Tecnologias contra a mancha de ramulária em algodão
Na busca por maior precisão e agilidade na avaliação de doenças e na aplicação de fungicidas no momento mais oportuno o uso da tecnologia tem sido crescente no campo
13.05.2022 | 14:35 (UTC -3)
Na busca por maior
precisão e agilidade na avaliação de doenças e na aplicação de fungicidas no
momento mais oportuno o uso da tecnologia tem sido crescente no campo. É o caso
de técnicas empregadas a partir dos índices de vegetação, utilizadas para o
aprimoramento da pesquisa no controle da mancha de ramulária na cultura do algodoeiro.
Doenças foliares
podem provocar uma grande modificação no dossel das plantas, seja por desfolha
ou por uma pigmentação diferente nas folhas. Um exemplo é a mancha de ramulária (Ramularia areola), doença considerada
principal da cultura do algodoeiro. Seus sintomas se manifestam em ambas as
faces da folha, em particular na inferior. De início caracterizam-se por lesões
azuladas na face inferior da folha evoluindo para coloração branca, em toda a
folha, de formato angular e aspecto cotonoso, provocando a queda da folha.
Quando o ataque do fungo se inicia precocemente, como o ocorrido nos últimos
anos, se dá desfolha intensa, diminuindo a área foliar sadia e assim, os
capulhos que estão nas últimas posições, não recebem os nutrientes necessários
e acabam sendo abortados pela planta ou resultam em menor peso, o que ocasiona
a redução da produção.
A
cultura do algodoeiro é extremamente técnica devido ao custo elevado de
produção e também a sua sensibilidade ao ataque de pragas e doenças. Mesmo
tendo uma das maiores rentabilidades entre as grandes culturas, a área plantada
registrou redução na região do cerrado nos últimos anos, mostrando o quanto é complexo
o manejo desta cultura. Por conta disso a pesquisa nesta cultura se mostra a
cada dia mais importante. Um trabalho a partir da parceria entre a
Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão (Fundação Chapadão) e a
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (campus
de Chapadão do Sul) foi realizado para comparar diferentes índices de vegetação
e de tratamentos com aplicações de fungicidas para o controle da mancha de
ramulária na cultura do algodoeiro, com o objetivo de criar novas técnicas de
avaliação de doenças em culturas e aprimorar a pesquisa.
Desde o
início da pesquisa, os resultados se mostraram muito satisfatórios, a exemplo
das imagens obtidas da cultura em estádio fenológico C3, quando estão abertos
os capulhos de terceira posição, a partir do sensor Sequoia acoplado a um Veículo
Aéreo Não Tripulado (VANT). A Figura 1 mostra o campo experimental da Fundação
Chapadão, onde foi cultivado o algodoeiro, tendo como enfoque a pesquisa de
diferentes manejos da mancha de ramulária.
A coloração da imagem (Figura
1), mostra em verde os maiores valores do índice de vegetação (neste caso o
NDVI). Estes maiores valores refletem as áreas com maior cobertura de folhas. Em
amarelo estão os valores médios e em vermelho os valores mais baixos, que
mostram os locais com menor quantidade de vegetação.
As marcas longitudinais na
imagem correspondem aos rastros do trator utilizado para fazer as aplicações de
manutenção da área. Ainda, nota-se uma faixa cortando a área próxima à metade
no sentido horizontal, um pouco inclinada onde se encontra uma curva de nível.
De dentro deste talhão, foi
retirado um experimento em que se comparou a eficácia de fungicidas utilizados
no controle da mancha da ramulária com o valor do índice de vegetação e
notou-se uma grande correlação, como mostra a Figura 2.
A esquerda da figura 2 está a
escala de valores da eficácia, que são obtidos através do método de avaliação
de doenças conhecido como Área Abaixo da Curva de Progresso da Doença (AACPD),
representados pelas colunas azuis. Ao lado direito, estão os valores de um dos
índices de vegetação estudados, sendo que os maiores valores correspondem a
maior quantidade de vegetação. Na parte inferior do gráfico estão os números referentes
a cada um dos tratamentos fitossanitários utilizado no controle da mancha da
ramulária, sendo o tratamento 1 considerado controle (sem nenhuma aplicação de
fungicidas). Nota-se, de forma clara, que o índice de vegetação acompanha precisamente
a curva da eficiência de cada tratamento de fungicida.
Os resultados foram surpreendentes
e alguns índices de vegetação apresentaram maior correlação com a eficiência do
controle da doença que a própria produtividade da cultura. Isso significa que se
trata de uma nova forma de avaliar e quantificar a mancha de ramulária no
algodoeiro, provando assim a viabilidade desta técnica.
Em
poucos anos espera-se que esta técnica possa ser utilizada tanto na pesquisa
agropecuária como na propriedade rural, como mais uma ferramenta da avaliação
de doenças foliares, melhorando as técnicas de avaliação, para que possam
também ser melhorados os diferentes tratamentos a doenças foliares da cultura.
Intensificar o
monitoramento das lavouras pode ser considerada uma perspectiva futura para a
produção de algodão. Tal acompanhamento é a ferramenta mais segura, prática e
barata que permite ao agricultor fazer a aplicação de fungicidas para o
controle de doenças na época mais oportuna, com o máximo proveito de todo o
conhecimento técnico disponível, e até mesmo adotar outros métodos de controle
(físico, cultural e biológico).
Índices
de Vegetação
Na agricultura mundial muitas técnicas vêm sendo empregadas a
partir dos índices de vegetação, uma ferramenta relativamente nova que dispõe
de várias utilidades. Para compreender o leque de possibilidades que são
abrangidas por esta ferramenta, é necessário entender do que realmente se
trata.
Em suma, os índices de vegetação utilizam duas ou mais medidas
de refletância, que é a quantidade de luz refletida pelo objeto dividida nas
faixas do espectro. Essas faixas, também chamadas de bandas, quando localizadas
na região do espectro visível (Figura 3), representam as cores que são
refletidas.
Dentro de cada
banda existe ainda uma variação da quantidade de luz refletida por objeto,
individualmente, e devido a isto é possível gerar um número inserido em modelos matemáticos específicos conhecidos
como Índices de Vegetação.
Essas medidas podem ser obtidas a partir de inúmeros tipos de
sensores, que vão desde equipamentos manuais, operados de forma mais simples que
passam informação em tempo real. Também sensores acoplados a veículos aéreos,
como Drones e Veículos Aéreos Não Tripulado (VANT’s), e sensores orbitais enviados ao
espaço junto a satélites. Todos estes sensores podem ainda ser ativos, que
captam a luz artificial emitida pelo próprio equipamento ou passivos, que
captam a luz solar refletida pelo devido objeto.
Além da versatilidade propiciada pelos índices de vegetação, o
acesso à informação também teve um grande avanço. Satélites como CEBERS e
LANDSAT oferecem suas informações de forma gratuita e acessível. Além disso
existem empresas especializadas em imageamento de lavouras.
Á campo os índices de vegetação já têm sido utilizados, por
exemplo, para a elaboração de mapas de solo, avaliação de uniformidade da
lavoura, detecção de ataques de pragas em reboleira e até mesmo para estimativa
de produção de algumas culturas.
Nos últimos anos, essa ferramenta tem se mostrado bastante útil
à agricultura. Pesquisas apontam que esses índices tem por objetivo compreender
as variáveis de dossel e servir como base em muitas aplicações de sensoriamento
remoto para o gerenciamento da lavoura, uma vez que estão correlacionados a
várias propriedades biofísicas importantes (Ahamed et al., 2011). Os índices de vegetação, de acordo com JENSEN (2009),
podem ser correlacionados ao índice de área foliar (IAF); à porcentagem de
cobertura verde; ao teor de clorofila; à biomassa verde e (v) à radiação
fotossinteticamente absorvida (RFAA).
Também cada um dos parâmetros
agronômicos pode ser maior correlacionado com uma banda especifica ou com um
índice de vegetação. Por exemplo, a banda espectral do Red Edge (RE) é
altamente correlacionada com o teor de nitrogênio foliar e quantidade de
clorofila. Já a banda espectral do Near Infra Red (NIR) está mais associada a
cobertura e biomassa verde.
Teoricamente, os índices de vegetação podem captar variações no
dossel das plantas. E essa variação depende,
principalmente, da quantidade de folhas e da arquitetura do dossel (Ponzoni et al., 2012). Assim, todo tipo de
modificações na quantidade de folhas ou arquitetura surtirá um efeito na
refletância e, consequentemente, nos índices de vegetação.
Artigo publicado na edição 222 da Cultivar Grandes Culturas, mês novembro, ano 2017.
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