Artigo - Trigo tipo exportação

29.10.2008 | 21:59 (UTC -3)

Não, caro leitor, infelizmente ainda não estamos exportando trigo, ao menos não como excedente de produção, já que o Brasil ainda é o maior importador mundial deste cereal. O que a Embrapa Trigo mais exportou neste mês de outubro foi o conhecimento sobre a cultura do trigo. Foram aprendizes de Moçambique, Paraguai, França e Tunísia. Com a campanha global para acabar com a fome no mundo promovida pela FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - o trigo volta a assumir o papel de alimento barato e nutritivo nas populações mais carentes. É o caso da África, onde culturas como trigo, arroz e milho passam a ganhar incentivos governamentais para o fomento nas comunidades agrícolas.

Em Moçambique, onde o Presidente Lula acaba de assinar acordos de cooperação técnica para produção de alimentos, o país passou de 100% importador para uma área de três mil hectares de trigo em 2008, ainda muito distante dos 11.500 hectares sonhados no Plano Nacional do Trigo de Moçambique, que pretende expandir a área em apenas três anos. Falta de sementes e, principalmente, maior conhecimento de campo limitam as expectativas do Governo Guebuza, num processo de recente saída do regime socialista que até hoje impõe o uso coletivo das terras agrícolas. Trinta dias foi o tempo de treinamento de seis técnicos do Ministério da Agricultura de Moçambique para absorver o conhecimento que a Embrapa Trigo aprimorou em mais de três décadas de pesquisa e transferência. Conciliar os interesses quando aspectos técnicos se misturam aos aspectos políticos é o maior desafio para o grupo de Moçambicanos que leva do Brasil a lição da organização na cadeia produtiva de uma das mais importantes commodities mundiais.

Aumentar a área cultivada com trigo no Paraguai é o motivo da visita de dois pesquisadores da Dirección de Investigación Agrícola (DIA), que dedicam a semana para trocar experiências na produção de sementes. O Paraguai é o terceiro maior produtor de trigo no Mercosul, logo atrás da Argentina e do Brasil. Já o pesquisador da França, país onde o rendimento médio por hectare é quatro vezes maior que o nosso, vem ao Brasil pela simples curiosidade de acompanhar nosso crescimento com a soma da biotecnologia e das pesquisas em campo.

Vencer as adversidades do ambiente para produzir um cereal do frio num país tropical úmido é o que mais chama a atenção dos pesquisadores que visitam as lavouras brasileiras. Dois países disputam a corrida pelo trigo resistente à seca: Brasil e Austrália, potenciais candidatos tanto pelas exigências do clima, quanto pela qualidade técnica dos seus quadros de pesquisa.

Vitrine para o mundo, mas janela para o produtor. Enquanto os estrangeiros copiam nossos exemplos bem sucedidos, o triticultor acompanha o mercado lá fora com muita apreensão. Depender dos preços do mercado internacional para vender a produção é ironia num país que importa 70% do trigo que consome. Mas isso é outra história... Primeiro vamos tentar colher os “louros” nesta safra que promete ser uma das melhores “pra gringo ver”. Isso se o clima deixar.

Joseani M. Antunes

Assessoria de Comunicação

Embrapa Trigo

(54)3316.5800 / www.cnpt.embrapa.br

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