Com o aumento da área plantada em milho no Brasil, (Milho, 1998), e a adoção das tecnologias disponíveis, a utilização de herbicidas em pós-emergência na cultura do milho tem se tornado cada vez mais freqüente (Silva et al. 1998). No entanto, herbicidas não totalmente seletivos podem causar injúrias às plantas de milho, quando estas são involuntariamente atingidas. Como esses agentes químicos são basicamente bloqueadores de processos metabólicos, entre os quais a fotossíntese, a grande questão que surge é: quais serão os efeitos dessas injúrias no processo produtivo da cultura?. A área foliar verde do milho é tida como a principal fonte de fotoassimilados para a planta (Magalhães et al. 1995; Magalhães & Jones 1990a) e, segundo Fancelli (1998). uma perda nessa fonte poderá refletir no desenvolvimento da planta e na produção de grãos.
Resultados experimentais em milho tem demonstrado que entre as folhas superiores e inferiores as primeiras tem uma contribuição mais significativa para a produção de grãos (Allison & Watson 1966). Soma-se a isso o fato do milho conter uma considerável reserva de fotoassimilados no colmo (Duncan et al. 1967; Tollenaar & Daynard 1978b), os quais podem ser translocados para os grãos na fase de enchimento (Adelana & Milbourn 1972; Jones & Simmons 1983; Lucas 1981).
Não existem atualmente dados suficientes na literatura para responder questionamentos relativos a uma possível queda na produção de grãos quando as plantas de milho são atingidas por herbicidas não totalmente seletivos. Dentro deste contexto o objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da fitotoxidade causada pela aplicação dos herbicidas na fase inicial da cultura e o seu efeito na produção de grãos.
O ensaio foi conduzido na área experimental do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (CNPMS), Sete Lagoas – MG, durante dois anos agrícolas (1994/95 e 1995/96). O solo utilizado foi um latossolo vermelho escuro, fase cerrado, textura argilosa, adubado de acordo com a análise do solo. Para o ano agrícola 1994/95 foi aplicado 350 kg/ha da fórmula 4-30-16 + zinco e 45 kg/ha de N cobertura, no ano seguinte 400 kg/ha da fórmula 4-14-8 + zinco e 45 kg/ha de N em cobertura. A área experimental foi irrigada sempre que necessário baseando-se em leituras de tensiômetros instalados previamente a 20 e 40 cm de profundidade. Adotou-se o limite de -0.07 MPa como o momento da irrigação (Resende et al. 1992). Foi utilizado o milho híbrido triplo BRS 3123, nos seguintes tratamentos:
1. Cyanazine + Simazine + assist (pós 4 folhas)
2. Cyanazine + Simazine (pós 4 folhas)
3. Cyanazine + Simazine + assist (pós 6 folhas)
4. Cyanazine + Simazine (pós 6 folhas)
5. Paraquat+extravon (jato no 1° par de folhas, estádio de 12 folhas)
6. Paraquat+extravon (jato no 3° par de folhas, estádio de 12 folhas)
7. Ametryn + Assist (jato no 1° par de folhas, estádio de 12 folhas)
8. Ametryn + Assist (jato no 3° par de folhas, estádio de 12 folhas)
9. Retirada manual do 1° par de folhas, (estádio de 12 folhas)
10. Retirada manual do 1° ao 3° pares de folhas, (estádio de 12 folhas)
11. Testemunha com capina
12. Testemunha sem capina
As doses e produtos comerciais utilizados no ensaio foram: Blazina SC (cyanazine + simazine) a 6,4 l/ha; Gramoxone (paraquat) a 2 l/ha; Gesapax (ametryn) a 3 l/ha; Assist a 0,5% v/v e, Extravon a 0,1% v/v.
A aplicação dos tratamentos foi estabelecida em diferentes estádios de desenvolvimento da cultura (4, 6 e 12 folhas completamente desenvolvidas (Ritchie & Hanway 1989). A pulverização nos estádios iniciais foi realizada em área total, utilizando-se um pulverizador tipo monociclo equipado com barra de oito bicos APJ-110.R, pressão de 2,75 Kgf/cm2, com uma vazão de 240 l/ha. A pressão de pulverização foi obtida através de um cilindro de CO2 e controlada por um manômetro de baixa pressão. As condições climáticas para o ano agrícola 1994/95, no período da aplicação (estádios de 4 e 6 folhas) apresentaram-se com uma temperatura média em torno de 30.5o C e umidade relativa de 63%. Para o ano seguinte, no mesmo período foram registrados 29.5o C de temperatura e umidade relativa de 68%. No estádio de 12 folhas a pulverização foi feita no centro das entrelinhas com um pulverizador costal tipo mochila, tanque de 10 L, pressurizado a CO2 e munido de um bico TF-VS3 (floodjet), pressão de 2,00 Kgf/cm2, com uma vazão de 295 l/ha, ajustando-se a altura do bico para atingir-se o primeiro par de folhas baixeiras do milho (tratamentos 5 e 7) e o terceiro par de folhas (tratamentos 6 e 8). As condições climáticas relativas à temperatura e umidade relativa para essa época de aplicação foram respectivamente 29.1o C e 75% (ano agrícola 1994/95) e 29.0o C e 79% (ano agrícola 1995/96). Para evitar-se o efeito da matocompetição sobre a cultura, mascarando o efeito de injúrias químicas sobre a produtividade, todas as parcelas, com exceção das parcelas testemunhas sem capina (tratamento 12), foram capinadas manualmente sempre que necessário. Nesse trabalho, não se cogitou o efeito dos tratamentos químicos sobre as plantas daninhas, fato bastante conhecido e registrado na literatura (Silva & Karam, 1994; Silva & Pires, 1990; Silva et al. 1998).
O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com 12 tratamentos e quatro repetições. Na época do florescimento foram avaliados as seguintes características: altura da planta, área foliar, matéria seca das plantas e teor de clorofila nas folhas. No final do ciclo da cultura: altura final da planta, altura de inserção das espigas, diâmetro do colmo, peso de espigas, peso de 1 mil grãos e produção de grãos. A parcela experimental foi constituída de 4 linhas de 9 metros de comprimento espaçadas de 0.90 m com cinco sementes por metro, sendo que para a área útil foi considerada as duas fileiras centrais de 8 m de comprimento, abandonando –se 0.50 m nas cabeceiras. Os dados foram submetidos a análise de variância e as médias separadas pelo teste de Tukey. Para discussão dos resultados nos dois agrícolas foram selecionados dois componentes de crescimento (área foliar e matéria seca) e também dois componentes de produção (peso de espigas e grãos), corrigidos para a umidade padrão de 13%.
No ano agrícola 1994/95, as variáveis relacionadas ao crescimento e desenvolvimento das plantas não apresentaram diferenças estatisticamente significativas entre os diversos tratamentos (Tabela 1 -
). Isso mostra uma certa tolerância do milho aos herbicidas pós emergentes aplicados. No entanto, o peso de espigas e a produtividade foram afetados (Tabela 2).
A aplicação de Cyanazine + Simazine + Assist propiciou o maior peso de espigas e de grãos, enquanto que a testemunha sem capina foi o pior tratamento, o que demonstra que o efeito de matocompetição foi maior do que os possíveis danos causados pela fitotoxidade dos herbicidas. Os demais tratamentos situaram-se em uma posição intermediária com relação a estas características.
A aplicação dos herbicidas cyanazine + simazine, com e sem Assist, no período de desenvolvimento de quatro folhas da cultura além de proporcionar um bom controle das plantas daninhas, não afetou o desenvolvimento do milho. Apesar de as folhas baixeiras terem sido pulverizadas diretamente, resultando com isso sintomas visuais de necrose e perda de área foliar verde, as plantas de milho foram capazes de compensar essa perda e ainda alcançar um bom rendimento de grãos, através da redistribuição de carboidratos acumulados na planta conforme explicou Magalhães et al. (1998).
A área foliar é uma característica importante para determinar tamanho da fonte supridora de fotoassimilados (Magalhães et. al. 1995). Apesar de que, em ambientes tropicais, o milho é geralmente limitado pelo dreno e não pela fonte (Tollenaar 1977); uma redução na área foliar pode acarretar problemas para a planta durante o período de enchimento de grãos, uma vez que as folhas juntamente com o colmo são a principal fonte para satisfazer, neste período, a alta demanda dos grãos (Magalhães & Jones 1990b e Magalhães et al. 1998). Mackinnon (1979), confirmando dados experimentais de Allison & Watson (1966) e Magalhães et al. (1999), concluiu que, em ambientes desfavoráveis, como as de alguns tratamentos do trabalho, o colmo mostra maior participação do que em ambientes favoráveis, ou seja, maior quantidade de fotoassimilados é alocado do colmo para o grão em situação de estresse, onde as folhas são menos saudáveis.
Com relação aos efeitos da retirada mecânica das folhas comparada aos tratamentos químicos, foi verificado nesse ano agrícola que, praticamente não houveram diferenças tanto nas características de crescimento como nas características de produtividade (Tabelas 1 e 2). O fato da retirada mecânica das folhas não ter afetado o desenvolvimento da planta e a produtividade discorda do trabalho de Fancelli (1988); acredita-se no entanto que o genótipo estudado no presente trabalho, BRS 3123, o qual tem características de material tropical , seja a principal razão para o resultado encontrado. Germoplasmas tropicais geralmente são limitados pelo dreno e não pela fonte de fotoassimilados (Tollenaar 1977, Magalhães et al. 1998 e Magalhães et al. 1999).
No agrícola 1995/96 as variáveis avaliadas no período de floração do milho, (área foliar e a matéria seca das plantas) apresentaram diferenças estatisticamente significativas (Tabela 3). Verificou-se um melhor desenvolvimento das plantas com a aplicação de cyanazine + simazine com e sem óleo mineral aplicados nos estádios de 4 e 6 folhas. A aplicação de paraquat+extravon; ametryn+assist no estádio de 12 folhas provocou injúrias que resultaram na redução de área foliar e matéria seca das plantas. As parcelas testemunhas sem capina, devido ao efeito da competição pelas plantas daninhas, apresentaram também redução da área foliar e da matéria seca de plantas.
A análise da produção de espigas e de grãos (Tabela 4) mostrou no entanto, que houve uma reversão, sendo os melhores resultados obtidos com aplicação do paraquat+extravon e ametryn +assist, apesar das injúrias observadas. Salienta-se que a aplicação desses herbicidas, apesar de causar perda de área foliar verde e matéria seca, proporcionou um bom controle de plantas daninhas no final do ciclo da cultura. O milho foi capaz de recuperar-se, através da redistribuição de fotoassimilados acumulados na planta e alcançar bom rendimento de grãos. A retirada mecânica das folhas, quando comparada a maioria dos tratamentos químicos, afetou somente a área foliar, quando aquele tratamento foi imposto no estádio de 12 folhas (retirando-se o 1o ao 3o pares, Tabela 3). No entanto para a matéria seca das plantas, esse mesmo efeito já não foi observado (Tabela 3).
Com relação às características de produção, não foram verificados nenhum afeito estatisticamente significativo dos tratamentos de retirada mecânica das folhas. A performance das plantas nesses tratamentos foi semelhante aos dos tratamentos químicos. Os comentários realizados anteriormente para o ano agrícola 1994/95 são válidos para esse ano agrícola.
A aplicação de herbicidas em pós-emergência na fase inicial da cultura, além de proporcionar um bom controle das plantas daninhas, não afetou o desenvolvimento do milho.
Na aplicação dirigida, apesar de as folhas baixeiras terem sido pulverizadas diretamente, ocasionando com isso sintomas visuais de necrose e perda de área foliar verde, as plantas de milho foram capazes de compensar essa perda e ainda alcançar um bom rendimento de grãos, através da redistribuição de carboidratos acumulados na planta.
Embrapa Milho e Sorgo - Sete Lagoas/MG;
Consultor;
Embrapa Milho e Sorgo - Sete Lagoas/MG;
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