O setor brasileiro de grãos caracteriza-se pelo expressivo incremento tecnológico, nos últimos anos, que permitiu o aumento de produtividade e a racionalização na utilização de insumos, com adoção de práticas como o plantio direto e a rotação de culturas. Entretanto, o setor ainda contabiliza perdas, especialmente na fase de pós-colheita devido à ineficiências nos procedimentos, na infraestrutura e na logística. Dentre as dificuldades destacam-se colheita no momento inadequado, carências na estruturas físicas para o recebimento e o armazenamento, além da ausência de segregação dos grãos.
A estimativa de perdas dos grãos armazenados, corresponde a médias anuais de 20%, podendo atingir perda total em alguns armazéns. Essas perdas são expressivas, considerando que ocorrem depois da incidência dos maiores índices do custo de produção nos grãos. Além das perdas quantitativas, poderão ocorrer problemas relacionados com a qualidade e a inocuidade dos grãos: presença de insetos e/ou fragmentos, resíduos de agrotóxicos, desenvolvimento de fungos e a conseqüente produção de micotoxinas.
A atual demanda dos mercados sinaliza para priorização dos produtos obtidos em sistemas produtivos normatizados, baseados na racionalização, no uso de insumos, na minimização do impacto ambiental, na otimização dos custos operacionais, além da segregação, da qualificação e da garantia da segurança dos alimentos. Como resposta às atuais demandas está sendo cada vez mais adotado o sistema de produção integrada para produtos agropecuários, que surgiu na Europa, na década de 70 e atualmente está sendo disseminado em muitos países. No Brasil, a produção integrada foi primeiramente demandada nos produtos
destinados à exportação, destacando-se àqueles obtidos na fruticultura e a pecuária.
A produção integrada prioriza os princípios baseados na sustentabilidade, na proteção dos recursos naturais, na regulação de mecanismos para substituição de insumos poluentes, utilizando instrumentos adequados de monitoramento dos procedimentos e a rastreabilidade de todo o processo, além do atendimento aos requisitos sociais, sendo um sistema passível de ser auditado e certificado. Os princípios básicos que regem a produção integrada estão amparados na elaboração e na implementação de normativas técnicas, em comum acordo entre os agentes da cadeia produtiva, contemplando manejo na lavoura e na pós-colheita; relação de agrotóxicos permitidos; caderno de campo e de pós-colheita para registrar todas as informações relevantes, em cada etapa da cadeia produtiva; e a lista de verificação para comprovar se o que está sendo exigido nas normas está sendo efetivamente realizado. O sistema de rastreabilidade possui a finalidade de garantir a segurança dos alimentos, assegurar o direito do consumidor à informação, destacar a origem e a qualidade da produção, bem como aperfeiçoar a organização dos complexos agroindustriais.
Dessa forma, visando contribuir para a competitividade e a consolidação da produção de trigo nacional, a Embrapa Trigo está desenvolvendo um trabalho que objetiva elaborar normativas para orientar a produção integrada de trigo e implementar um sistema de rastreabilidade, nos elos de produção agrícola e de armazenamento, capazes de manter e disponibilizar as informações de procedência e de qualidade dos lotes de trigo, viabilizando a certificação e oferecendo ao consumidor um produto com qualidade garantida.
Pesquisadora da Embrapa Trigo
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura
Newsletter Cultivar
Receba por e-mail as últimas notícias sobre agricultura