Doença destrutiva em oliva, causada pelo fungo Fusicladium oleaginum, o olho de pavão ou repilo possui poder para causar intenso desfolhamento
21.06.2016 | 20:59 (UTC -3)
A oliva é uma nova alternativa para a agricultura brasileira. O alto potencial econômico dessa cadeia produtiva nas áreas de extração de azeite, conservas, fitomedicamentos e cosméticos têm incentivado empreendimentos nos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, uma vez que o país é totalmente dependente de importações para abastecer o mercado interno.
Considerado ingrediente básico da dieta mediterrânea, o azeite de oliva tem sido amplamente indicado para o consumo humano graças às suas propriedades como: fonte das vitaminas E, A e K, ferro, cálcio, magnésio, potássio, aminoácidos, além de benéficos ao coração, pele, olhos, ossos e sistema imunológico.
O olho de pavão ou repilo, causado pelo fungo Fusicladium oleaginum (Sin. Spilocaea oleagina), é considerado uma das mais importantes e destrutivas doenças da oliva em todo o mundo. Os sintomas iniciais da doença, na parte superior das folhas, são lesões circulares, concêntricas, com coloração amarela, verde ou marrom, cujo diâmetro pode variar de 2mm a 1cm. Ao evoluírem se tornam escuras, com o centro claro e podem apresentar ou não um halo amarelo ao seu redor. Em condições climáticas favoráveis, observa-se nos halos escuros a presença de corpos de frutificação, responsáveis pela produção de conídios do fungo. No verão as lesões são atípicas irregulares e as lesões mais velhas podem se tornar esbranquiçadas, devido à separação da cutícula da epiderme. Na parte debaixo das folhas pode-se notar a presença de lesões escuras e alongadas localizadas na nervura central das folhas infectadas. As folhas jovens tendem a ser mais suscetíveis. O fungo pode também causar lesões pardo-escuras em pecíolos e pedúnculos acelerando a queda de folhas e frutos. Os frutos afetados apresentam-se deformados e com a presença de lesões necróticas, deprimidas e levemente castanhas.
O olho de pavão é favorecido por temperaturas amenas (10ºC a 24˚C) e alta umidade (90%). A doença pode causar intensa queda de folhas, provocar redução do vigor e a queda acentuada da produção e da qualidade dos frutos. A doença é favorecida por excesso de nitrogênio e deficiência de cálcio e potássio; acúmulo de umidade e baixa circulação de ar ente as plantas; podas insuficientes, plantios em baixadas e próximos a fontes de água (rios, lagos, açudes) etc.
O manejo da doença deve ser baseado em medidas integradas como o plantio de cultivares com algum nível de resistência. São menos suscetíveis Leccino, Arbosana, Galega, Koroneiki, Frantoio e mais suscetíveis Picual, Arbequina, Verdial.
Recomenda-se o uso de mudas certificadas, plantio em terrenos arejados, drenados e ensolarados. É preciso evitar plantios adensados e copas muito fechadas.
São indicadas podas seletivas de formação e manutenção, de forma a favorecer a circulação de ar e a penetração de luz no interior da copa.
A adubação deve ser equilibrada: evitar excessos de nitrogênio e matéria orgânica. Utilizar níveis adequados de cálcio, fósforo e potássio disponíveis pode reduzir a ocorrência do olho de pavão.
Em áreas irrigadas deve-se reduzir a frequência das regas em períodos favoráveis à doença. Também é importante o manejo correto de plantas daninhas de forma a evitar o acúmulo de umidade entre as plantas.
Outra medida importante é a eliminação de folhas, frutos doentes e restos de cultura (fonte de inóculo). Esse material deve ser incorporado ao solo fora do pomar. Recomenda-se, ainda, a colheita antecipada em áreas onde a incidência da doença é severa em frutos.
O uso de fungicidas é uma prática amplamente utilizada em outros países produtores, porém, no Brasil ainda não existem produtos registrados para a cultura da oliveira. No exterior as doenças foliares são amplamente controladas com produtos à base de cobre e em alguns casos em mistura com ditiocarbamatos. Sistemas de produção integrada na Europa têm utilizado produtos à base de estrobilurinas, guanidina e triazóis para o controle da doença. O registro de fungicidas para a cultura é fundamental para a consolidação dessa nova cadeia produtiva no Brasil.