantes e, nesse sentido, no setor da banana há muitos riscos, pois os trabalhadores costumam ir de um país para outro”, explicou Kema.
Portanto, como medida preventiva, é necessário assegurar a higiene dos que estão perto dos cultivos de bananas. “Se você usa suas botas em uma plantação de Filipinas — disse Kema — e, em seguida, calça-as novamente na Costa Rica, isso é muito perigoso. Se o solo estiver contaminado, contaminará seus sapatos, sua roupa, suas ferramentas”.
O perito sugeriu aos produtores que reduzam a presença de visitas em suas plantações e recomendou que, se não tiver outra alternativa a não ser receber os visitantes, eles que “cheguem limpos e partam limpos”, para que não se corra o risco de trazerem ou levarem a doença.
Chelly Hresko acrescentou que a primeira doença causada pelo fungo Fusarium, na primeira metade do século XX, que matou a variedade de bananas Gros Michel, expandiu-se a um ritmo muito mais lento, pois, na época, as pessoas viajavam menos pelo mundo.
Nesse sentido, a pandemia de Covid-19, com as severas restrições às viagens que trouxe acopladas, é um fator que pode retardar a propagação da TR4.
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