Não existem grandes novidades neste período de intervalo entre as safras dos hemisférios Norte e Sul. No Norte, são efetuadas as últimas apurações da colheita, que mais uma vez se mostra suficiente para atender às necessidades mais próximas.
O ano agrícola seguinte está ainda distante para levantar preocupações nestes tempos de maior preocupação com o futuro próximo. Os preços da Bolsa de Chicago, que servem de base para os preços internacionais, estão cada vez mais próximos do comportamento verificado durante o ano de 2007 (o último que pode ser considerado normal, antes das turbulências do ano de 2008), flutuando no intervalo entre US$ 3,00 e US$ 4,00 por bushel (com uma tendência de se concentrar entre US$ 3,50 e US$ 4,00). Desde o início de setembro, os preços não caíram abaixo dos US$ 3,00 por bushel e se encontram em tendência de alta, testando o limite superior de US$ 4,00.
Os preços do petróleo também se mostram em tendência de alta, desde que saíram do fundo do poço, no início deste ano de 2009. Esses incrementos têm se verificado de forma gradual, o que dá suporte ao preço do etanol, que, por sua vez, sustenta os preços do milho nos EUA.
Na Argentina, começam a surgir as primeiras estimativas sobre a produção de milho, já incorporando a possível redução da área plantada com esse cereal. Um informe da Bolsa de Cereais de Rosario projeta uma produção de 13 milhões de toneladas de milho para esta safra (em comparação com cerca de 22 milhões de toneladas há dois anos). Caso esta produção se concretize, existiriam cerca de 8 milhões de toneladas de milho para exportar ao longo do próximo ano, condicionadas pelas já tradicionais disputas entre governo e produtores no país. Quantidade que já é semelhante ao potencial de exportação de milho do Brasil, com a diferença de que a produção de milho brasileira é principalmente voltada para o abastecimento interno. Neste andar da carruagem, estamos próximos de substituir a Argentina como segundo maior exportador de milho do mundo.
Os estoques mundiais de milho iniciaram um processo de queda, após uma recuperação nos dois anos anteriores. Os estoques são afetados pela grande quantidade armazenada na China (cerca de um terço do seu consumo anual), o que ilustra o papel estratégico do grão para a política de segurança alimentar naquele país. Sem as quantidades estocadas na China, os estoques mundiais equivalem a cerca de 13% do consumo e estão concentrados nos Estados Unidos e no Brasil. Esses estoques tão baixos podem fornecer indicativos para uma elevação dos preços internacionais assim que acontecimentos negativos venham a afetar a produção em algum dos países produtores ou exportadores. Mas isso é para ser conferido nas próximas safras, pois aparentemente o mundo está se acostumando a viver em condições limites.
Situação Interna
No Brasil, a situação está aparentemente estável, com as expectativas de redução de área plantada se confirmando (apenas os percentuais sendo discrepantes entre as diferentes fontes de informação). Entretanto, devido às quebras de safra que aconteceram no ano passado, as estimativas de crescimento da produtividade das lavouras se mantêm, principalmente devido ao regime de chuvas que se verificou no início da safra, o que forneceu boas condições para o desenvolvimento inicial das lavouras. No final, as expectativas são de uma safra semelhante à de 2008/09, que ainda é superior às necessidades internas. Nessas condições, os estoques consideráveis ainda existentes continuarão influenciando a comercialização interna e as exportações continuam sendo vitais para o fortalecimento dos preços no mercado brasileiro.
As políticas de sustentação de preços do governo federal se refletiram no aumento das exportações no mês de outubro. Como resultado, o Mato Grosso, onde estas políticas se concentraram, é hoje a região de origem mais importante do milho brasileiro exportado. Entretanto, essa atuação serviu apenas para fornecer algum suporte, pois a reação dos preços do milho, que começava a acontecer, perdeu força e os preços internos estão se novamente em queda. Com o fim dos leilões da Conab, os preços no Mato Grosso recuaram cerca de 9% entre 13 e 20 de novembro. Em outras regiões, situações inusitadas, como solicitações de implementação de políticas de suporte de preços, impensáveis em regiões fortemente importadoras de milho como o Nordeste (cuja produção de milho foi beneficiada por condições climáticas muito favoráveis), começam a aparecer. Isso é um sinal claro de que os preços vêm caindo a níveis abaixo dos de garantia do governo para a região.
Os números referentes ao uso da tecnologia dos transgênicos continuam evoluindo. Na região Sul, os quantitativos divulgados pela APPS indicam uma participação de 28% no mercado. Tal participação é similar à do levantamento anterior, e sua proximidade com as estimativas de área plantada elaboradas pela Conab indicam que esse resultado já é confiável como informação sobre a área a ser ocupada na safra de verão. No caso do Sudeste, o percentual subiu para 38% (em comparação com 29% no levantamento anterior) e a quantidade de sementes vendidas (à data do levantamento) também já é aproximada da área estimada pela Conab. No Centro-Oeste, o percentual também subiu - para 43% - em comparação com 39% do levantamento anterior e a área semeada já se encontra perto do estimado pela Conab. No conjunto destas três regiões, os transgênicos já ocupam cerca de 33% da área plantada com milho no verão.
João Carlos Garcia e Jason de Oliveira Duarte
Pesquisadores da área de economia agrícola da Embrapa Milho e Sorgo
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