Estes moluscos que pertencem à Família Veronicellidae caracterizam-se por apresentar corpo mole e mucoso, sem segmentação visível ou apêndices articulados. Existem atualmente nas Américas 37 espécies de lesmas identificadas e muitas outras que necessitam de estudos mais detalhados para serem classificadas.
Em alguns países da América Central e do Sul, os Veronicelídeos são pragas de importância agrícola, atacando principalmente leguminosas, solanáceas e brássicas, entre outros vegetais.
Os danos provocados na agricultura pela fases jovem e adulta destes moluscos, se constituem no consumo parcial ou integral de plântulas, brotos, folhas, talos e até raízes das plantas hospedeiras. Além disso, os vegetais atacados geralmente apresentam rastros de muco e presença de fezes, que depreciam e até inviabilizam a sua comercialização.
Lesmas no Brasil
No Brasil, estas pragas já foram observadas atacando diversas culturas, tais como café, banana, fumo, soja e principalmente feijão, com relatos de ocorrência nos estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, São Paulo, Mato Grosso e Goiás.
No Oeste do Estado de Santa Catarina foi observado infestação de lesmas acima do normal em lavouras, a partir de 1993, embora na ocasião não tenha sido dado a devida importância por parte dos agricultores. Nos anos seguintes ocorreu aumento da infestação e começaram ocorrer danos severos principalmente em hortaliças e nas culturas de soja e feijão.
Espécimes enviados para o malacologista Professor Dr. José Willibaldo Thomé da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, de Porto Alegre, foram classificados como (Semper, 1885) (Mollusca, Veronicellidae), espécie até então não referida em Santa Catarina. Este fato, sugere, que esta espécie tenha sido introduzida na região, onde encontrou condições favoráveis para se proliferar e dispersar.
Atualmente, esta praga está causando elevados danos em lavouras, inclusive forçando alguns produtores a evitar o plantio de culturas preferencialmente atacadas. Nos locais de elevada infestação é possível encontrar lesmas em lavouras, pastagens, matas, capoeiras, arredores das edificações e até no interior de residências, fato que fez alguns produtores rurais manifestarem a vontade de abandonar as suas propriedades.
É importante alertar que o pouco conhecimento sobre a bioecologia da espécie poderá ser um fator capaz de aumentar a infestação e favorecer a dispersão deste molusco. O seu hábito alimentar polífago (consomem diversos tipos de alimento), incremento da área com plantio direto e o aumento da chuva que se verifica nos últimos anos são fatores que poderão predispor ainda mais o aumento populacional desta praga.
O que são lesmas?
As lesmas são animais hermafroditas, isto é, possuem órgãos genitais masculinos e femininos, sendo que um único indivíduo é capaz de se autofertilizar e produzir descendentes. Estudos mostram que as lesmas fazem suas posturas em fendas do solo ou embaixo de entulhos, onde os ovos podem permanecer viáveis por longos períodos, mesmo em condições climáticas desfavoráveis. Em condições normais, os indivíduos demoram aproximadamente seis meses para atingir a fase adulta e apresentam longevidade que pode alcançar até 20 meses.
Para acentuar o problema, estes moluscos são vetores de parasitas. Segundo o Professor Dr. Carlos Graeff-Teixeira, da PUCRS, as lesmas entre outros moluscos, podem ser hospedeiros intermediários de Angiostrongylus costaricensis, nematóide causador de “angiostrongiliase abdominal” em pessoas e animais domésticos. No Brasil existem registros da doença do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Sul, com o número de casos aumentando gradualmente, embora o diagnóstico nas pessoas contaminadas seja difícil.
O nematóide causador desta doença tem em moluscos e ratos silvestres seus hospedeiros adaptados, mas nos homens e em outros animais, o ciclo não se completa devido a intensa reação inflamatória que ocorre na parede do intestino delgado, capaz de causar áreas de congestão e necrose. Os pacientes infestados apresentam dores abdominais, náuseas, vômitos, diarréia, constipação intestinal, febre e em casos extremos pode ser inclusive fatal.
Formas infestantes do nematóide são liberadas pelas lesmas através do muco brilhante que expelem quando se deslocam. Sabe-se que as larvas resistem a certo grau de ressecamento e que o vinagre usado como condimento para as verduras favorece a contaminação, pois ativa as larvas. Este fato se constituí num grave problema de saúde pública para a população residente em áreas infestadas e para os consumidores de produtos “in natura” provenientes daquelas regiões.
Controle da praga
O controle biológico das lesmas não tem apresentado a eficácia necessária, visto os elevados índices de infestação e a velocidade com que a praga se dispersa. De uma maneira geral, as lesmas são pragas de difícil combate, exigindo um manejo integrado de controle. Neste sentido é indicado dar destino adequado aos restos vegetais e dejetos animais, que são fontes alternativas de alimento para estes moluscos. Plantas que são preferencialmente hospedeiras e que não apresentam importância econômica devem ser eliminadas ou então reduzidas.
Como medida profilática é recomendado eliminar os entulhos espalhados ou amontoados pela propriedade, reduzindo os locais de abrigo dos moluscos. Da mesma forma, a arejar os ambientes e facilitar a insolação, principalmente nas proximidades das edificações e lavouras, também são práticas capazes de reduzir a infestação destes animais.
O controle químico recomendado é feito com o uso de iscas tóxicas a base de metaldeido, sendo uma prática eficiente em pequenas áreas, porém cara e impraticável para áreas extensivas. Por outro lado, este ingrediente ativo apresenta baixo poder residual em condições de elevada umidade, característica dos locais e épocas que ocorrem as maiores infestações. Outros ingredientes ativos e modos de aplicação de agrotóxicos não têm se mostrado eficientes para o controle destas pragas.
Experimentos conduzidos pelos pesquisadores Luís Antônio Chiaradia e José Maria Milanez, do Centro de Pesquisas para Pequenas Propriedades da Epagri, situado em Chapecó, SC, mostraram que o sulfato de cobre a 2% apresentou ação repelente para Sarasinula linguaeformis, quando pulverizado sobre seu substrato alimentar, se caracterizando como uma ótima alternativa para aplicação em lavouras, visto as propriedades antifúngicas deste produto.
Resultados de outros testes mostraram que aplicações tópicas de hipoclorito de sódio 2,5%, creolina 2% e sal amoníaco 3% foram tóxicos para as lesmas, constituindo-se de alternativas para o controle de infestações nas edificações e arredores.
Experimentos conduzidos com o objetivo de identificar substâncias tóxicas para a confecção de iscas, mostraram que concentrações de 2% a 10% de ácido bórico foram eficientes no controle destes moluscos. As iscas foram elaboradas com farinha de trigo, farinha de milho, ovos e ácido bórico, de modo a formar uma pasta, que foi transformada em “macarrão”, secada à sombra, quebrada em pequenos pedaços e posteriormente espalhada nos locais infestados.
Segundo estes pesquisadores do CPPP/Epagri, as iscas com ácido bórico não matam imediatamente as lesmas, mas apresentam boa eficiência de controle a partir de 48 horas após a sua ingestão. Outras vantagens desta isca é que pode ser formulada pelo interessado, pois o ácido bórico é facilmente encontrado em farmácias de manipulação e existe a possibilidade de serem secas e armazenadas para serem usadas quando necessário.
Por Luís Antônio Chiaradia e José Maria Milanez, EPAGRI.
Artigo publicado na edição 05 da Revista Cultivar Grandes Culturas.
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