Diferentes maneiras de preparo do solo têm poder para influenciar a dinâmica do mofo branco
09.09.2016 | 20:59 (UTC -3)
O mofo branco causado pelo fungo Sclerotinia sclerotiorum é atualmente umas das principais doenças da cultura da soja, pelos prejuízos provocados e pela dificuldade de controle (Furlan, 2009).
Essa doença afeta o potencial produtivo da cultura da soja por provocar perdas que podem variar até 60%, como as observadas no sudoeste de Goiás (Silva et al, 2009), porém, com potencial para alcançar 100% em algumas áreas, conforme descrito por Jaccoud Filho et al (2010).
O fungo é polífago, tendo como hospedeiras plantas de 75 famílias, 278 gêneros e 408 espécies (Boland e Hall, 1994), que incluem culturas de potencial econômico como soja, feijão, algodão, girassol, tomate, batata e fumo, e plantas daninhas como picão, carrapicho, caruru e mentrasto. Além da ampla gama de hospedeiros que multiplicam o fungo, o mofo branco forma estruturas de resistência denominadas de escleródios, que podem permanecer no solo por vários anos, conservando intacto seu poder germinativo, o que dificulta o seu controle.
A adoção de medidas isoladas não tem controlado eficientemente o mofo branco. De acordo com Balardin (1999) o controle de doenças deve envolver um conjunto de práticas, como o uso de cultivares resistentes, tratamento de sementes, adubação mineral equilibrada, uso de fungicidas na parte aérea e rotação/sucessão de culturas. Essas estratégias, quando empregadas de forma integrada, apresentam alta eficácia e proporcionam retorno econômico.
Entre essas recomendações para manejo do mofo branco, podem ser destacadas práticas como o controle cultural com formação da palhada para o sistema de plantio direto (SPD). O controle cultural pela cobertura do solo com palhada tem potencial para inibir a formação de apotécios, conforme demonstrado em condições experimentais (Ferraz et al, 1999). Em área altamente infestada por S. sclerotiorum, Görgen et al (2009) constataram a eficiência da palhada de braquiária como barreira física à produção de apotécios e a consideraram como premissa para o controle biológico deste patógeno no SPD. A produção de palhada é eficiente em reduzir a população de escleródios no solo, que representam a principal fonte de inóculo e a parte fundamental no ciclo de vida do patógeno (Clarkson et al, 2003).
As medidas de controle devem considerar que a severidade do mofo branco em diferentes hospedeiros é, em geral, proporcional à densidade de inóculo do patógeno no solo. Portanto, a redução da população de escleródios é essencial para o controle efetivo desta doença. Além disso, práticas que diminuam a formação de apotécios, a liberação de ascósporos e a produção de novos escleródios auxiliam no controle da doença. Assim, diferentes maneiras de preparo do solo podem influenciar a dinâmica do mofo branco, possibilitando respostas diversas na incidência desta doença em plantas de soja.
O experimento
Um experimento foi realizado na fazenda Aurora Serios, no município de Correntina/Bahia, em condições de campo na safra 2011/2012, em área com histórico de incidência da doença. Adotou-se o delineamento experimental de blocos ao acaso, com quatro tratamentos e nove repetições. Os tratamentos foram: T1 - Semeadura direta sem palha; T2 - Semeadura no solo escarificado, seguido de grade; T3 - Semeadura no solo aivecado, seguido de grade e T4 - Semeadura direta na palhada de braquiária (Brachiaria ruziziensis). As parcelas foram constituídas por cinco linhas espaçadas de 0,56m e 15 metros de comprimento, sendo as duas linhas centrais consideradas com área útil para a coleta de dados. A semeadura foi realizada com semeadora no dia 26/10/2011 utilizando-se 7,2 sementes/m do cultivar M9144RR que foram tratadas com fipronil + piraclostrobina + tiofanato-metílico (200ml/100kg de sementes). Antes da semeadura as sementes foram inoculadas com inoculante líquido comercial na dose de (200ml/100kg de semente). Os demais tratos culturais adotados às parcelas experimentais foram os mesmos aplicados à cultura da soja em áreas de plantios comerciais, com manejo químico das plantas daninhas e das pragas, conforme levantamento de campo realizado para esses elementos bióticos e de acordo com as recomendações técnicas para a cultura.
Foi avaliada a incidência do mofo branco em todas as plantas nas duas linhas centrais da parcela, totalizando aproximadamente 200 plantas aos 85 dias após a semeadura (estádio fenológico R3).
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e, quando significativos, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de significância, utilizando o programa Assistat.
Na Tabela 1 são apresentados os resultados do número de plantas com os sintomas do mofo branco. O número de plantas com sintomas da doença variaram de 0,13 (tratamento T4) a 11,34 (tratamento T1), sendo todos os tratamentos diferentes entre si.
Tabela 1 - Número médio de plantas com sintomas de mofo branco registrado nos diferentes tratamentos
Tratamentos
Plantas com sintomas de mofo branco
T1
11,34
A
T2
1,88
C
T3
3,33
B
T4
0,13
D
CV%
17,80
Tratamentos
Plantas com sintomas de mofo branco
T1
11,34
A
T2
1,88
C
T3
3,33
B
T4
0,13
D
CV%
17,80
*Valores seguidos pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5% de significância.
O menor número de plantas com a doença foi registrado quando se realizou a semeadura direta na palhada de braquiária (0,13 planta, tratamento T4). Com a palhada de braquiária pode ocorrer a inibição da formação de apotécios (Ferraz et al, 1999), um aumento no parasitismo de escleródios por patógenos presentes no solo e redução do inóculo inicial de S. sclerotiorum, como comprovado por Görgen et al (2009). A palhada funciona como uma barreira física que reduz a luminosidade sobre o solo, podendo causar atraso de várias semanas na produção de apotécios (Sun e Yang, 2000). Esse atraso pode resultar em menor número de inóculo no momento em que a soja estaria mais vulnerável à infecção, que de acordo com Danielson et al (2004) é do estádio R2 a R5. Todos esses fatores podem ter contribuído para os resultados obtidos no tratamento T4.
Quando se realizou a escarificação do solo, pode ter havido enterrio de parte dos escleródios, o que resultou em diminuição da fonte de inóculo e, consequentemente, menor infecção das plantas de soja pela doença (média de 1,88 planta de soja com mofo branco/parcela), como pode ser observado no tratamento T2 (Tabela 1 e Figura 1).
Figura 1 - Número médio de plantas com sintomas de S. sclerotiorum em cada repetição, nos diferentes tratamentos
Quando no preparo do solo foi utilizado o arado de aiveca (tratamento T3) se obteve média de 3,33 plantas com sintomas de mofo branco, mostrando que com a utilização deste implemento, mesmo ocorrendo o revolvimento e a inversão das camadas do solo, a infecção das plantas pela doença ocorre em valores superiores à semeadura no solo escarificado (tratamento T2) e semeadura direta na palhada de braquiária (tratamento T4).
O tratamento onde foram constatados os valores mais altos de plantas com sintomas da doença foi o T1 (semeadura direta no solo sem palha), pois, sem a escarificação, o uso do arado de aiveca e sem a “proteção" da palhada, não há barreira física nem impedimento à penetração da luz, entre outros, e os escleródios, em condições ideais de clima e fenologia da planta, têm todas as condições para germinarem, produzirem apotécios e esporos que irão infectar a planta e causar a doença na cultura.
De todos os tratamentos estudados conclui-se que a semeadura direta na palha contribui para menor incidência de plantas com mofo branco, podendo esta prática fazer parte do manejo integrado para o controle desta doença.