Temível inseto

A mosca-branca é capaz de atacar diversas culturas, causando danos diretos e indiretos.

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

A mosca-branca da espécie

entrou no Brasil no final de 1990, inicialmente no estado de São Paulo, disseminando-se rapidamente por quase todo o país, atacando diversas culturas como tomate, repolho, melão, abobrinha, algodão, feijão, soja, uva, além de plantas daninhas e ornamentais.

Esse inseto causa danos diretos e indiretos às culturas. Os danos diretos ocorrem quando o inseto se alimenta da seiva, e são observadas alterações no desenvolvimento vegetativo e reprodutivo das plantas. Em abobrinha, essa desordem é responsável pelo prateamento da folha. Em brássicas há um branqueamento do caule. Em poinsétia e outras ornamentais ocorre um clareamento das veias na folhagem. Em algodão há a queda precoce de folhas e as fibras tornam-se manchadas pela secreção do inseto. Em tomate, os frutos apresentam um amadurecimento irregular, o que dificulta o reconhecimento do ponto de colheita. Em tomate industrial, há uma redução da produção e da qualidade da pasta. Em geral, elevadas populações podem causar perdas de até 50% na produção.

Os danos indiretos são causados pela excreção de substâncias açucaradas, que cobrem as folhas e servem de substrato para fungos, resultando na formação da fumagina (um fungo preto). Como conseqüência, o processo de fotossíntese é afetado, e há uma redução na produção e qualidade dos frutos. Em poinsétia e outras plantas ornamentais a fumagina pode ocorrer em toda a planta, comprometendo o aspecto ornamental e comercial. Outro dano indireto, considerado o mais importante, ocorre quando o inseto atua como vetor de vírus, como os geminivírus em tomate. Quando o vírus infecta as plantas ainda jovens, estas têm o crescimento paralisado, e as perdas na produção podem variar de 40 a 70%. As plantas infectadas apresentam sintomas característicos. A base do folíolo adquire inicialmente uma clorose entre as nervuras, evoluindo para um mosaico-amarelo. Posteriormente, os sintomas se generalizam por toda a planta, seguidos de intensa rugosidade dos folíolos. Nos últimos anos, com o estabelecimento da mosca-branca na cultura do tomate, sintomas generalizados de geminivírus nesta hortaliça foram observados nos estados de Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Bahia e Pernambuco (Submédio São Francisco). No DF, a incidência da virose cresceu rapidamente, com altas ou baixas populações do vetor mosca-branca. No feijão, as moscas-brancas são vetoras do vírus do mosaico-dourado. Este inseto também pode ser vetor de crinivirus em tomate e cucurbitáceas (amarelão em melão).

Devido à sua introdução recente no país, pouco se conhece sobre a interação de B. argentifolii com suas plantas hospedeiras e os fatores que regulam a seleção e adaptação a novos hospedeiros. Basicamente, sabe-se que um dos fatores que influenciam esta seleção é a escolha de local apropriado para oviposição, sobrevivência e reprodução. Portanto, esses estudos são importantes para avaliar o potencial de adaptação desta praga a diferentes espécies vegetais.

Para entender este processo de adaptação, foram avaliadas diversas hospedeiras potenciais de B. argentifolii para oviposição, em testes de livre escolha. Foram utilizadas as seguintes plantas: abobrinha, feijão, repolho, tomate, mandioca, poinsétia, pepino, soja, pimentão, milho, brócolos e berinjela. As plantas foram deixadas 48 horas em contato com a população do inseto. Em seguida, os adultos presentes nas folhas (parte superior e inferior) foram contados e retirados, sacudindo-se vigorosamente as plantas. As folhas foram então removidas e levadas ao laboratório, e o número de ovos contados, com o auxílio de uma lupa. Posteriormente, a área foliar foi medida. Foi avaliado o número de adultos e de ovos por cm2 de área foliar.

Abobrinha, tomate, feijão, pepino, berinjela, repolho e soja atraíram adultos, os quais efetuaram posturas. Os menores números de adultos e posturas foram encontrados em mandioca, no milho e pimentão. Abobrinha foi uma das plantas hospedeiras que mais atraiu adultos de mosca-branca e a que apresentou maior densidade de ovos (Figura 1 -

). Isto sugere que o mecanismo que envolve a escolha do hospedeiro para alimentação e abrigo do adulto, envolve a conseqüente seleção do hospedeiro para oviposição.

Em um outro estudo, os insetos foram deixados por três gerações em berinjela, repolho e mandioca, em condições de livre escolha em casa de vegetação. Após este período, foi avaliado o desenvolvimento de moscas-brancas sobre estas plantas. Verificou-se que o número de adultos (207,3 ± 29,2), ovos (773,1 ± 58,0) e ninfas (608,4 ± 43,7) foi significativamente maior em repolho (Tabela 1). Noventa e nove por cento das ninfas sobreviveram em repolho e berinjela, enquanto que na mandioca a sobrevivência foi inferior a 30% (Figura 2). A partir destes resultados, será possível estimar em qual cultura a mosca-branca B. argentifolii poderá causar dano, ou potencial para adquirir o status de praga principal e finalmente permitir estabelecer um adequado manejo integrado desta praga, através de uma proposta de seqüência ou associação de culturas. Neste sentido, recomenda-se adotar a rotação com milho na entressafra, para diminuir a densidade populacional da praga.

Geni Litvin Villas Bôas

Embrapa Hortaliças

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