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A mancha parda (Bipolaris oryzae) é uma doença agressiva na cultura do arroz. No Brasil é responsável por redução de produtividade e de rendimento dos grãos, com prejuízos sérios ao beneficiamento. Pelo baixo custo de implantação, o tratamento de sementes é uma ferramenta importante para prevenir problemas causados por este fungo
A mancha parda do arroz, causada pelo fungo Bipolaris oryzae, destaca-se pela importância e caráter endêmico nas lavouras brasileiras de arroz. O fungo está disseminado em todo mundo e seu potencial de dano varia entre regiões e anos em uma mesma região. Na Ásia, a mancha parda é tão ou mais importante que a temida brusone (Pyricularia oryzae), em termos de danos totais na produção do arroz naquele continente. Historicamente, a doença dizimou quase que por completo lavouras de arroz no episódio conhecido como “a catástrofe de Bengala”, região próxima à Índia, no ano de 1942. No Brasil, não apenas a produtividade do arroz é afetada, pela diminuição da área fotossintética da planta, mas também o rendimento em função de danos aos grãos, como manchas e gessamento, prejudicando o beneficiamento.
Além dos danos diretos em produtividade e rendimento de engenho, B. oryzae pode sobreviver na semente por períodos superiores a seis meses e se transmitir para a plântula com a germinação da semente. Tal fato destaca o fungo como importante patógeno das sementes com potencial de danos no estabelecimento da cultura. Além disso, em condições favoráveis à doença, uma transmissão semente-plântula com sucesso pode resultar na ocorrência precoce da epidemia da mancha parda na lavoura se as condições para a doença se mantiverem favoráveis.
Mesmo com todos os riscos apontados que envolvem B. oryzae e a produção de sementes de arroz, poucos são os estudos de caráter epidemiológico que buscam elucidar a importância de B. oryzae na semente e impactos à cultura. Em uma pesquisa de três anos conduzida por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), Universidade Rural da Campanha (Urcamp) e Universidade Federal de Pelotas (UFPel), foi feito um monitoramento da sanidade de sementes no estado do Rio Grande do Sul e estudado o efeito do uso de sementes infectadas com B. oryzae na epidemia de mancha parda e cultura do arroz irrigado.
Análises sanitárias de sementes de arroz produzidas no Rio Grande do Sul foram realizadas durante as safras de 2008/09, 2009/10 e 2010/11. A amostragem totalizou 722 lotes provenientes de campos de produção de sementes certificados pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e distribuídos nas seis principais zonas produtoras do estado. No total, lotes de 11 diferentes cultivares foram coletados. Análise de prevalência (frequência de lotes infectados) e incidência (percentual do fungo em um lote) de espécies de Bipolaris nas sementes foram realizadas através do teste de substrato de papel filtro, identificando-se a presença de estruturas fúngicas em grãos (Figura 1).
Observou-se que 74% dos lotes apresentaram-se infectados com duas espécies de Bipolaris. A espécie mais prevalente é B. oryzae (62,6%) seguida de B. cynodontis (10.2%), detectada nas três safras analisadas em todas as regiões e cultivares, com incidência média nas amostras positivas de 0,57%. Já B. oryzae foi encontrado em todos os anos e regiões produtoras com incidência média de 6,7%, mas com ampla variação (0,5% a 81,5%). Essas variações foram devido à safra amostrada, sendo 6,1%, 3,7% e 2,9% para os anos de 2008/09, 2009/10 e 2010/11, respectivamente. Houve variação na incidência média de B. oryzae também em relação à região de produção (Figura 2). A maior incidência média ocorreu na região da planície costeira interna com 15% na safra de 2008/09, variando de 0% a 81% nas 40 amostras analisadas. A Fronteira Oeste foi a que apresentou maior número de amostras (99 amostras), porém, com menor incidência média (0,6%), quando comparada com as demais.
A variação entre safras e regiões é atribuída a condições ambientais e de manejo da cultura. Além da variação climática entre anos (principalmente precipitação durante o período de cultivo), as seis regiões orizícolas do Rio Grande do Sul apresentam características edafoclimáticas distintas que implicam em variações no risco para a ocorrência de doenças. Na região da Planície Costeira Interna e Externa, caracterizada por solos mais arenosos e umidade relativa do ar alta durante o período de cultivo do arroz, os riscos de doenças foliares são maiores e consequentemente a contaminação de grãos. Por outro lado, condições contrárias às observadas naquelas regiões são atribuídas à região da Fronteira Oeste, o que explica a menor incidência média geral de B. oryzae observada.
O estudo também mostrou que a cultivar utilizada pode influenciar na incidência de B. oryzae em sementes produzidas. Para as duas cultivares mais amostradas no estudo (75% dos lotes coletados), Puitá Inta CL e Irga 424, os níveis de incidência foram de 1,6% e 9,5% (média das três safras), respectivamente.
Experimentos de campo foram conduzidos nas mesmas três safras, nos municípios gaúchos de Cachoeirinha e Bagé, em diferentes épocas de semeadura, totalizando 11 experimentos. Os tratamentos consistiram no uso de seis lotes de sementes inoculadas artificialmente com B. oryzae seguindo um incremento exponencial (0%, 3%, 6%, 12%, 24% e 48%) de incidência do fungo nas sementes. As avalições envolveram a caracterização de fatores ligados à cultura do arroz e sobre a epidemia da mancha parda. Em relação à epidemia avaliou-se a incidência de mancha parda no estádio vegetativo (proporção de plantas com sintomas), severidade de mancha parda no estádio reprodutivo (proporção da área com lesões em relação à área total da folha bandeira) e incidência de grãos colhidos infectados com B. oryzae. Para a cultura, obersvou-se o estande inicial de plantas (em estádio de quatro folhas) e a produtividade final de grãos (Figura 3).
Os resultados mostram que o uso de sementes infectadas com B. oryzae tem efeito sobre a epidemia em condições de clima mais favorável à doença. Dentre os 11 experimentos, constatou-se efeito significativo dos níveis de infecção em semente sobre a área abaixo da curva de progresso da incidência e severidade da doença (variável clássica para estudos epidemiológicos) em apenas dois ensaios, ambos conduzidos em Bagé durante a safra 2009/10. Os resultados são relacionados às condições ambientais ocorridas durante aquela safra, notadamente sob a influência do fenômeno El Niño. A precipitação mensal acumulada para os meses de novembro a março foi a maior dentre as três safras observadas, com precipitação acumulada para o mês de novembro cinco vezes maior que a esperada para o município de Bagé. Condições que, conjuntamente com a maior temperatura média para os meses de dezembro a fevereiro e a menor luminosidade no período em função da maior quantidade de chuvas, propiciaram a manifestação precoce e mais intensa da epidemia para aquela safra.
Em relação às variáveis relacionadas à cultura do arroz, observou-se efeito da infestação de sementes com redução do estande de plantas em sete dos oito experimentos onde essa variável foi avaliada (Figura 4). As reduções de estande chegaram a 48% para um ensaio em Bagé, implicando na não germinação de nenhuma semente infectada para aquele caso. Contudo, mesmo com os efeitos observados na epidemia de mancha parda e estande inicial de plantas de arroz, não se observou efeito dos tratamentos na produtividade final de arroz em nenhum dos experimentos. É possível que a capacidade compensatória conferida pelo perfilhamento da planta de arroz tenha sido suficiente para recuperar as perdas de estande pelo uso das sementes infectadas.
As observações feitas nessa pesquisa ajudam a esclarecer o quadro geral em relação à sanidade das lavouras de produção certificada de sementes no estado do Rio Grande do Sul. Além disso, apontam para os riscos associados ao uso de sementes de arroz infectadas por B. oryzae. Os resultados de ambos os estudos constituem uma boa notícia para a cadeia produtiva do arroz irrigado. Primeiro, evidencia uma boa qualidade das sementes, com níveis de B. oryzae bem abaixo de relatos anteriores da década de 1990 e início da década de 2000. Tal fato pode estar associado à maior qualidade do manejo adotado por produtores de sementes certificadas ou à produção de maior volume de sementes em regiões com mais baixo risco, como a região Fronteira Oeste do Estado. Segundo, mostra que o impacto do uso de sementes infectadas tende a ser minimizado pela capacidade da planta em compensar a redução da densidade de plantas. No entanto, salienta-se que o uso de sementes infectadas é desaconselhável sob qualquer hipótese, pois a semente pode carregar diversos outros patógenos que podem causar danos à lavoura. No presente estudo, utilizaram-se sementes de alta qualidade sanitária e que foram infectadas artificialmente com um único patógeno. Práticas de manejo de relativo baixo custo aos produtores como o tratamento de sementes resultam em maior segurança e menor risco de perdas aos produtores que já dispõem de sementes de arroz com boa qualidade sanitária.
A produtividade de arroz irrigado no Sul do Brasil teve incrementos significativos nos últimos 15 anos, especialmente devido à ampla adoção de melhores práticas de manejo pelos produtores, como as preconizadas pelo Projeto 10 do Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga). O incremento gira em torno de 70% entre os anos de 2002 e 2014, conforme dados do instituto. No entanto, alguns fatores bióticos ainda ameaçam os cultivos, especialmente o ataque de insetos-praga e de doenças, principalmente aquelas causadas por fungos.
André A. Schwanck, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Emerson M. Del Ponte, Universidade Federal de Viçosa; Priscila R. Meneses, Universidade Federal de Pelotas; Candida R. J. de Farias, Universidade Federal de Pelotas; Gustavo R. D. Funck, Instituto Rio Grandense do Arroz
André A. Schwanck, Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Emerson M. Del Ponte, Universidade Federal de Viçosa; Priscila R. Meneses, Universidade Federal de Pelotas; Candida R. J. de Farias, Universidade Federal de Pelotas; Gustavo R. D. Funck, Instituto Rio Grandense do Arroz
Artigo publicado na edição 192 da Cultivar Grandes Culturas.
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