Manejo de doenças fúngicas em trigo
Por Daniel Debona e Darlan Felipe Sartori, Universidade Tecnológica Federal do Paraná
O pulgão Aphis gossypii é uma das pragas-chaves da cultura do algodoeiro. Embora seja polífago, tendo como hospedeiros mais de 80 espécies de plantas, o inseto encontra no algodão um alimento adequado tanto pelo aspecto nutricional quanto pela sua grande disponibilidade no ambiente agrícola do Cerrado brasileiro. Nas condições climáticas deste bioma, caracterizadas pelas elevadas temperaturas e com ocorrências comuns de estiagens ao longo do ciclo da cultura do algodoeiro, a espécie apresenta alto potencial reprodutivo, alta taxa de incremento populacional e grande velocidade de dispersão.
A capacidade de reprodução desses insetos é enorme, pois ocorre por partenogênese telítoca, isto é, fêmeas são produzidas a partir de óvulos não fecundados, excluindo-se a necessidade de machos para acasalar.
Quando em baixa incidência, o pulgão é um importante bioindicador, uma vez que pode fornecer parâmetros para avaliação da qualidade ambiental da lavoura. Por servir de alimento para vários inimigos naturais, sua presença em baixo número indica a possibilidade da manutenção de espécies benéficas, que fazem seu controle e o controle de outras pragas importantes da cultura.
O pulgão somente será praga quando em alta densidade populacional causar estresse na planta pelo excesso de sucção de seiva e pelo comprometimento do processo de fotossíntese; ou quando sua excreção causar o algodão caramelizado. Por isso, o nível de controle do pulgão em plantas de algodoeiro é estabelecido em até 70% de plantas com presença de colônias (mais de três pulgões por folha) quando se tratam de cultivares resistentes ao mosaico da nervura. Caso contrário, em cultivares suscetíveis, o nível de controle baixa para 10% de plantas com presença de colônias.
Entre os inimigos naturais do pulgão, há várias espécies de predadores, parasitoides e micro-organismos entomopatogênicos. Alguns são de ocorrência natural, necessitando serem conservados nos ambientes agrícolas, outros são liberados por inundação (grande número de indivíduos de uma só vez para reduzir rapidamente a praga, sem expectativa de efeito contínuo), outros liberados por inoculação (pequeno número de indivíduos, liberados uma ou mais vezes, com intuito que se multipliquem no ambiente).
• Lysiphlebus testaceipes (Hymenoptera: Aphididae): vespas que parasitam pulgões, ninfas ou adultos, ápteros ou alados. Ao se desenvolverem no interior do corpo do seu hospedeiro, transformam o corpo do pulgão em múmias. Têm alta capacidade reprodutiva, curto tempo de geração, boa capacidade de dispersão e ciclo de vida sincronizado com o dos pulgões.
• Aphelinus gossypii (Hymenoptera: Aphelinidae): parasitoides de pulgões, têm 3 mm e coloração preta. Assim como Lysiphlebus, seu parasitismo promove a mumificação dos pulgões.
• Aphidius platensis (Hymenoptera: Braconidae): endoparasitoide solitário de pulgões, comercializado para o controle de pulgões em cultivos protegidos na Europa. No Brasil, foi introduzido na Região Sul do Brasil, para controle de pulgões na cultura do trigo. O parasitoide também se utiliza do pulgão do algodoeiro para multiplicação de seus descendentes.
• Geocoris sp. (Hemiptera: Geocoridae): encontrados naturalmente com frequência em cultivos de algodão, predam pulgões, ácaros, moscas-brancas, colelópteros, ovos e larvas de lepidópteros e ninfas de percevejos. Na América do Norte esses insetos já são comercializados para liberação inoculativa.
• Orius insidiosus (Hemiptera: Anthocoridae): conhecido como percevejo-pirata, é predador voraz de pulgões que ocorrem em cucurbitáceas, plantas ornamentais e algodão. Estes percevejos possuem excelente comportamento de busca, sua capacidade de multiplicação é alta quando há boa disponibilidade de presas. Mesmo em condições adversas, são resilientes e se mantêm em baixa densidade populacional. No algodoeiro, predações de pulgões são frequentes, mas também atacam tripes, ovos e lagartas de primeiro e segundo instares de várias espécies. Este agente de controle biológico já é comercializado no Brasil.
• Cycloneda sanguinea e Coleomegilla maculata (Coleoptera: Coccinellidae): joaninhas predadoras de alta eficiência, predam pulgões com grande eficácia. Têm alto potencial biótico, ótima capacidade de busca e predação nas fases larval e adulta, além de ser possível estabelecer criação massal em laboratório. Joaninhas estão disponíveis para comercialização no mercado brasileiro.
• Chrysoperla externa (Neuroptera: Chrysopidae): conhecidos como bicho-lixeiro, são predadores polífagos e se alimentam de várias espécies de importância econômica, como ovos e lagartas neonatas, cochonilhas, ácaros, embora apresentem preferência por pulgões. Por estas características, além da facilidade de criação, são utilizados no controle biológico aplicado por meio de liberações massais.
• Polistes sp. (Hymenoptera: Vespidae): essas espécies predam pulgão em diferentes estágios de desenvolvimento. Porém, enquanto generalistas, predam outras pragas agrícolas, como lagartas e outros sugadores, além do pulgão, em busca constante de presas alternativas, explorando todo o ambiente (alta capacidade de forrageamento), com a peculiaridade de poder se alimentar várias vezes de presas anteriormente atacadas, agindo assim como especialistas facultativos.
• Doru luteips (Dermaptera: Forgiculidae) e Euborellia annulipes (Dermaptera: Anisolabididae): conhecidas pelo nome de tesourinhas, por possuírem um par de cercos em forma de pinça no ápice do abdômen, essas espécies vivem em locais úmidos e sombreados em meio a restos vegetais. Possuem hábitos noturnos e são promissores no controle biológico de pulgão do algodoeiro, já que têm comportamento predatório em relação à praga.
• Toxomerus sp. (Diptera: Syrphidae): gênero de predadores com espécies abundantes em lavouras brasileiras. Comumente conhecidos como “mindim”, na sua fase larval são vorazes predadores de pulgões, moscas-brancas, cigarrinhas e tripes.
Os fungos entomopatogênicos causam infecção devido à germinação de seus esporos quando penetrados na cutícula do inseto através da hidrólise enzimática. Os fungos entomopatogênicos produzem uma grande quantidade de enzimas degradantes de polímeros da cutícula dos insetos, convertendo os tecidos do inseto em nutrientes para o seu crescimento.
• Cordyceps sp: (=Isaria) gênero de fungos entomopatogênicos que contêm muitas espécies que podem infectar diferentes ordens de insetos em todas as fases de desenvolvimento. Cresce rapidamente e coloniza o hospedeiro com seu micélio branco, que pode mudar para cor rosa ou púrpura. Alguns isolados desse fungo são mais eficientes a um inseto específico; outros isolados são capazes de infectar uma grande parte de insetos e ácaros.
• Metarhizium anisopliae: por sua alta eficiência e facilidade de produção, é um dos fungos mais produzidos e utilizados na agricultura. É agente de controle de importantes pragas, como a cigarrinha-das-pastagens na cana-de-açúcar. Esse fungo é produzido por várias empresas no Brasil para ser utilizado no controle de várias pragas, incluindo o pulgão do algodoeiro.
O controle biológico de pulgões é especialmente interessante, pois pode dispensar o uso de controle químico em fases críticas de desenvolvimento da planta, quando seu sistema radicular ainda não está totalmente estabelecido (fase inicial, de 20 a 50 dias após a emergência) ou quando os capulhos estão abertos.
Os entraves para criação massal, produção comercial e comercialização propriamente dita estão sendo superados pelas empresas produtoras de bioinsumos e a demanda por estes produtos está em ascensão. Isto reflete uma quebra de paradigma, com os produtores buscando ferramentas alternativas ao controle químico de pragas. Esta tendência deve concorrer para a redução do número de aplicações na cultura do algodoeiro, com consequentes ganhos ambientais e garantia da lucratividade da cultura.
Por José Ednilson Miranda, Bruna Mendes Diniz Tripode, Valéria de Lima Jardim, Cherre Sade Bezerra da Silva, Embrapa Algodão; Eliane Dias Quintela, Embrapa Arroz e Feijão
Artigo publicado na edição 289 da revista Cultivar Grandes Culturas
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Por Daniel Debona e Darlan Felipe Sartori, Universidade Tecnológica Federal do Paraná
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