Velocidade certa da máquina para boa semeadura

Na semeadura mecanizada, diversos fatores interferem no estabelecimento do estande de plantas e na produtividade; a velocidade de operação da máquina no campo é um deles

13.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

A operação de semeadura é decisiva para o estabelecimento de culturas. Nos preparos conservacionistas, sua importância aumenta, visto que as condições do solo e de cobertura vegetal geralmente não são tão favoráveis à deposição das sementes quanto as verificadas nos preparos utilizados com alta mobilização.

Durante a semeadura mecanizada, diversos fatores interferem no estabelecimento do estande de plantas e na produtividade da cultura, sendo a velocidade de operação da máquina no campo, um deles. Segundo pesquisadores, este parâmetro pode influenciar na patinagem dos rodados; na capacidade de campo; na velocidade do mecanismo dosador; na distância, profundidade e exposição de sementes; na deposição de sementes em duplas e nos danos mecânicos.

Nos dias atuais, o tempo para semeadura é cada vez menor em função do clima, das condições do solo e da disponibilidade de máquinas, principalmente porque os produtores estão trabalhando em áreas maiores para diminuir custos, evidentemente todos esses fatores são afetados pela velocidade de semeadura.

DESUNIFORMIDADE NA DISTRIBUIÇÃO

A desuniformidade na distribuição longitudinal de sementes implica um aproveitamento ineficiente dos recursos disponíveis, como luz, água e nutrientes. A eficiência das semeadoras-adubadoras é avaliada pela qualidade e quantidade de trabalho que executam. A quantidade é obtida pela capacidade de trabalho por unidade de tempo e os fatores que interferem mais diretamente são a largura de trabalho e a velocidade de deslocamento.

A obtenção de sucesso em sistema de semeadura direta e a seleção de velocidades adequadas para as semeadoras-adubadoras são, sem dúvida, uma ação necessária para manutenção da eficácia do sistema. Um estudo realizado no Centro de Desenvolvimento e Difusão de Tecnologias da Faculdade Assis Gurgacz, de Cascavel (PR), avaliou a produtividade do milho em função do aumento da velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora em sistema de plantio direto.

O EXPERIMENTO

O experimento foi realizado em um Latossolo vermelho, objetivando avaliar a produtividade do milho em função do aumento da velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora (5km/h, 6km/h, 7km/h e 8km/h) em sistema de plantio direto.

Foi utilizado o híbrido Pionner-30F53, sendo tratado com inseticida. A distribuição das sementes e do fertilizante foi igual para todas as parcelas, onde a máquina foi regulada para distribuir 330kg/ha da formulação 08-20-20 (N-P2O5-K 2O), adubação baseada na análise de solo e cultura a ser implantada.

MÁQUINAS E IMPLEMENTOS UTILIZADOS

Na operação de semeadura utilizou-se uma semeadora-adubadora de precisão, marca Marchesan, modelo PST3 TRA, de arrasto, equipada com cinco linhas espaçadas a 0,80m, sistema de transmissão por correntes e engrenagens intercambiáveis, dosador de sementes tipo disco perfurado horizontal, disco liso de 15” para corte da palhada, haste sulcadora para deposição do fertilizante, discos duplos defasados com 13” e 15” para deposição de sementes, rodas compactadoras e reguladoras de profundidade, rodas em “V” para recobrimento das sementes. O conjunto foi tracionado por um trator marca Massey Ferguson, modelo 5285, potência no motor de 62,5kW (85cv), 4 x 2 TDA (tração dianteira auxiliar). Para determinação da velocidade de deslocamento, utilizou-se uma unidade de radar da Dickey-john, modelo DJRVS II, com erro menor que 3% para velocidade de 3,2km/h a 70,8km/h, monitorando a velocidade instantânea em que o conjunto percorreu a unidade experimental, delimitada por duas balizas de madeira.

VELOCIDADES TRATOR-SEMEADORA

Os resultados evidenciaram que o aumento da velocidade na operação de semeadura do conjunto avaliado para 7km/h e 8km/h proporcionou uma redução na profundidade de deposição e aumentou o espaçamento entre sementes. Praticamente não houve alteração do índice de velocidade de emergência e da população inicial e final de plantas do milho utilizado com a elevação da velocidade do conjunto trator-semeadora (Tabela 1). Alguns pesquisadores encontraram resultados semelhantes, verificando que a uniformidade de distribuição de sementes na linha de semeadura não foi influenciada pelas velocidades de deslocamento do conjunto trator-semeadora na implantação das culturas de milho e soja.

COMPONENTES DE PRODUTIVIDADE

Os resultados apresentados na Tabela 2 evidenciam que o aumento de velocidade do conjunto trator-semeadora praticamente não alterou a altura de inserção de espigas, o diâmetro do colmo e a massa de mil grãos. Os quais apresentaram valores bastante semelhantes entre si. O diâmetro de colmo e a altura de inserção de espigas apresentaram o mesmo comportamento, indicando que as plantas apresentaram uniformidade na distribuição longitudinal. Devido à distribuição uniforme de sementes na linha de semeadura, não houve nenhuma anomalia fisiológica, pois a concorrência por nutrientes ficou na mesma proporção. O aumento da velocidade de 5km/h para 8km/h reduziu a produtividade do milho em 8,36%, embora esta redução não seja considerada significativa de acordo com o teste estatístico utilizado. Diversos pesquisadores também verificaram que o aumento da velocidade de deslocamento do conjunto trator-semeadora afetou a distribuição longitudinal de sementes e, consequentemente, provocou redução do rendimento de grãos de milho, relatando ainda que a velocidade na operação de semeadura é um dos parâmetros que mais influenciam no desempenho de semeadoras.

No presente estudo pode ser concluído que o aumento da velocidade na operação de semeadura reduziu a profundidade de deposição e aumentou o espaçamento entre sementes. O percentual de distribuição de sementes e o estande inicial e final de plantas praticamente não foram afetados pelo aumento das velocidades do conjunto trator- semeadora avaliado, havendo uma tendência na redução da produtividade com a elevação da velocidade do conjunto de 5km/h para 8km/h.

Métodos e parâmetros avaliados durante o experimento

A uniformidade de distribuição longitudinal de sementes na linha de semeadura foi avaliada com o auxílio de uma trena para medir o espaçamento entre sementes, em duas linhas, descartando-se as linhas laterais e a linha central de semeadura de cada parcela experimental, visto que a semeadora possuía cinco linhas. Este procedimento foi realizado removendo-se cuidadosamente o solo na linha se semeadura para expor as sementes, esticando-se uma trena no fundo do sulco, realizando-se a leitura dos espaçamentos de uma semente a outra e anotando os valores em planilha de campo. As avaliações foram embasadas nas recomendações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (1996), que considera como aceitáveis todos os espaçamentos entre sementes de 0,5 e 1,5 vez o espaçamento médio (EM) esperado. Os valores obtidos fora desse limite foram considerados como espaçamentos falhos (acima de 1,5 vez EM) ou múltiplos (abaixo de 0,5 vez EM).

A profundidade de deposição das sementes de milho foi determinada em duas linhas de semeadura por parcela experimental. Em cada linha foi determinada a profundidade de dez sementes. Com uma espátula removeu-se cuidadosamente o solo sobre as sementes de forma a não retirá-la do seu local de deposição. Com as sementes descobertas determinou-se a distância da borda do sulco até o ponto onde se encontrava a semente.

Para determinar a população inicial existente nas parcelas se efetuou a contagem das plantas em todas as parcelas; a contagem foi manual, aproximadamente dez dias após a germinação. A população final foi determinada através da contagem de todas as plantas, em todas as parcelas, no mesmo dia que foi realizada a colheita final do experimento.

A produtividade foi realizada após a colheita das parcelas de forma manual, onde as espigas foram depositadas em sacos plásticos devidamente catalogados e encaminhadas para debulha mecânica. A massa de grãos foi corrigida para 14% de umidade. Os dados foram submetidos à análise de variância, utilizando-se o teste “F” a 5% de probabilidade. Em seguida, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Nas análises estatísticas foi utilizado o programa computacional Sisvar 5.0.

Detalhes da instrumentação do conjunto trator e semeadora para testar os efeitos da velocidade na qualidade do plantio.
Detalhes da instrumentação do conjunto trator e semeadora para testar os efeitos da velocidade na qualidade do plantio.
Linhas de plantio após a passagem de semeadora a 5km/h.
Linhas de plantio após a passagem de semeadora a 5km/h.


Suedêmio de Lima Silva, Anailson de Sousa Alves, Ufersa; Paulo Roberto de Souza Silveira, UFC; Joaquim Odilon Pereira, Tayd Dayvison Custódio Peixoto, Ufersa


Artigo publicado na edição 151 da Cultivar Máquinas. 

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