Monitoramento e manejo da lagarta da panícula em arroz

Monitoramento é de extrema importância, pois a demora na sua identificação é proporcional ao agravamento da população e dos danos

07.04.2020 | 20:59 (UTC -3)

De importância secundária ao longo de muito tempo na cultura do arroz, a lagarta da panícula detém atualmente o status de uma das principais pragas que atacam as lavouras orizicolas do Rio Grande do Sul. O monitoramento deste inseto é de extrema importância, pois a demora na sua identificação é proporcional ao agravamento da população e dos danos.

As lavouras do arroz irrigado do Rio Grande do Sul, em geral, sofrem o ataque de vários insetos-praga que contribuem para a redução da produtividade e o aumento dos custos de produção. Nos últimos 10 anos, alguns insetos ocorriam nas lavouras de arroz irrigado, mas não causavam danos. É o caso da lagarta-da-panícula (Pseudaletia spp.), antes de importância secundária e ocorrência esporádica, mas que nas últimas safras tem sido uma das principais pragas do arroz irrigado no estado.  Esta denominação praga é dada a partir do momento em que se dá aumento da densidade populacional do inseto causando prejuízos. A lagarta-da-panícula ocorre todos os anos atacando mais de 40% da lavoura e causando perdas. Muitos produtores, por não realizarem o monitoramento, desconhecem sua ocorrência. Esta demora na identificação da lagarta favorece o aumento da população e dos danos.

A lagarta-da-panícula sempre esteve disseminada por todo o estado gaúcho, porém nas regiões da Depressão Central, Fronteira Oeste, Campanha e Planície Costeira Externa, as populações e danos eram maiores. Nas 2 últimas safras na região da Planície Costeira Interna, lavouras apresentaram altas infestações e alguns produtores acharam que o dano foi causado por granizo.  

As causas do aumento da população da lagarta-da-panícula estão associadas às condições favoráveis na lavoura de arroz irrigado e também pelo hábito de suportar temperaturas mais baixas. Assim, após a colheita, o inseto continua a reproduzir-se na entressafra, permanecendo na área.

Como as populações estão altas no Rio Grande do Sul, é importante o produtor realizar observações periódicas, ou seja, monitorar a lavoura.

ESPÉCIES E BIOLOGIA

No Rio Grande do Sul ocorrem duas espécies, a Pseudaletia adultera e a P. sequax, ambas conhecidas também como lagarta-do-trigo. As lagartas dessas espécies são semelhantes nos primeiros estágios de desenvolvimento. A partir do quarto ínstar, a diferenciação é possível, pois as lagartas de P. adultera são escuras e as da espécie P. sequax,  são rosadas. 

Na fase adulta a identificação é mais fácil por serem de cor pardo-acinzentada, e o adulto de P. adultera é uma mariposa que apresenta ao centro de cada asa anterior um ponto de coloração escura.

A fêmea realiza as posturas nas folhas e colmos colocando até 1000 ovos. Passados 8 dias, nasce a lagartinha que apresenta ciclo em média de 28 dias. A seguir a fase de pupa, com coloração marrom-avermelhada, desenvolvida nas partes inferiores das plantas ou no solo, sendo o ciclo em média de 14 dias. Após surgem os insetos adultos.

No estágio inicial as lagartas se alimentam das folhas e posteriormente atacam as panículas.

HÁBITOS

Em função do hábito noturno, as lagartas ficam abrigadas durante o dia nas partes inferiores das plantas. Logo, existe grande dificuldade para determinar sua ocorrência. Ao final da tarde ou em dias nublados, as lagartas sobem para atacar as panículas.

Esta praga permanece na lavoura após a colheita, sendo encontrada principalmente na fase de lagarta, até o mês de junho nos restos culturais.   

OCORRÊNCIA E DANOS

Esta lagarta mudou o seu comportamento, pois tem ocorrido antes da emissão da panícula, na fase de afilhamento, ou seja, a partir dos 60 dias após a emergência, e em geral ataca as folhas.Também nesta fase, por conta das lagartas serem pequenas, os danos são menores. A maior incidência se verifica a partir da emissão da panícula, ocorrendo até a fase final da cultura, no estádio de maturação dos grãos, quando a lagarta corta as panículas.  Muitos produtores  percebem a presença da lagarta em um estágio avançado do ataque, quando já ocorreram  os danos, pois panículas praticamente inteiras são cortadas.

Na região da Fronteira Oeste, a lagarta-da-panícula ocorre nos meses de janeiro e fevereiro e nas demais regiões orizícolas, de fevereiro a abril, períodos de maiores densidades populacionais. Esta elevação do número de  indivíduos por área vai aumentar o nível de dano.

 Estudos realizados mostram que com a ocorrência de 1 lagartas/ m-2, pelo período de uma semana, as perdas no rendimento de grãos podem ser superiores a 2%, que em altas populações com mais de 8 lagartas/ m-2, após 5 dias a redução no rendimento de grãos pode chegar a 350kg/ ha. O produtor deve vistoriar a lavoura e, se necessário, realizar o controle antes que ocorram danos à cultura.

MONITORAMENTO

As estratégias de manejo devem começar com o adequado monitoramento da lavoura por parte do produtor. Conhecer os sinais do ataque, os hábitos do inseto e os locais mais prováveis de sua atividade são requisitos básicos para que o produtor saiba o local e o momento de procurá-las. O monitoramento deve ser iniciado no período do afilhamento, mas se deve dar maior atenção ao florescimento e durante o enchimento de grãos. As observações devem começar principalmente pelas taipas e para determinar a sua incidência, o produtor deve realizar um exame minucioso abrindo as plantas e observando se há as lagartas ou os seus resíduos na base das plantas. O dano é fácil de ser identificado, pois as panículas cortadas ficam caídas no solo entre as plantas.

As avaliações para determinar a população do inseto e sintomas devem ser realizadas a cada 7 dias, determinando o início da infestação e a ocorrência  de lagartas pequenas, ideal para adoção de medidas de controle.

MANEJO DO INSETO

Eliminação da resteva

A destruição dos restos culturais pode auxiliar na redução da população do inseto ao tornarem o ambiente desfavorável à algumas de suas formas, como as lagartas e pupas e também expondo-as ao ataque de inimigos naturais, no caso dos pássaros.

A redução das plantas espontâneas que servem de abrigo e alimento para as lagartas no período de entressafra, ajuda na diminuição da população para a safra seguinte. Estas medidas podem ser adotadas por meio de pastoreio e pelo preparo antecipado do solo.

Rotação de culturas

O método de rotação de culturas com a eliminação do alimento, pela ausência da planta hospedeira cultivada provoca a redução da população inseto-praga. Portanto, a rotação com soja, mostra-se eficiente, pois a lagarta-da-panícula não ataca essa cultura.

Manutenção da lamina de irrigação

O manejo da irrigação, através da manutenção de lâmina de água uniforme em todo o quadro, sem a existência de coroas ou partes da lavoura sem água pode reduzir ou retardar a infestação de lagartas. As partes secas, incluindo as taipas, são as primeiras áreas a serem atacadas. Também manter a irrigação até a colheita ou próximo, vai manter as lagartas apenas nas taipas, diminuindo os danos.

Inimigos naturais

A lavoura de arroz é um ambiente riquíssimo em espécies de predadores como, aranhas, libélulas, vespas e tesourinhas que realizam um controle natural, podendo manter a população abaixo do nível de dano econômico. O uso inadequado de inseticidas, como de produtos não registrados ou em doses e freqüência mais alta que a recomendada, elimina tais espécies do ambiente, causando além do desequilíbrio imediato, problemas como ressurgência, que é aumento da população de insetos secundários e a resistência a inseticidas.

Controle químico

O uso de inseticidas na lavoura orizícola do Rio Grande do Sul é muito frequente. Porém, sua adoção deve ser realizada de maneira correta, sem comprometer a biodiversidade ocorrente nas lavouras de arroz. Devido às lagartas localizarem-se nas partes inferiores das plantas, este comportamento dificulta o seu controle.

Existem produtos registrados para o controle da lagarta-da-panícula na cultura do arroz no Estado. O princípio ativo Clorantraniliprole, tem apresentado ótima eficiência. Não devem ser utilizados, produtos químicos sem registro, para o seu controle na cultura do arroz irrigado.

Como as lagartas sobem ao final do dia, este é o período adequado para realizar o controle, pois o produto vai atuar por contato e ingestão. Estudos mostram que 48h após a aplicação do inseticida, a mortalidade das lagartas pode atingir 100% de controle.

Lagartas de Pseudaletia sequax possuem como característica a coloração rosada.
Lagartas de Pseudaletia sequax possuem como característica a coloração rosada.
Pseudaletia adultera apresenta ao centro de cada asa anterior um ponto de coloração escura.
Pseudaletia adultera apresenta ao centro de cada asa anterior um ponto de coloração escura.
Lagarta flagrada em situação de ataque à panícula de arroz.
Lagarta flagrada em situação de ataque à panícula de arroz.


Jaime Vargas de Oliveira, Unitec; Danielle Almeida, Carlos Eduardo M. de Souza, Tailor Pivoto Perufo, Irga 


Artigo publicado na edição 202 da Cultivar Grandes Culturas.

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