Estudos de projeção de demanda realizados pelo International Rice
Research Institute (IRRI) em janeiro de 1994, apontam a necessidade de
aumentar a produção mundial de arroz em cerca de 70% em 2025. Além
disso, estes mesmos estudos mostram um mercado internacional diferente
do tradicionalmente conhecido.
Especialmente na Ásia, continente historicamente auto-suficiente,
existe um alto potencial de demanda. Os países asiáticos terão que
importar cerca de 10 milhões de toneladas de grãos nos próximos anos.
Vários são os fatores que tem contribuído para essa mudança no mercado
mundial e entre esses, crescimento populacional, com a conseqüente
expansão imobiliária em áreas rurais, é um dos mais importantes, aliado
a falta de água para irrigação das lavouras. Tomemos como exemplo a
China, maior produtor de arroz (190 milhões de toneladas em 1996), com
um consumo per capita em torno de 133 kg de arroz branco/habitante/ano,
que depara-se atualmente com o desafio de alimentar 1,2 bilhões de
pessoas (22% da população mundial) com apenas 9% da terra agricultável
disponível no mundo. Para fins de comparação cita-se o Brasil, cuja
população equivale a 3% da população mundial e dispõe de 8% de terras
agricultaveis do planeta.
Vários autores citam , ainda, que a população chinesa está crescendo
em, aproximadamente, 14 milhões de pessoas por ano, e por outro lado,
reduziu suas terras para a agricultura em 400.000 hectares, justamente
devido a expansão imobiliária.Dessa maneira, para poder alimentar o
país nos próximos anos, os chineses terão que importar grandes
quantidades de cereais, e em especial, de arroz, que é o principal
produto alimentar na dieta asiática.
Outro fator importante na mudança do mercado mundial diz respeito a
rodada de negociações do GATT (Acordo Geral Sobre Tarifas e Comércio),
realizado em 1995 no Uruguai, que permitiu a abertura de fronteiras
para o mercado internacional, em especial, o fim das proibições e
importações no Japão e Coréia. Neste cenário, das 10 milhões de
toneladas de grãos de arroz demandados pelos países asiáticos, metade
seria suprida por exportadores tradicionais como os Estados Unidos,
Tailândia e Vietnã e a outra metade teria que ser suprida por países da
América Latina e África. Considerando que nos países africanos há
constante instabilidade política e econômica, é pouco provável que
esses possam suprir essa demanda.
Abre-se, portanto, um mercado altamente promissor para o arroz
produzido na América Latina, onde o Brasil pode liderar essas
exportações.
Por outro lado, o mercado internacional é altamente organizado e
competitivo, e sendo assim, é necessário que o Brasil se prepare
imediatamente para ser exportador.Nos Estados Unidos, por exemplo, 20%
da área cultivada com arroz no estado de Lousiana é com grãos que se
destinam à exportação, principalmente par o mercado
japonês.Concomitantemente, os programas de pesquisas estão
intensificando o desenvolvimento e a avaliação de um grande número de
linhagens com grãos japônica. Por outro lado, onde não predominam
cultivares japônicas, o mercado internacional prefere grãos do tipo
longo e aromáticos, cujo preço é duas vezes maior que cultivares
não-aromáticas.
De um modo geral pode se dizer que no Japão, Coréia e algumas regiões
da China são preferidos os arrozes de grãos curtos, arredondados e que
“grudam” após o cozimento, enquanto que, na Índia, ocorre o emprego em
larga escala de cultivares aromáticas. Os mercados da Europa e América
têm como preferência grãos longos e finos. No entanto, sem sombra de
dúvidas, o mercado asiático é o mais atraente devido a grande tradição
e consumo elevado de arroz.
Além da demanda externa, o mercado brasileiro já vem acenando para a
necessidade de diversificação de tipos de arroz para serem usados em
receitas culinárias sem o acompanhamento do feijão.Restaurantes,
empresas e importadoras, sintonizadas no processo de globalização,
estão investindo em cultivares que apresentam grãos especiais para
preparação de risotos e pratos oriundos da culinária asiática. Há
estimativas que no Brasil a Colônia Japonesa seja de mais de 3 milhões
de pessoas, consumidoras potenciais das comidas orientais, que utilizam
como base arroz com grãos Japônica.
Do exposto, a pesquisa com arroz no Brasil procura se adequar a essa
nova realidade mundial, gerando tecnologias que atendam as demandas do
mercado, tanto em nível nacional como internacional.Como exemplo, a
Embrapa desenvolveu e vem avaliando cultivares aromáticas (aroma de
pipoca) em diversas regiões do país. Essas cultivares possuem atributos
apreciados pelos consumidores brasileiros: processados e embalados, os
grãos são translúcidos, com formato longo-fino (agulhinha) e após
cozimento ficam macios e soltos.
Em Roraima, para as várzeas, onde predomina a agricultura empresarial
com o cultivo de arroz irrigado, o enfoque é, além da obtenção de alta
produtividade e excelente qualidade de grãos de cultivares com grãos de
classe longo-fino(preferência no marcado nacional) desenvolver
pesquisas para obtenção de cultivares com grãos Japonicas(próprios para
a culinária japonesa), visando tanto o mercado interno, como o de
Manaus-AM como também o mercado asiático. Com o início de funcionamento
da Zona de Processamento de Exportação e das Áreas de livre Comércio de
Boa Vista e Bonfim (ALC´s), recentemente aprovadas, Embrapa Roraima
está atenta a esta possibilidade de negócio e intensificará a partir
deste ano agrícola(2008/09), pesquisas com a introdução e avaliação de
linhagens de arroz com grãos Japônicas em Roraima.
Engenheiro Agrônomo, Dr. em Genética e Melhoramento de Plantas
Pesquisador da Embrapa Roraima
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