Mofo branco - cuidado com a semente

Sclerotinia sclerotiorum (Lib.) de Bary é um fungo de distribuição mundial, sendo o agente causal da podridão de esclerotinia, murcha de esclerotinia ou mofo branco, que ataca 412 espécies de plantas, muitas delas de rel

10.11.2015 | 21:59 (UTC -3)

é um patógeno transmissível por sementes. Elas podem ser infectadas com o micélio do fungo ou contaminadas com escleródios. É grande o potencial de disseminação do patógeno a longa distância através de sementes. Os escleródios podem ser retirados de lotes de sementes, porém, aquelas infectadas com micélio dificilmente são detectadas sem a ajuda de um laboratório especializado.

Não existem variedades de plantas resistentes ao patógeno e o controle químico da doença é realizado, muitas vezes, sem o rigor técnico necessário, infringindo, muitas vezes, as leis que estabelecem normas e limites aceitáveis. A fungigação via pivô central é uma prática que tem crescido muito nos últimos anos, mesmo em regiões onde ela é proibida. É certo que a aplicação de uma quantidade excessiva de agrotóxicos para o controle de doenças gera riscos desnecessários, tanto no aspecto epidemiológico das próprias doenças como em relação à saúde de homens e animais e de danos ao meio ambiente, por isso, a detecção desse patógeno em sementes se torna tão importante na atual situação, pois, sementes com alta qualidade fitossanitária contribuem para menor consumo desses produtos durante o ciclo das culturas e evita a introdução e/ou aumento da doença nas lavouras.

A soja e feijoeiro

No Brasil, as culturas de feijão (

L.) e soja (

(L.) Merrill) são de grande importância. Atualmente, a soja é a principal espécie cultivada no país, tendo uma produtividade média de 2.200 kg/ha. As exportações mundiais para a safra 98/99 de soja devem totalizar 37,6 milhões de t, com os Estados Unidos participando com 63% desse volume, o Brasil com 21,8%. A produtividade média de feijão comum é de 610 kg/ha.

Dentre os fatores limitantes para a produção de soja e feijão estão as doenças, sendo que cerca de 80% delas são transmitidas pelas sementes.

é responsável por perdas de até 30% em lavouras de soja e de até 70% em lavouras de feijão irrigadas por pivô central nos cerrados. Plantas doentes podem ter a produção reduzida em 37%. Se se considerar uma incidência de 50% no campo, sob um pivô central que irriga uma área de 100 ha, uma produtividade de 2.400 kg/ha e o preço da saca de 60 kg a R$ 50,00, isto poderia representar uma perda de receita bruta de R$ 37.000,00, equivalente a 740 sacas que deixariam de ser produzidas devido à doença.

Novo meio de detecção

É de fundamental importância para o sucesso de qualquer cultura a qualidade das sementes, que é expressa pela interação das características genéticas, físicas, fisiológicas e sanitárias, para originar lavoura uniforme, constituída de plantas vigorosas e representativas da cultivar sem contaminação de plantas invasoras ou indesejáveis.

A análise sanitária de sementes é uma das medidas de controle da qualidade de sementes que faz parte de um conjunto de normas, padrões procedimentos e atividades aplicadas às operações de produção, beneficiamento, armazenamento e distribuição. Esta análise, dentre outras avaliações que são realizadas para determinar a qualidade de um lote de sementes, é de grande importância, pois constitui-se em um instrumento de levantamento de informações das doenças presentes nas sementes.

Quanto aos padrões de sanidade de sementes, colaboram para isso os resultados de pesquisas sobre a quantificação de danos ou a infecção das sementes que correlacionam com níveis de ataque na lavoura, permitindo assim que eles sejam estabelecidos para cada patossistema de interesse sócio-econômico. Freqüentemente, desconsidera-se a correlação entre a intensidade de doença no campo e a porcentagem de transmissão inicial do patógeno pelas sementes, que está diretamente relacionada com o estádio de desenvolvimento das plantas e com as condições climáticas.

Para se ter uma idéia da importância da transmissão de patógenos pelas sementes, mais de 40 espécies de fungos, bactérias e vírus são transmitidos pelas sementes de soja e feijão. O nível de tolerância para algumas espécies de patógenos em sementes é zero, ou seja, nenhuma semente deveria estar infectada/contaminada para ser utilizada no plantio. Para as sementes de feijão, o nível zero é exigido para nove espécies de fungos - entre elas S. sclerotiorum - seis bactérias e quatro vírus.

Pelas razões anteriormente expostas e devido a importância econômica originada da diminuição dos rendimentos das culturas devido às doenças transmitidas pelas sementes, recentemente, na portaria nº. 71 do Ministério de Agricultura (DOU 23/2/99 e divulgada nesta revista na edição de março de 1999, n°. 2, pág. 33), abrirá caminho para a adoção do nível de tolerância de patógenos para as três classes de sementes: (1) básicas, (2) certificadas e (3) fiscalizadas. A adoção de padrões de tolerância, permitirá a aprovação ou a rejeição de campos de produção e de lotes de sementes, assim como impedir a introdução de patógenos em áreas onde eles ainda não estejam presentes, protegendo assim os agricultores.

Para a detecção de S. sclerotiorum em sementes de feijão, girassol, ervilha e soja, segundo as Regras para Análise de Sementes do Ministério da Agricultura, elas devem ser incubadas em papel de filtro à temperatura de 5 a 7°C, sob escuro contínuo por 30 dias, tempo relativamente longo para detecção de um fungo.

Existem algumas variações do método oficializado pelo Ministério da Agricultura que utilizam tempo, temperatura e métodos diferentes, como por exemplo o rolo de papel filtro, mas que, ainda assim, demandam um período de incubação maior do que sete dias, tempo este necessário para detectar a maioria dos fungos presentes nas sementes.

As análises utilizadas para detectar S. sclerotiorum em sementes de feijão utilizando os métodos existentes têm encontrado de 0,25 a 2,3% de sementes infectadas. Embora pareça muito pequena a infecção de 0,25% de sementes, o que representa uma semente infectada em 400 analisadas, isso pode significar, em uma população de 250.000 plantas por hectare, a introdução de 625 focos primários da doença, fato este extremamente relevante, principalmente em áreas ainda isentas do patógeno.

Atualmente, no Brasil, o nível de exigência em proposição para S. sclerotiorum em sementes básicas, certificadas e fiscalizadas de soja e feijão é zero, pois a doença tem tido um efeito muito negativo para a produção de sementes e grãos em sistemas de produção de sequeiro e irrigado nos cerrados.

Um novo método de detecção de

foi desenvolvido e tem como principal característica a rapidez com que se obtém os resultados da análise. Este método utiliza um meio de cultura denominado neon, que embora não atenda a contento a exigência de economicidade, tem se mostrado bastante eficiente em detectar S. sclerotiorum em sementes de feijão e soja em trabalhos que estão sendo desenvolvidos na Embrapa Cerrados, sob orientação do Pesquisador Luiz Carlos Bhering Nasser.

Características do NEON

O Meio Neon, cuja base é o meio BDA (batata-dextrose-ágar), caracteriza-se por possuir em sua composição um antibiótico de amplo expectro, geralmente o cloranfenicol, o ácido 2,4-D (diclorofenoxiacético) e um indicador de pH, o azul de bromofenol. O meio permite o crescimento de fungos mas não permite o crescimento de bactérias sensíveis ao antibiótico e inibe a germinação de sementes de plantas dicotiledôneas, devido à presença do ácido 2,4-D. O azul de bromofenol, um indicador de pH, torna o meio azul após o seu preparo. O crescimento de fungos que produzem ácidos, liberados para o meio, faz com ele se torne amarelo na presença desses ácidos (foto). S. sclerotiorum produz uma grande quantidade de ácido oxálico o que faz com que o meio passe da coloração azul para o amarelo. Embora outros fungos produzam quantidades de ácido suficientes para mudar a coloração do meio, eles são facilmente distinguíveis de S. sclerotiorum, bastando para isso a observação de suas estruturas sob uma lupa.

Com o meio NEON, espera-se atender a uma crescente demanda da análise sanitária de sementes que visem a detecção de S. sclerotiorum, pois, devido à rapidez com que detecta o patógeno ele permite analisar um maior número de amostras em um mesmo intervalo de tempo em que são utilizados os métodos preconizados pelo Ministério da Agricultura. O meio NEON, passível de ser industrializado, poderá ser patenteado.

Evitando-se a entrada do patógeno ou então reduzindo a quantidade de inóculo inicial a partir da análise sanitária de sementes, contribui-se para melhorar a produtividade e o controle da doença, uma vez que menores quantidades de fungicidas serão necessárias para controlar a doença na lavoura. Quando a quantidade de agrotóxicos utilizada é reduzida, além da economia, há um grande benefício para o meio ambiente, pois reduz-se a possibilidade de contaminação humana, animal e dos lençóis freáticos.

Luiz Carlos B. Nasser

Embrapa Cerrados

Reginaldo Napoleão e Rosa A. Carvajal

Universidade de Brasília

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