Os percevejos (Hemiptera, Pentatomidae) são considerados no complexo de pragas da soja as de maior risco para a cultura. As ninfas, a partir do terceiro ínstar, e os adultos podem causar grandes danos à cultura a partir da fase de formação das vagens até o final do desenvolvimento das sementes (R3 a R7). Por isso representam um perigo na reta final do cultivo, quando se definem o rendimento e a qualidade da semente.
Com as suas picadas, para se alimentarem, os percevejos atingem diretamente os grãos em formação. O dano direto varia, dependendo do estágio em que se encontra o grão ao ser picado, desde a inviabilização total da semente, por abortamento, até a redução do vigor e potencial germinativo. Como danos indiretos são citados a transmissão de doenças fúngicas e a indução de um distúrbio fisiológico que afeta a maturação normal das plantas atacadas, permanecendo estas com as folhas verdes ao final do ciclo. Isto causa problemas na colheita, pelo excesso de umidade no processo de trilha e no produto colhido. O resultado final é prejuízo, pela queda no rendimento e qualidade e, no caso de produção de sementes, pela sua inviabilização.
São três as espécies principais de percevejos-praga da soja: o verde (
), o pequeno (
) e o marrom (
). Um quarto percevejo, de menor importância na soja, mas que nos últimos anos, com a safrinha de milho, adquiriu importância nesta cultura, é o barriga-verde (
).
O percevejo-verde ocorre com maior freqüência ao sul do Trópico de Capricórnio, correspondendo à Região Sul do Brasil. As fêmeas depositam seus ovos, de cor bege, na face inferior das folhas, agrupados em forma de mini-colméia, com 50 a 100 ovos cada. As ninfas, ao eclodirem, têm coloração preta e manchas claras sobre o dorso, permanecendo agrupadas até o segundo ínstar. Somente a partir do terceiro começam a se alimentar dos grãos da soja. O período ninfal, dividido em 5 ínstares, dura de 15 a 20 dias, dependendo de alimentação e temperatura. O adulto, com 12 a 15 mm de comprimento, é inteiramente verde. Pode sobreviver até 50 dias, em boas condições de alimentação e ambiente.
Nas condições climáticas do norte do Paraná normalmente ocorrem três gerações na soja, de dezembro a fevereiro. Para passar o resto do ano realiza mais 4 gerações utilizando leguminosas nativas, nabo, rubim e feijão.
O percevejo-pequeno ocorre em todas as regiões produtoras de soja do Brasil e países vizinhos. O adulto é também verde, porém tendendo ao amarelo, e atinge apenas 10 mm, em média. Apresenta uma listra marrom transversal no pronoto, que caracteriza a espécie. As fêmeas depositam seus ovos, de coloração preta, em fileiras pares com 10 a 20 ovos por postura, em ambas as faces das folhas, nas vagens e também no caule e nos ramos. As ninfas, também agrupadas no início, causam danos a partir do terceiro ínstar. Passam pelos 5 ínstares em 15 a 20 dias, mudando sua coloração do preto ao avermelhado e gradativamente adquirindo o tom verde, predominante no adulto. Estudos no norte do Paraná mostram que este percevejo também realiza três gerações na soja, de dezembro a fevereiro, passando o restante do ano com mais duas gerações em anileira e uma em feijão.
O percevejo-marrom vive predominantemente nas regiões tropicais e subtropicais, correspondendo no Brasil às regiões produtoras situadas ao norte do Paraná. Como o nome comum diz, sua coloração é marrom. O adulto apresenta dois prolongamentos laterais pontiagudos no pronoto (os espinhos). As ninfas têm coloração variada, desde o esverdeado ao marrom-escuro. Os ovos, de cor bege, em pequeno número (5 a 8 por postura), são depositados nas folhas e vagens da planta. Prestes a eclodir, os ovos apresentam uma mancha rósea. Como os dois percevejos anteriores, a fase de ninfa dura de 15 a 20 dias e causa danos somente a partir do terceiro ínstar. Também realiza três gerações na soja, durante o verão e, diferente dos percevejos verde e pequeno, passa cerca de sete meses (abril a outubro) sob folhas mortas no solo, em oligopausa (tipo dormente), quando acumula lipídeos, apresentando os espinhos do pronoto mais arredondados e a coloração marrom mais clara que a fase não dormente. Este hábito o torna menos suscetível ao ataque de inimigos naturais, podendo explicar sua maior abundância em relação aos dois primeiro descritos. Antes de passar para a soja ainda realiza uma geração em feijão na primavera.
Manejo integrado: meios de controle
A soja é uma das culturas onde a pesquisa conseguiu grandes avanços em manejo de pragas, reduzindo o número de aplicações de inseticidas, a partir da década de 70. Como todo manejo de pragas, o dos percevejos envolve amostragens de campo para definir o momento de pulverizar. A escolha de produtos mais seletivos, para lagartas e outras pragas cujo controle tenha sido necessário antes da ocorrência de percevejos, também é aconselhável.
O primeiro objetivo é de preservar toda uma gama de inimigos naturais e dar tempo para que estes mantenham as pragas sob controle e somente usar o controle químico quando estas atinjam o nível crítico.
A Embrapa Soja tem conseguido sucesso com o controle biológico de percevejos, usando a vespinha Trissolcus basalis, que parasita seus ovos. Porém o uso desta tecnologia tem sido, até o presente, restrito a áreas ou regiões limitadas Com a criação em laboratório e posterior soltura desta vespinha tem se reduzido o controle químico.
Dentro do conceito de cultivo integrado vale prestar atenção também para a época de plantio e ciclo da cultivar, pois toda lavoura de soja que permanecer em maturação por um período além do normal para a região tende a atrair os percevejos de lavouras vizinhas já colhidas.
Isto pode tornar inviável o controle até mesmo com produtos químicos de alta eficiência.
Para acomaacompanhar a evolução da população e definir a hora de efetuar o controle, as amostragens de percevejos devem ser feitas com um pano-de-batida. É o mesmo pano usado para as lagartas, de preferência branco, com 1 m de comprimento.
Estendendo o pano entre duas fileiras de soja, bate-se de maneira a sacudir bem as plantas, fazendo com que os percevejos caiam sobre o pano para serem contados.
Deve-se amostrar vários pontos da lavoura, calculando uma média de percevejos por batida de pano, e realizar as amostragens com maior intensidade nas bordaduras da lavoura, por onde o ataque geralmente inicia.
Comparando o número achado nas bordas com o do interior da lavoura pode-se localizar estes focos iniciais, o que propicia economia, fazendo-se o controle somente nas bordaduras da lavoura quando o ataque ainda está restrito a estas.
As vistorias para avaliar percevejos devem ser feitas durante o período de formação (R3) e enchimento das vagens até o início da maturação fisiológica (R7). É recomendado o período da manhã, até 10 h, quando os percevejos estão mais ativos sobre as plantas.
Outra medida para racionalizar o controle de percevejos, recomendada oficialmente, é a adição de sal de cozinha refinado à calda de pulverização. A adição do sal possibilita a redução da dose de certos inseticidas recomendados pela metade.
Luiz Francisco Weber
Bayer
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