Solo: um sistema vivo e complexo
Por Guilherme Bavia, engenheiro agrônomo e gerente técnico da Alltech Crop Science
O fator chave para que o produtor possa obter sucesso com a dessecação reside em acertar o momento exato de realizá-la. Aplicações antecipadas podem reduzir significativamente a produtividade da soja ao mesmo tempo em que as realizadas com atraso não apresentarão bons resultados na antecipação da colheita, objetivo principal da operação.
A dessecação da soja foi muito utilizada no Brasil na década de 90. Em função de falhas no manejo de plantas daninhas, a colheita mecanizada tornava-se uma prática muito difícil. Assim, a dessecação era indispensável para facilitar a colheita dos grãos e reduzir perdas. Após a inserção no campo e expansão da soja RR, o controle das plantas daninhas melhorou, reduzindo a necessidade da utilização da prática de dessecação, com esta finalidade.
No cenário atual, a dessecação em soja proporciona benefícios importantes para os produtores, como: facilitar a colheita dos grãos, escalonamento da colheita e semeadura (milho 2a safra) com consequente otimização do uso de máquinas (colhedora e semeadora), uniformização da maturação, redução de impurezas nos grãos, redução do custo de secagem dos grãos, aproveitamento de melhores condições comerciais da soja, antecipação da semeadura do milho de inverno aumentando o potencial produtivo e reduzindo o risco de perdas por geadas e secas deste cultivo. Estima-se que na região Oeste do estado do Paraná mais de 30% das áreas são dessecadas anualmente. Na região de atuação da Copacol, na safra 2014/15, foram dessecadas 45% das áreas comerciais de soja. (Figura 1).
Os ativos mais utilizados e registrados para dessecação de soja RR são: paraquat, diquat e glufosinato de amônio, presentes em diversas marcas comerciais (Tabela 1). A aplicação destes produtos para dessecar a soja, representa acréscimo no custo de produção. Na última safra, o custo médio do produtor paranaense para dessecar um hectare de soja foi de R$ 41,82. Esse custo já foi maior, porém com o registro de diversas marcas de produtos genéricos do paraquate houve um aumento da oferta de marcas e diminuição do preço para o produtor (Figura 2).
Diante deste cenário a equipe do Centro de Pesquisa Agrícola da Copacol (CPA), elaborou um ensaio na safra 2014/15 para avaliar o melhor produto e momento adequado para dessecação da soja. O ensaio foi montado em blocos ao acaso e delineamento de tratamentos fatorial. Avaliou-se três produtos distintos: paraquate, diquate, e glufosinato de amônio, na dose de 2,0 L/ha do produto comercial e três momentos de dessecação: 20 dias, 15 dias e 10 dias antes da maturação de colheita da soja, com quatro repetições.
A cultivar utilizada foi a BMX Alvo RR que possui ciclo de aproximadamente 120 dias para a região. A semeadura ocorreu no dia 12/10/2014, com a utilização de 330 kg/ ha do fertilizante formulado 04-24-16 (N-P2O5-K2O) e espaçamento entre linhas de 45cm. Os tratos culturais foram realizados de acordo com as recomendações oficiais para cultivo da soja na região oeste do Paraná. Em 23/01/2015 foram demarcadas as parcelas com cinco linhas e 10 metros de comprimento. Na mesma data foram aplicados os tratamentos na primeira época de aplicação (20 dias antes da maturação de colheita). No dia 28/01/2015 e 02/02/2015, foram aplicadas a segunda e terceira época, 15 dias e 10 dias antes da maturação de colheita, respectivamente (Figura 3). As aplicações foram realizadas com equipamento pressurizado a CO2, utilizando ponta de pulverização XR 110 02, e 300 L/ ha de vazão.
No dia 12/02/2015 todas as parcelas foram colhidas, determinando a produtividade e massa de mil grãos (MMG). A massa das parcelas foi corrigida para umidade de 13%. Os dados foram submetidos à ANOVA utilizando-se teste de regressão para as épocas de aplicação.
Não houve diferenças entre os produtos aplicados, tanto para à produtividade, quanto para a MMG. Porém ocorreu resposta significativa em função da época de aplicação dos produtos. Quanto maior a antecipação, maiores foram as perdas de produtividade e redução da MMG. Como pode ser visto nas Figura 4 e 5, a dessecação 20 dias antes da maturação de colheita causou uma redução de 904 kg/ ha (15 sc/ha). Observa-se perda em todas as épocas de dessecação, porém foram menores abaixo dos 10 dias (<5% de perdas).
A redução de produtividade está relacionada à prematura queda das folhas. A perda total da área foliar cessa a produção e a translocação de fotoassimilados das folhas para os grãos. Com interrupção da translocação, ocorre redução na MMG, que é um dos componentes de rendimento que interfere diretamente na produtividade da soja. Na Figura 5, observa-se que com a dessecação antecipada de 20 dias, reduziu-se em 22,83 g grãos1000.
Na Tabela 2, está apresentada a estimativa do percentual de perda diária (dias antes da maturação de colheita), calculada a partir da equação obtida no ensaio (Figura 4). Aplicações realizadas antes de 7 dias da maturação de colheita, possuem maior taxa de perda diária de produtividade. Portanto, os benefícios e subtrações obtidos pela dessecação devem ser devidamente calculados.
Avaliar a real necessidade da dessecação é fundamental. Assim entender a dinâmica dos sistemas de cultivos (sucessão de culturas) adotados na propriedade, oferta de maquinas, espécies e quantidade de plantas daninhas presentes, uniformidade da lavoura de soja e previsão das condições climáticas que serão enfrentadas, são alguns dos pontos que devem ser avaliados para tomar a decisão sobre a necessidade da dessecação.
Quando adotada, o fator chave de sucesso da dessecação está em acertar o momento correto de realiza-la. Aplicações antecipadas podem reduzir significativamente a produtividade da soja, diminuindo assim a rentabilidade do produtor rural. Por outro lado, a aplicação atrasada não apresentará resultados significativos na antecipação da colheita, objetivo principal da operação, elevando custo de produção sem o retorno esperado.
Fernando Fávero, Tiago Madalosso, CPA/Copacol
Artigo publicado na edição 202 da Cultivar Grandes Culturas.
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