Trator para o trabalho em parreirais da Serra
Trabalho em parreirais implantados em terrenos acidentados exige tratores estáveis, capazes de trabalhar em condições com poucos espaços de manobra para diferentes aplicações
Já fragilizados pelo enfrentamento da pandemia causada pelo SARS-COV-2 (Covid-19), a população do sul do Brasil, mais especificamente os produtores rurais do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, estão assustados com a ameaça da chegada de uma nuvem de gafanhotos sul-americanos da espécie Schistocerca cancellata.
Em 26 de junho de 2020, estes insetos estavam na Argentina, a cerca de 250 km da divisa com o Brasil, vindos do Paraguai. A nuvem está sendo monitorada pelos argentinos desde 11 de maio de 2020; chegou à Argentina em 21 de maio, retornou ao Paraguai, e em 28 de maio novamente atingiu a Argentina.
O ciclo do gafanhoto apresenta as fases de ovo (15-21 dias), ninfa = saltão (51-89 dias) e adulto = voador (1ª geração, 51-89 dias, 2ª geração, 91-155 dias). Ou seja, cada indivíduo pode viver quase um ano.
Especialistas estão estudando os fatores que levam ao ressurgimento da praga em sua fase mais agressiva. Possivelmente é decorrência da conjunção de fatores climáticos (alta temperatura, baixa umidade, vento, etc).
Formam nuvens de até 30 km² (30.000.000 m² ou 3.000 há = 3.000 campos de futebol), compostas de aproximadamente 40 milhões de insetos voadores com cerca de 15 cm cada.
Esta população consome o equivalente a dois mil bois ou 350 mil pessoas em apenas um dia. São herbívoros e não afetam a saúde do homem e nem são vetores de agentes de doenças em seres vivos.
Entretanto, esta visão apocalíptica do problema divulgada pelas redes sociais, não condiz com a realidade, de acordo com especialistas: já há protocolos para conter a praga, não havendo motivos para alarde! Além disso, os ventos, a chegada do frio e a falta de opções por alimentos (estamos na entressafra/apenas pastagens disponíveis na região), podem trazer mais tranquilidade à população.
Apesar disso, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) já declarou “estado de emergência fitossanitária” no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina (Portaria nº 201, de 24/06/2020) pelo período de um ano, com diretrizes e medidas a serem adotadas. Embora já existam inseticidas registrados para o gafanhoto sul-americano (dois produtos comerciais à base de deltametrina/piretroide) e outros cinco à base de diflubenzurona/benzuilureia para Rhammatocerus spp, o MAPA já dispõe de outras alternativas, incluindo inseticidas biológicos, que podem ser registrados emergencialmente.
As autoridades brasileiras estão monitorando a nuvem de gafanhotos e, caso necessário, já existem ações que poderão ser implementadas. Estes pesticidas poderão ser aplicados via terrestre ou com aviões agrícolas. O MAPA já elaborou um “Manual de Procedimentos Gerais para o Controle da Praga Schistocerca cancellata - South American Locust (Serville, 1838)”, com o objetivo de reduzir ou evitar danos e possíveis prejuízos no caso de eventual surto no Brasil.
O monitoramento da praga consiste na detecção da presença de ovos no solo e, posteriormente, de ninfas (não tem capacidade de voo). É necessária a identificação dos diferentes estágios das ninfas e, se necessário, aplicação de pesticidas em faixas. Os adultos podem ser tratados por via aérea ou por terra, na primeira hora do dia.
O SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola) informou que o Rio Grande do Sul tem número suficiente de aeronaves prontas para operação imediata, caso necessário. Quando os adultos estão no solo é possível fazer a pulverização com inseticidas adequados em pouco tempo (cerca de 15 minutos). Os técnicos argentinos estão tomando providências semelhantes; é importante localizar o ponto de pouso dos insetos a tempo de executar a operação antes do escurecer ou logo pela manhã, antes de levantarem voo.
O controle é complexo devido a grande capacidade de voo dos gafanhotos: cerca de 150 km em um dia. O intervalo de tempo em que é possível aplicar inseticidas é curto e ocorre quando há pouca visibilidade.
Existem em torno de 12 mil espécies de gafanhotos e apenas dez são pragas agrícolas. São relatados diversos surtos em todo o mundo. Alimentam-se de plantas nativas e cultivadas. Formam densas “nuvens” migratórias sob condições climáticas favoráveis, com 10 km de comprimento por 3 km de largura, equivalente a 3.000 ha (3.000 campos de futebol). Quando pousam no final da tarde, se amontoam ocupando uma área de até 10 ha para se alimentar e permanece até a manhã do dia seguinte.
Não é a primeira vez que o fenômeno ameaça um país. Em diversas ocasiões gafanhotos causaram danos. Em 1400 A.C. dizimou colheitas no Egito, sendo considerada a oitava praga bíblica. Há relatos de surtos na América do Sul na Argentina (1538), nos Estados Unidos (1874), Egito e norte da África (2004), México (2006), Israel (2013), Argentina/Bolívia/Paraguai (2015-2017) e leste da África (2019/2020). Em Janeiro de 2020, o Paquistão declarou “Emergência Nacional” devido a surto. A China propôs o envio de 100.000 patos para o combate a 400 bilhões de gafanhotos; neste caso tratava-se de outra espécie: o gafanhoto do deserto, Schistocerca gregaria.
No Brasil já ocorreram surtos em 1880 (PB, RN), 1917 (RS), 1933-1947 (RS, SE), 1980 (MT) e 1984 (MT). Em MT a espécie presente foi Rhammatocerus schistocercoides. Isoladamente não causam danos expressivos às culturas, sendo consideradas pragas secundárias.
Esta ameaça pode ser tornar mais frequente. Assim, é conveniente desenvolver uma estratégia permanente contra o problema.
Em 2 de julho de 2020 está prevista videoconferência envolvendo especialistas e representantes dos Ministérios de Agricultura do Brasil, da Argentina e do Uruguai, com o objetivo de alinhar ações de combate à praga. A FAO/ONU também será envolvida, já que a instituição mantém um programa internacional de combate a gafanhotos.
Por José Otávio Menten, Presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo e Professor Sênior da ESALQ/USP
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