O diálogo é possível: a importância da boa comunicação entre apicultores e agricultores

Por Edson Xavier, apicultor parceiro do Sindiveg

03.07.2023 | 13:58 (UTC -3)
Figura 1. À esquerda abelha visitando flor de abrunheiro (Prunus spinosa). À direita cultura de soja localizada próxima aos apiários.
Figura 1. À esquerda abelha visitando flor de abrunheiro (Prunus spinosa). À direita cultura de soja localizada próxima aos apiários.

Com o objetivo de construir um negócio próprio e melhorar minha qualidade de vida, iniciei, há 22 anos, no ramo da apicultura. Desde essa época, a importância das abelhas para o meio ambiente é de conhecimento da população, contudo, poucos sabem da importância desses organismos para a agricultura.

A polinização realizada pelas abelhas é extremamente importante para o aumento da produtividade agrícola de alguns cultivos. Esses cultivos são chamados de dependentes e de beneficiados pela polinização, e podem ter uma redução na produção de 10% a 100% se não forem polinizados. Por isso, é de suma importância que o apicultor conheça os cultivos do entorno e formalize seu pasto apícola, trazendo benefícios para ambas as partes.

Em contrapartida, a atividade agrícola também é importante para a produção de mel e demais produtos apícolas. Isso se deve ao fato de que as abelhas necessitam de uma grande diversidade de plantas fornecendo fonte de alimento, como por exemplo, o néctar, que contribui para crescimento das colônias e para a produção de mel.

Por meio da boa convivência com os agricultores do entorno posso aumentar a minha produção de mel, além de produzir própolis, pólen e prestar serviços de polinização, contribuindo também para a agricultura. Dessa forma, construí uma relação de ganha-ganha com os agricultores do entorno.

Para a boa convivência, é necessário existir uma comunicação muito próxima e assertiva. E, sim, o diálogo é possível, já que ambos pretendem chegar no mesmo resultado: aumento de produtividade nas atividades.

Hoje, com a parceria formada com os agricultores do entorno das minhas 250 colmeias, localizadas próximas à mata nativa e a culturas de eucalipto, cereais (soja, trigo, milho), laranjeira e outras frutas no estado de São Paulo, consigo trabalhar de forma segura, montando apiários em pontos estratégicos por meio de um estudo do terreno, avaliando não só o pasto apícola, mas também a porcentagem de mata nativa da região. Essa e outras estratégias permitem que eu tenha um bom volume de produção (acima de 40kg por ano por colmeia), com o menor número de caixas possível, isso por que, a escolha do local do apiário e a formalização do pasto apícola, através do diálogo com os agricultores, é um dos fatores de maior influência sobre a produção.

Além disso, o manejo adequado dessas colônias também é de extrema importância, pois fortalecem as abelhas e contribuem não só para a saúde, mas também para a organização e higiene das colmeias. Vale lembrar que, em determinadas épocas do ano, com a florada escassa, é necessário realizar a suplementação alimentar (protéica e/ou energética) das abelhas e o suprimento de água. Essa prática é essencial para evitar a perda de enxames, seja pela escassez de alimentos, frio ou até pela maior probabilidade de contaminação por substâncias químicas.

Figura 2. Fonte de água para saúde e nutrição das abelhas.
Figura 2. Fonte de água para saúde e nutrição das abelhas.

Dito isso, é preciso que fique claro que, sim, é possível a utilização de defensivos agrícolas pelos produtores rurais sem prejuízos às abelhas! Sempre que feito um manejo de forma profissional e adequada, esses danos ocorrem em escalas quase inexistentes. Além disso, ao ter uma relação extremamente próxima, o apicultor sabe quando e quais defensivos serão aplicados. Por isso, recomendo que os apicultores tenham conhecimento sobre o calendário de aplicação de defensivos, intervalo de segurança, período de colheita, entre outras atividades agrícolas que podem influenciar sobre as abelhas.

O conhecimento dessas atividades só é possível através da comunicação entre os envolvidos. Um acordo sobre os avisos de pulverizações deve ser firmado entre as partes, permitindo que medidas de mitigação de riscos sejam tomadas.

A depender do princípio ativo utilizado, realizo o fechamento, por 24h, das colmeias utilizando telas de escape invertido. Contudo, normalmente, removo as colmeias do local no período da pulverização e as transfiro para outra área no interior da fazenda, minimizando custos e tempo para ambas as partes.

A remoção das colmeias deve ser feita em um prazo a combinar com o proprietário, mas sempre antecedendo as aplicações.

Dessa forma, constitui uma parceria de confiança, melhorando o relacionamento comercial, agregando valor à prestação de serviço e trazendo retorno para ambos os lados, aumentando não só a minha produtividade, mas também a segurança e bem estar de minhas colônias, reduzindo drasticamente a perda de colmeias. Além de aumentar a produtividade e me beneficiar de um pasto apícola diversificado.

Por isso, digo que, a chave para o sucesso da apicultura está no diálogo e no bom relacionamento com os agricultores do entorno!

Por Edson Xavier, apicultor parceiro do Sindiveg 

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