Monitoramento e controle da cigarrinha Dalbulus maidis na cultura do milho

Por Jonas Dahmer, Maycon Vinicius Laia de Aquino e Rodrigo Ferraz Ramos, da Staphyt Brasil

29.02.2024 | 16:29 (UTC -3)

A cigarrinha (Dalbulus maidis), nos últimos anos, tem sido a principal praga da cultura do milho. A cigarrinha tem sido encontrada em todas as regiões do Brasil, com exceção da região norte. Geralmente a população de D. maidis se estabelece durante a primeira safra de milho e, durante o milho safrinha, essa praga acaba aumentando a sua densidade populacional nas lavouras.

D. maidis é o vetor dos molicutes, fitoplasma (Maize bushy stunt phytoplasma) e Spiroplasma kunkelii, agentes causais do enfezamento vermelho e do enfezamento pálido, respectivamente, e do vírus do raiado fino ou vírus da risca (Maize rayado fino virus - MRFV). Os danos diretos, causados pela sucção da seiva do floema, de D. maidis não possuem tanta relevância quanto a transmissão de fitoplasma, espiroplasma e do vírus da risca do milho. Assim, são os danos causados por essas doenças que resultam em prejuízos severos na cultura do milho.

Sintomas dos enfezamentos

O enfezamento pálido apresenta os seguintes sintomas: inicialmente são listras largas descoloridas, amareladas, na base das folhas infectadas; posteriormente, as folhas novas apresentam o mesmo sintoma. Além disso, a planta infectada pode apresentar encurtamento de entrenós, espigas malformadas, deformadas ou ausentes e deformações no pendão. Porém, em alguns casos, os sintomas podem ser leves ou até mesmo ausentes. 

Já o enfezamento vermelho apresenta sintomas como: o avermelhamento de folhas mais velhas e encurtamento de entrenós, perfilhamento anormal e desenvolvimento de várias espiguetas. O complexo de enfezamento (enfezamento pálido e vermelho) também causa podridão de espigas e quebramento de colmo, dificultando a operação de colheita e causando perda significativa de produtividade.

Os primeiros sintomas do vírus da risca, cerca de 30 dias após a semeadura, são pequenos pontos cloróticos na base e ao longo das nervuras das folhas jovens. Com o tempo, ficam mais visíveis, com grande número de pontos cloróticos, que se fundem, tomando aspecto de riscas curtas e permanecem visíveis mesmo nas plantas em fase de produção. As plantas infectadas também podem apresentar espigas e grãos menores do que as plantas não infectadas.

Figura 1 e 2 - Virose e enfezamento-pálido 
Figura 1 e 2 - Virose e enfezamento-pálido 
Figura 3 - enfezamento-vermelho
Figura 3 - enfezamento-vermelho

Monitoramento da cigarrinha

A presença da cigarrinha na lavoura de milho pode ser constatada através de armadilhas adesivas amarelas ou de observações visuais, principalmente, no cartucho das plantas de milho. A frequência mínima das observações é semanal. As armadilhas precisam ser trocadas semanalmente. Por ser um inseto vetor de fitopatógenos, não há nível de controle estabelecido e sua simples presença já justifica a adoção de medidas de controle.

Controle da cigarrinha

Devido às altas populações de cigarrinha-do-milho nas lavouras e a sua alta mobilidade e migração no campo, tem havido uma imensa dificuldade no controle dessa praga. Diante deste cenário, é necessário adotar todas as técnicas disponíveis para obter sucesso no controle da praga. Dentre as técnicas de controle, pode-se se destacar:

• Controle das plantas hospedeiras: plantas de milho voluntárias podem abrigar a cigarrinha no período de entressafra, fornecendo uma “ponte verde” para essa praga entre os plantios de milho, que serve como fonte de inóculo tanto para os enfezamentos como para virose, portanto é fundamental a eliminação das plantas de milho voluntárias.

• Controle de cigarrinha nas plantas adultas de milho: se, ao lado da lavoura de milho em estágio inicial, houver lavoura com plantas adultas de milho, é necessário adotar alguma estratégia para controlar, pelo menos uma faixa das plantas mais velhas, para reduzir o fluxo migratório.

• Híbridos tolerantes aos patógenos causadores de enfezamento: híbridos muito suscetíveis, podem apresentar prejuízo, mesmo em cenário de excelente controle, pois mesmo em baixa população de cigarrinha ocorre a transmissão de molicutes e virose.

• Tratamento de semente: inseticidas sistêmicos, como os neonicotinoides, apresentam eficácia de controle e consequentemente reduzem a infecção das plantas.

• Controle biológico: nas últimas safras tem sido muito utilizado; possui uma performance bem interessante, principalmente quando aliado ao controle químico e às práticas de manejo integrado de pragas (MIP).

• Controle químico: é a ferramenta mais utilizada desde o início do problema com cigarrinha; entretanto, atualmente é necessário usar outras tecnologias por causa da baixa eficiência de controle em elevadas populações.

O caminho para o controle químico está em buscar inseticidas cada vez mais seletivos, principalmente em relação aos inimigos naturais. Em relação aos neonicotinoides, em pulverização foliar, principalmente tiametoxam e imidacloprido, tem-se observado baixa eficácia de controle de D. maidis em nível de campo. Quando se avalia essas moléculas em laboratório ou em tratamento de semente, tiametoxam e imidacloprido apresentam excelente performance. Então, a baixa eficácia do tiametoxam e imidaclorpido em campo, pode estar associada à toxicidade aos inimigos naturais da cigarrinha. Por exemplo, Godoy (2010) constatou altas mortalidades de Chrysoperla externa, uma espécie de crisopídeo predador, em experimentos com tiametoxam e imidacloprido.

Neste cenário, as moléculas mais seletivas tendem a performar melhor do que as moléculas de inseticidas de amplo espectro. Também com o uso associado a inseticidas biológicos, conforme a compatibilidade dos produtos, pode-se conseguir maior eficácia de controle de cigarrinha. Testes de compatibilidade de inseticidas biológicos com os inseticidas químicos, indicam a possibilidade de mistura desses tipos de defensivos na mesma aplicação.

Na figura abaixo, mostra-se a eficácia de uma molécula química (acefato) e de inseticidas biológicos. Devido ao fluxo migratório da cigarrinha na lavoura, a eficácia de controle pode se apresentar numericamente menor nas observações de campo, mas pode ser utilizado para efeito comparativo. Onde os inseticidas biológicos com eficácia que chegam a ter mais de 50% da eficácia do inseticida químico de referência. Essas eficácias ocorrem com no mínimo três aplicações do produto biológico. 

O número, frequência e condições meteorológicas das aplicações são determinantes para a performance dos inseticidas biológicos. Em relação às condições meteorológicas das aplicações, recomenda-se aplicações ao final do dia (início da noite) ou na madrugada (início do dia) para garantir maior eficiência. Por se tratar de microrganismos, os inseticidas biológicos necessitam de maior cuidado de armazenamento, principalmente tempo de validade e temperaturas altas (recomenda-se evitar temperaturas acima de 25°C).

Figura 4 - eficácia de controle de D. maidis. Valores médios obtidos dos ensaios realizados nas três últimas safras nas Estações de Pesquisa, Rio Grande do Sul e Goiás, da Staphyt Brasil
Figura 4 - eficácia de controle de D. maidis. Valores médios obtidos dos ensaios realizados nas três últimas safras nas Estações de Pesquisa, Rio Grande do Sul e Goiás, da Staphyt Brasil

*Por Jonas Dahmer, Maycon Vinicius Laia de Aquino e Rodrigo Ferraz Ramos, da Staphyt Brasil

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