Mistura viável para o combate químico da tiririca na cultura do milho

A tiririca provoca danos severos a diversas culturas comerciais; em milho, uma das ferramentas eficientes no controle químico reside no emprego de mesotrione + atrazina

14.02.2016 | 21:59 (UTC -3)

Tiririca, cipó-de-uma-só-cabeça, tiririca-amarela, junquinho, junca, capim-de-cheiro, chufa, pelo-de-sapo, tiririca do brejo, capim-botão, cortadeira, capim-santo, manubre, capim-dandá, alho, junça aromática (Brasil), cebolita (Argentina), coquito (Colômbia), cipero (Itália), cebollín (México), nutgrass, yellow nutsedge (Estados Unidos), são denominações populares para as mais diversas plantas da família Cyperaceae, abrangendo o gênero Cyperus, dentre as quais, a planta daninha considerada mundialmente a mais nociva para as culturas: Cyperus rotundus L. (Holm et al, 1991).

Cyperus rotundus é uma planta originária da Índia de distribuição cosmopolita, cresce nas mais diversas condições edafoclimáticas, com maior relato mundial de ocorrência como planta daninha, só não ocorre nas regiões com baixas temperaturas ou alagadas. No Brasil ocorre em todos os estados, sendo considerada em muitos agroecossistemas como a principal planta daninha.

É uma planta perene herbácea com o ciclo fotossintético C4, ereta de caule trian- gular, medindo de 10cm a 60cm de altura, folhas brilhantes de coloração verde-escuro medindo de 5cm a 12cm, basais glabras menores que o caule medindo de 10cm a 30cm de comprimento por 3mm a 6mm de largura, inflorescências terminais em umbelas compostas com muitas espiguetas de coloração marrom. Produz rizomas e tubérculos considerados estimulantes e afrodisíacos (Lorenzi, 2008).

Nesta espécie, a sua principal propaga- ção é pelos dissemínulos assexuados, bulbos basais, rizomas, tubérculos. Já a reprodução sexual através das sementes é responsável por apenas 5% da sua proliferação, podendo permanecer dormentes por vários anos, Holm et al (1991) citam viabilidade destas após 12 anos.

Rochecouste (1956) pesquisou a pro- dução de tubérculos da tiririca na região tropical na cultura cana-de-açúcar, em três condições distintas de pluviometria anual: subúmido (<1>2.500mm), não determinou tubérculos abaixo de 45cm de profundidade e independentemente da condição climática, a produção dos tubér- culos foi beneficiada pela condição úmida, podendo atingir 30 toneladas por hectare, a sua maioria presentes na camada mais superficial de 0-15cm do perfil do solo.

Estes resultados confirmam os obtidos por Andrews (1940) que também determi- nou que o sistema radicular concentra-se principalmente na camada de 0cm-15cm em solos menos permeáveis e com baixo teor de matéria orgânica e de caráter alcalino, porém, para solos mais estruturados onde a drenagem é maior, os tubérculos podem se concentrar em uma faixa mais profunda, até 1,5m de profundidade do perfil do solo.

Outro trabalho relevante, com o mesmo atributo dos citados, qualificando a tiririca como uma espécie vegetal de extraordinária capacidade de se reproduzir assexuada- mente pelos tubérculos é descrito por Rao (1966). O autor observou que de apenas um tubérculo pode-se originar outros 99, em apenas 90 dias, indicando também que em condições normais de cultivo se localizam preferencialmente em uma camada mais profunda do solo, quando comparados com áreas sem cultivo.

Desta forma, pode-se dizer que a Cyperus rotundus apresenta características extraordinárias que a qualificam como uma planta especial, com grande capacidade de ocupar com eficiência e colonizar os mais diversos nichos ecológicos, notoriamente aqueles onde há intensa movimentação do solo através do manejo para o planti (arações e gradagens) que destroem a popu- lação florística original, favorecendo, assim, a germinação dos tubérculos da tiririca que, não encontrando outras populações, dominam a área.

Neste caso, sob a visão agronômica, pode-se dizer que, dentre todas as carac- terísticas da tiririca a principal seja o efeito deletérico de sua convivência no desenvol- vimento e na produção das mais diversas culturas, pois não há nenhum trabalho científico que, avaliando qualquer parâme- tro mensurável, demonstre que a presença da tiririca favoreça o desenvolvimento de qualquer cultura agrícola.

A Tabela 1 comprova o efeito negativo desta convivência para algumas culturas. Observa-se na Tabela 1 que nas culturas de algodão, arroz, feijão e cana-de-açúcar a presença da tiririca é altamente preju- dicial, ocasionando perdas em até 96% na produção. A tiririca também pode afetar a produção da cultura de milho.

Nos cultivos comerciais de milho o uso de herbicidas é um método de controle (químico) muito utilizado, porém, seu emprego para o controle de Cyperus rotundus nesta cultura é muito restrito, quando há indicação de uso, há limitações quanto à cultivar, como é o caso da aplicação das imidazolininas.

Desde o seu lançamento, observa-se em condições de campo que os herbicidas do grupo das triketonas, notoriamente o mesotrione, quando aplicados em conjunto com o herbicida atrazina, causam injúrias na tiririca, caracterizada por um forte bran- queamento.

O mesotrione, (2-(4-mesyl-2-nitroben- zoyl)cyclohexane-1,3-dione), solubilidade de 168,7mg/L; pKa 3,07; tem como mecanismo de ação interferir na biossíntese de carotenoides, pela inibição da enzima hidroxifenil-piruvato dioxigenase, acarretando um estresse oxidativo e destruição das membranas celulares levando as plantas sensíveis à morte. No Brasil é indicado para aplicação como pós-emergente na cultura do milho (Rodrigues & Almeida, 2011).

Atrazina: 6-chloro-N2-ethyl-N4-iso- propyl-1,3,5-triazine-2,4-diamine, solubilidade (H2O) 33mg/L; pKa 1,7; tem como mecanismo de ação interferir na biossíntese – fotossistema II, levando as plantas sensíveis à morte.

No Brasil estes herbicidas são indicados para aplicação como pós-emergentes na cultura do milho (Rodrigues & Almeida, 2010).

Blanco et al 2010 e 2012, realizaram ensaios de campo e em casa de vegetação para avaliar a mistura dos herbicidas mesotrione mais atrazina para o controle da Cyperus rotundus na cultura de milho.

Os Experimentos

Foram realizados dois experimentos. O ensaio 1 trata-se de um experimento de campo, em área agrícola comercial, com milho cultivar AG-4051, onde foi observado em média aproximadamente mil manifestações epígeas da tiririca por metro quadrado.

A Tabela 2 descreve os tratamentos e o intervalo entre as aplicações.

Na área do experimento de campo foram coletados tubérculos da tiririca e colocados para germinar em bandejas para realização do segundo ensaio.

Avaliação de Herbicidas Sobre Cyperus Rotundus

Após a última aplicação aos 34 DAP foram realizadas cinco avaliações utilizando um quadro de amostragem (0,5m x 0,5m), recenseando visualmente a porcentagem de cobertura, da população de tiririca aos 54 DAP, 63 DAP, 76 DAP e 92 DAP. Assim foi avaliada a ação dos herbicidas, obtendo a porcentagem de controle dos tratamentos, pela comparação com a testemunha sem capina (Tabela 3).

O ensaio 2 foi realizado em casa de vegetação: 20 tubérculos foram plantados em bandejas plásticas contendo 2kg de mistura de composto, adubado e irrigado convenientemente e mantidos em condições adequadas de umidade e temperatura para o crescimento e desenvolvimento ativo dos tubérculos de Cyperus rotundus.

Após 195 dias nestas condições as bandejas foram consideradas parcelas e submetidas a tratamentos idênticos com o mesmo intervalo entre as aplicações, descri- tos na Tabela 2, à exceção do tratamento 7 (testemunha sem capina).

O efeito dos tratamentos sobre os tubérculos de C. rotundus foi realizado à época correspondente a dez dias após a última aplicação da sequência dos tratamentos (Tabela 2). Em cada bandeja/tratamento foram separados tubérculos, avaliando a sua viabilidade pelo teste de tetrazólio.

Para a realização deste teste foram separados 40 tubérculos em cada bandeja/ tratamento. Foram cortados no sentido longitudinal, embebidos em solução de 0,1% de sal de tetrazólio, colocado em BOD a 30°C por 1,5 hora, sendo considerados viáveis os que apresentavam coloração rosa.

Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F (≤ 5%), quando significativos, as médias foram comparadas pelo teste de médias t (5%).

Resultados e Discussão

O controle da tiririca em relação aos tratamentos com os herbicidas, correspondente ao Ensaio 1, descritos na Tabela 2, é apresentado na Tabela 3.

Observa-se na Tabela 3 que aos 54 DAP, em todos os tratamentos o controle em porcentagem da tiririca variou de 7,5% a 98,75%.

Considerando 80% de controle o índice mínimo aceitável para C. rotundus, observa-se que este valor foi superado nos tratamentos 4 e 5, em todas as avaliações, a partir de 54 DAP até o final do ensaio em 92 DAP, atingindo valores de controle acima de 92% e em algumas ocasiões próximos a 100%.

Os outros tratamentos não conseguiram controlar com eficiência a tiririca. Mesmo nos tratamentos 2 e 3, em que foram realizadas duas aplicações sequenciais, o controle foi insatisfatório atingindo no máximo 42,5%, abaixo do índice mínimo de controle (80%).

Os tratamentos 4 e 5 foram os que tiveram três aplicações seguidas, diferindo apenas na concentração da dose da primeira aplicação. No tratamento 4 foi aplicado o dobro em relação ao tratamento 5. Ambos apresentaram controle efetivo da tiririca e, desta forma, mostraram que três aplicações sequenciais foram eficientes para o controle da C. rotundus.

Durante o ensaio foi observado, em algumas ocasiões, fitotoxicidade na cultura do milho, caracterizada como mediana e todos os tratamentos com herbicidas afetaram significativamente (5%) a produção do milho verde colhido aos 92 DAP (dados não apresentados).

Nas avaliações da ação dos tratamentos sobre os embriões dos tubérculos da tiririca (Ensaio 2), submetidos aos mesmos tratamentos do ensaio de campo e análise da variância significativa (5%), o desmembramento dos tratamentos avaliando a média de tubérculos viáveis pelo teste de média t(5%) se encontram descritos na Tabela 4.

Na Tabela 4 observa-se que a média de tubérculos viáveis demonstrou diferença significativa para todos os tratamentos com herbicidas independentemente do manejo utilizado, uma, duas ou três aplicações sequenciais, quando comparados com a testemunha que teve um valor maior.

Estes resultados demonstram que a aplicação da mistura dos herbicidas teve a capacidade de inviabilizar os tubérculos de tiririca, uma informação muito relevante para o controle desta planta daninha.

Conclusão

Conclui-se que a mistura dos herbicidas mesotrione mais atrazina é capaz de controlar e reduzir significativamente a viabilidade.


Este artigo foi publicado na edição 175 da revista Cultivar Grandes Culturas. Clique aqui para ler a edição.



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