Muito dinheiro é gasto desnecessariamente em manutenção de bombas e bicos injetores por falta de cuidados básicos no manuseio e armazenagem do óleo diesel. Bicos injetores são dispositivos de altíssima precisão e quaisquer impurezas no combustível podem levar à obstrução do bico injetor bem como ao seu desgaste prematuro. Elementos da bomba injetora são formados por um pistão e um cilindro com folgas de instalação da ordem de centésimos de milímetros. Desnecessário seria dizer o que a presença de água e/ou impurezas causam a estes dispositivos.
Face ao exposto, o óleo diesel deve ser livre de água e sedimentos. Isso tem como objetivo minimizar a contaminação do combustível e impedir a proliferação de microorganismos que são admitidos no tanque pelo ar, quando ocorre redução da pressão interna no tanque, devido ao consumo ou à redução de temperatura no período da noite e madrugada. Esses microorganismos conduzem à degradação do combustível, favorecendo formação de emulsão água-diesel e de compostos prejudiciais ao motor.
Produtos de degradação – pastosos e de cor escura – também podem ser formados pelo estressamento térmico do óleo diesel, causado pelo aumento de temperatura após a sua recirculação no sistema de combustível do veículo.
Dessa maneira, como será comentado posteriormente, não se deve manter lastro de água nos tanques de estocagem do produto, bem como deve-se fazer drenagens periódicas para remover qualquer água eventualmente arrastada no transporte do óleo diesel.
A presença de água e sedimentos, em valores acima do regulamentado pela especificação, tem as seguintes influências:
No motor – Desgaste dos elementos da bomba injetora e bicos injetores; entupimento do filtro e combustão inadequada;
Nas emissões – Aumento do monóxido de carbono e de hidrocarboretos;
No veículo – Formação de borra nos tanques.
CUIDADOS NO ARMAZENAMENTO
No armazenamento do óleo diesel existem alguns cuidados que precisam ser tomados para reduzir gastos com manutenção de tanques de armazenamento e do próprio veículo. É necessário levar em consideração os seguintes aspectos:
1) Evite presença de água nos tanques
Drene a água dos tanques de diesel diariamente, pela manhã. Em caso de tanques aéreos, utilizar a válvula apropriada. Se o tanque for enterrado, retire a água utilizando bomba manual de sucção. É importante lembrar que a água presente no tanque provoca uma série de transtornos, como o crescimento de microorganismos que se alimentam do óleo diesel.
O cuidado na instalação do tanque é fundamental. Deixar uma pequena declividade na direção contrária ao abastecimento fará com que a água condensada possa ser drenada. A construção de uma bacia de contenção com volume 20% superior à tancagem instalada protegerá o meio ambiente de contaminação por combustível.
Esses microorganismos (fungos e bactérias) só são visíveis ao microscópio e se desenvolvem entre a água e o óleo diesel. À medida que se multiplicam, começa a surgir uma massa de coloração marrom ou preta, conhecida como borra microbiológica, conforme citado anteriormente. Localizada na divisa entre o óleo diesel e a água, ou depositada no fundo do tanque, a borra causa problemas de entupimento de telas, filtros e corrosão. Pelo rápido desgaste que provoca nos componentes da bomba injetora, é comum a borra levar ao travamento e quebra das peças.
Esse material gelatinoso é conhecido como lama microbiológica e apresenta odor forte e característico de material em putrefação aumentando a corrosividade do óleo diesel e alterando suas propriedades.
Outro problema é que os microorganismos transformam o enxôfre não corrosivo presente no combustível em ácido sulfídrico (H2S), o que torna a água com odor desagradável (ovo podre) e alto teor de acidez, acelerando o processo de corrosão do tanque. Eles produzem substâncias químicas chamadas “tensoativas”, que retêm a água no diesel sob forma de gotas muito pequenas. Esses microorganismos estão em toda parte: no ar, na água e no solo, e se multiplicam onde há condições para crescer. Portanto, eliminar a água corresponde a impedir o desenvolvimento de microorganismos.
Os tanques enterrados merecem especial atenção. Por exemplo, a acomodação do terreno pode mudar a inclinação do tanque, de modo que é possível que a água fique acumulada no lado oposto ao da boca de enchimento – por onde é introduzida a bomba de drenagem e a régua de medição com pasta d’água. A pasta d’água é um produto que em contato com a água, mesmo em pequeníssimas quantidades, muda de coloração. É usada em fina camada sobre superfície metálica das réguas de medição de nível. Nesse caso, como a retirada de água é fundamental, deve-se corrigir a inclinação do tanque. Se isso não for feito, o tanque acabará furando, o que acarretará num trabalho maior e, logicamente, maiores custos. A água que acumula nos tanques tem diversas origens.
Água no próprio diesel
O óleo diesel pode conter uma determinada quantidade de água que nele fica dissolvida. Assim, quando o combustível resfria, em função de uma queda de temperatura ambiente, uma pequena parte dessa água deixa de ficar dissolvida e aparece sob a forma de gotículas.
Se o óleo diesel resfriar rapidamente (ciclo dia-noite-madrugada), as gotículas serão pequenas. Se o resfriamento for lento, as gotículas serão maiores. Quanto maior for o tamanho das gotículas, mais rapidamente elas decantarão.
À medida que o óleo diesel de um tanque vai sendo consumido, ocorre a entrada de ar contendo umidade. Com o resfriamento, a umidade do ar condensa nas paredes do tanque e na superfície do diesel, atingindo o fundo do tanque. Esse fato torna-se crítico em regiões com alta umidade do ar e/ou em instalações que não adotam rotina de drenagem.
A água pode entrar nos tanques de estocagem e dos veículos durante uma chuva forte, se as bocas não estiverem bem vedadas, ou através de furos em tanques enterrados.
2) Não estoque óleo diesel por muito tempo.
A estocagem longa favorece o envelhecimento do óleo diesel. A oxidação natural do produto pode propiciar o aparecimento de sedimentos de origem química que contribuem para obstruir os filtros. Esses sedimentos são o resultado de reações químicas complexas que ocorrem entre constituintes do óleo diesel. O contato do combustível com o cobre acelera a formação desses sedimentos. Deve-se, portanto, evitar o uso de válvulas, filtros, telas e outras espécies feitas de bronze, latão ou outras ligas metálicas que contenham cobre. O uso de ligas metálicas também acelera a formação de depósitos, embora em menores intensidades que as ligas de cobre.
3) Limpe os tanques de diesel periodicamente
É importante manter limpos os tanques de armazenamento de óleo diesel. O período máximo entre uma limpeza e outra é de dois anos.
Em tanques de veículos o intervalo entre as limpezas deve ser menor, no máximo um ano, porque durante o funcionamento do motor o óleo diesel é submetido a temperaturas mais altas que a ambiente. Nesse caso, o combustível que retorna da bomba injetora do veículo “envelhece” (oxida) mais rapidamente do que o óleo diesel armazenado à temperatura ambiente, gerando mais sedimentos.
4) Fique atento ao separador de água de combustível
No caso de veículos com separador de água deve-se:
• Observar diariamente os recipientes de vidro do conjunto separador de água;
• Sempre que notar vestígios de água nos recipientes de vidro, soltar o bujão de cada seção do conjunto para escoar a água acumulada;
• Após o escoamento da água, apertar os bujões e comprovar sua estanqueidade;
• Observar no manual de manutenção os períodos recomendados para a limpeza do conjunto separador de água;
• Para efetuar a limpeza, desmontar o conjunto e lavar os componentes do conjunto separador de água com óleo diesel;
• Após a limpeza, montar o conjunto utilizando novos anéis de vedação e observar o correto posicionamento das peças. Funcionar o motor e comprovar a estanqueidade do conjunto separador de água.
Lembre-se que a água do combustível facilita a formação de bactérias e borra oxidante, ocasionando o entupimento do filtro.
CUIDADOS NO MANUSEIO
Deve-se prestar atenção no manuseio, pois o óleo diesel só deve ser manipulado em local aberto e bem ventilado. Se há algo que o diesel não tolera é fogo, faísca, chama, centelha. Por isso, não custa repetir: nunca se deve fumar próximo a um abastecimento. Se o manuseio tiver de ser prolongado, e se no local houver muita concentração de vapor ou névoa do produto, não hesite: use equipamentos de proteção individual (máscara com filtro para vapores orgânicos, óculos e luvas).
Não guarde diesel em casa. O produto é inflamável e intoxicante e não existem recipientes domésticos adequados para este fim.
EFEITOS TÓXICOS E PRIMEIROS SOCORROS
Apresentamos, a seguir, um resumo dos efeitos intoxicantes do diesel e alguns socorros de emergência que podem ser prestados para cada caso:
• Ingestão: irritação na mucosa digestiva. Não provoque vômitos. Se a vítima estiver consciente, faça-a beber água.
• Aspiração até os pulmões: pneumonia química.
• Inalação prolongada: dor de cabeça, náuseas e tonturas. Remova a pessoa para ambiente fresco e ventilado. Mantenha-a quieta e agasalhada. Se ela não estiver conseguindo respirar, procure fazer respiração artificial.
• Contato com os olhos: irritação e congestão da conjuntiva. Não friccione. Lave em água corrente por 15 minutos.
• Contato repetido e prolongado com a pele: irritação e ressecamento. Remova as roupas contaminadas. Lave os locais atingidos com água e sabão.
Cuidado! Retirar diesel do tanque através da sucção com a boca ou usá-lo como produto de limpeza pode parecer, às vezes, mais prático ou rápido, mas, pelo bem de sua saúde, não o faça.
COMBATE A INCÊNDIO
Para a extinção de incêndio em óleo diesel, assim como em qualquer outro combustível líquido, nunca se deve usar água. Isso provocaria espalhamento do incêndio e o agravamento da situação. Recomenda-se usar extintor de CO2 ou pó químico e, no caso de pequenos incêndios, pode-se usar terra.
O correto manuseio e armazenagem de óleo diesel é fundamental para a redução de manutenção nos equipamentos agrícolas. Muitos agricultores gastam centenas de milhares de reais adquirindo equipamentos de última geração e não dedicam cuidados mínimos à armazenagem e manuseio do óleo diesel. Procure adquirir o óleo diesel de uma fonte confiável. Diferenças gritantes no preço do produto são um alerta. Não há mágica neste aspecto. Se lhe oferecerem algo muito bom para ser verdade, tome cuidado. Com a liberação do mercado de distribuição de derivados de petróleo várias empresas inidôneas têm-se aproveitado disso para vender combustíveis de qualidade duvidosa. Em um próximo artigo estaremos abordando como se pode realizar alguns testes básicos para se verificar a qualidade do óleo diesel.
A Petrobrás Distribuidora S.A., subsidiária da Petrobras, conta com engenheiros treinados em todos os pontos do território nacional fornecendo orientações sobre armazenagem e manuseio de combustíveis, ministrando treinamentos sobre o assunto, esclarecendo sobre a melhor forma de construir instalações de combustíveis. Esse corpo técnico está à disposição para esclarecer quaisquer dúvidas sobre o tema “combustíveis”.
Marcos Thadeu G. Lobo
Engenheiro Mecânico Petrobrás Distribuidora S.A.
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