Com a chegada do verão e início das chuvas, a viticultura passa pelo momento mais crítico com relação ao míldio, doença causada pelo fungo
- provavelmente a mais séria das doenças para a cultura da uva. O míldio é uma doença mundial, sendo problema onde o desenvolvimento da cultura é acompanhado pela alta umidade e temperaturas moderadas a quentes. A temperatura ótima para o desenvolvimento da doença é de 18oC a 24oC, com um mínimo de 12oC a 13oC e um máximo de 30oC.
Um dos danos é causar queda prematura das folhas da videira, o que resulta num desenvolvimento anormal do fruto. O fruto atacado pode resultar numa perda de produção que chega a 75% se as plantas não forem pulverizadas, além de se ter uma redução na quantidade de açúcar nas bagas. O míldio ataca tanto as uvas européias (
) como as americanas, sendo as primeiras mais suscetíveis à doença. Outro problema relacionado ao míldio é a perda de folhas e seu impacto na safra seguinte, onde as reservas de carboidratos podem ser menores, a maturação pode ser retardada, etc.
No início de 2000 ocorreram problemas com as uvas no Vale do São Francisco, ocasionados pelo ataque do míldio. Houve um período de chuva muito intenso, associado ao calor da região, tendo a doença encontrado as condições climáticas favoráveis ao seu desenvolvimento. Na região de Jundiaí houve talhões que tiveram de ser repodados devido ao ataque do míldio nos cachos na pré-florada (todos os cachos foram perdidos).
Sintomas da doença
Os sintomas iniciam com uma pequena mancha amarela-esverdeada, conhecida como “mancha de óleo”; em condições de alta umidade, na página inferior da folha, no mesmo local das manchas, aparecem corpos de frutificação do fungo, em alguns casos conhecido como “mofo”. Com o passar do tempo essas manchas passam a ter uma coloração pardo-avermelhada, podendo atingir toda a folha e levar à queda prematura. Com menor número de folhas a nutrição da planta é comprometida, o desenvolvimento dos cachos é afetado e a produção do ano seguinte sofrerá impacto.
O míldio pode atacar os frutos desde a floração até um pouco antes do início da maturação, o que causa uma perda direta na produção do ano. A doença incidindo sobre as flores ou no pedúnculo causa a seca e a queda das mesmas; sobre as bagas pequenas teremos a paralisação do crescimento, endurecimento das bagas, eflorescimento branco, seguidos de frutos secos e enegrecidos. Se o ataque do míldio ocorrer nas bagas com mais da metade do desenvolvimento, a uva ficará manchada, com depressões em vários pontos, empardecerá, amolecerá e cairá com facilidade.
Ciclo da doença
Plasmopara viticola é um parasita obrigatório, ou seja, esse fungo não consegue se desenvolver se a videira não tiver partes verdes (crescendo vegetativamente). Devido às nossas condições tropicais, as videiras conseguem crescer durante o ano todo, conseqüentemente, o fungo consegue produzir esporos assexuais (“sementes” do fungo) continuadamente.
Em uma planta infectada o fungo irá frutificar, produzindo os esporângios; esses por sua vez, sofrem uma diferenciação e produzem os zoosporos (as “sementes” do fungo). Essas estruturas caindo sobre uma nova planta irão se movimentar por uns 30 minutos (devido aos flagelos); depois irão encistar e posteriormente emitir o tubo germinativo que irá iniciar a penetração através dos estômatos. A partir desse ponto o fungo começa a se desenvolver entre as células da planta e a se alimentar dos nutrientes das mesmas através dos haustórios.
Controle do fungo
Entre as medidas para controlar a doença, podemos recomendar:
• Escolher um bom espaçamento, para que haja uma boa circulação de ar dentro da folhagem da videira, evitando assim a formação de um microclima favorável ao desenvolvimento da doença.
• Manter o campo limpo, sem plantas daninhas.
• Fazer os despontes e as desfolhas para facilitar a circulação de ar e uma maior penetração de luz solar.
• Usar cultivares mais resistentes à doença, como a uva Niagara, por exemplo.
• Utilizar o controle químico, o que vem a ser o método mais eficaz no controle da doença. O uso de fungicidas protetores como os mancozeb e cobre apresentam grande performance sobre o patógeno, mas em épocas de muitas chuvas há a necessidade de se utilizar fungicidas mais específicos para a doença, como o Curzate (cymoxanil + maneb), que apresenta vários modos de ação sobre o míldio, dificultando o surgimento de patógenos resistentes.
André Luís Moraes
DuPont do Brasil
Tendências e perspectivas no MT
Para o enólogo no Centro de Enologia de Toulose, França, Jean-Lucien Cabirol, há decréscimo na produção de uvas na Europa. O país que ainda se mantém como grande produtor é a Itália. O mais alto percentual de consumo está na França. Não só para a uva de mesa, como também de vinho. Esse quadro pode ser favorável ao Brasil, país com grande potencial para a cultura.
Aqui, o consumo de vinho ocupa a terceira colocação (em primeiro lugar vem as bebidas a base de rum e, em seguida, a cerveja). O vinho ocupa apenas 5% do consumo nacional. Os estados que ainda se mantém como grandes produtores de uva de mesa são o Paraná, a Bahia e Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul. Estes estados exportam para a Europa e Estados Unidos. No contexto nacional Mato Grosso participa com cerca de mil toneladas, cultivados em mais ou menos 120 hectares. A maior área plantada – 60 hectares - está situada na Grande Primavera (região que compreende os municípios de Primavera do Leste, parte de Campo Verde, Dom Aquino, Poxoréo, General Carneiro, Paranatinga e Novo São Joaquim).
As variedades consideradas destaque no estado são a Niágara e a Patrícia. No caso da Niágara, a produtividade média é de vinte toneladas por hectare, e da Patrícia, 30 toneladas. Vale ressaltar que alguns viticultores de Primavera do Leste chegaram a colher 27 toneladas da Niágara e até 40 da Patrícia. O montante foi atingido nos meses consideradas ideais para a colheita (que vão de junho a outubro). Alguns dos produtores tencionam aumentar a área cultivada. O crescente interesse em expandir a comercialização, que até então era restrita ao interior do estado, é um dos itens que os leva a fomentar a expansão. Em nível de conhecimento de mercado algumas negociações já foram concretizadas nos estados de São Paulo e Roraima. Todavia, como destaca o engenheiro agrônomo da Apriviti, Ricardo Paulo Karmann Neto, “foi apenas a título de conhecimento”. A vulnerabilidade da cultura em Mato Grosso, diz ele, ocorre na época das chuvas (de janeiro a abril). Neste período a uva fica mais suscetível ao míldio, que pode ter como conseqüência até a perda total da safra. Outra: caso ocorram chuvas quando do início do amadurecimento a fruta poderá apodrecer.
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