Falta de cálcio na lavoura de citros pode inviabilizar a rentabilidade do citricultor
Por Bruno Dittrich, especialista agronômico em citros da Yara
Compostos derivados de plantas, como óleos e extratos vegetais tem sido alvos de estudos na busca pelo controle de fitonematoides. É o caso do óleo essencial de Melaleuca alternifólia, em teste contra a espécie Meloidogyne javanica.
O controle de nematoides parasitos de plantas é uma tarefa difícil, principalmente pelas limitações que a maioria dos métodos apresenta. As medidas de combate baseadas na rotação de cultura para espécies do gênero Meloidogyne, mostra algumas limitações, devido a grande habilidade deste parasito de se alimentar de um vasto número de plantas. O uso de variedades resistentes, apesar de desejável, ainda é limitado, devido à escassez de cultivares resistentes e ao controle químico que não tem refletido em grande eficácia no campo.
Por estes motivos, a comunidade científica tem buscado métodos alternativos de controle. Um exemplo claro disso é a busca por compostos derivados de plantas, como óleos e extratos vegetais. Estas substâncias têm sinalizado vantagens sobre pesticidas sintéticos, pois são menos concentrados e menos tóxicos. Além disso, são rapidamente biodegradáveis, apresentam um amplo modo de ação e são derivados de recursos renováveis. Na literatura já existem vários estudos que apontam o efeito nematicida e/ou nematostático destas substâncias sobre fitonematoides. Algumas até servem como base no desenvolvimento de bionematicidas.
O óleo de uma planta nativa da Austrália tem sido alvo de estudos no controle de fitonematoides. Conhecida como árvore-do-chá (Tea Tree), é pertencente à família das Myrtaceae, à Melaleuca alternifólia e possui aproximadamente 100 compostos ativos. Entre eles estão hidrocarbonetos, terpeno, monoterpenos, sesquiterpenos e álcoois associados. Sua atividade biológica e antimicrobiana do óleo essencial é atribuída principalmente ao componente Terpinen-4-ol, majoritário do óleo (30%-40%) (CARSON et al., 2006).
Poucos são os relatos na literatura que mostram a atividade de compostos do óleo essencial de M. alternifolia no controle de microrganismos parasitos de plantas, somente, no controle de patologias humanas e animais (MARTINS, et al., 2010). Em função disto, o Instituto Phytus em parceria com a Universidade Franciscana UNIFRA (ambos o Rio Grande do Sul) testou em condições de laboratório “in vitro”, a atividade nematicida e/ou nematostática do óleo essencial de M. alternifolia no controle de Meloidogyne javanica.
O essencial foi obtido comercialmente do Fabricante Evalar, de Lote 2013003 e caracterizado em cromatografia gasosa (CG) no sistema Agilent Technologies 6890N CG – FID. Foram identificados 15 componentes presentes no óleo essencial, representando 95,86% da composição total utilizada no estudo (Tabela 1).
O inoculo foi preparado a partir de massas de ovos de individuais obtidas de população monoespecífica de espécie Meloidogyne javanica provindas de plantas de soja infectadas do município de Santa Flora, Rio Grande do Sul. Plantas de Tomateiro (Lycopersicum sculetum L.) cv. Ogata fukuju cultivadas em vasos de 2 litros, contendo solo e areia, foram empregadas para a contínua multiplicação do patógeno em condições de sala de crescimento, com temperatura e umidade controladas.
Para obtenção dos juvenis de segundo estádio J2, foram utilizadas as metodologias propostas por Hussey & Barker (1973), adaptada por Boneti & Ferraz (1981). A suspensão contendo juvenis e ovos foi submetida à técnica de funil de Baermann modificado (CHRISTIE & PERRY, 1951), sendo incubadas em câmara de eclosão a 26 ºC por 36h, para estimulo da eclosão dos ovos e obtenção dos juvenis.
A atividade nematicida do óleo essencial sobre J2 de M. javanica foi conduzida em placas de poliestireno de 24 poços, segundo a metodologia de Pérez et al. (2003) em concentrações alternadas de 5 mg/ml, 10 mg/ml, 15 mg/ml (Figura 1). Em cada cavidade individual da microplaca foi adicionado a suspensão de 1 mL de água contendo 120 juvenis de Meloidogyne javanica, e em seguida, adicionou-se à solução, conforme as concentrações correspondentes que foram calculadas baseadas na densidade do O.E.
Como controles foram utilizados a água destilada e Tween 20 (1%). Em seguida, as placas foram vedadas com filme plástico, colocadas sob um agitador com movimento circular de aproximadamente 80 rpm e incubadas em sala de crescimento a temperatura de 26 ºC no escuro. A contagem dos J2 moveis e imóveis foi realizada com o auxílio de microscópio óptico após 24 horas da incubação. Para a melhor confirmação da mortalidade ou paralisação dos juvenis, transferiram-se os exemplares para uma placa de petri (4 cm de diâmetro) e, em seguida, foram visualizados em microscópio ótico no aumento de 40x, para verificar o mínimo movimento. Os juvenis de M. javanica foram considerados mortos quando imóveis (CAYROL et al., 1989) (Figura 2).
A porcentagem de mortalidade foi calculada pela equação: J2 mortos (%) = (J2 mortos x 100) / (J2 mortos + J2 vivos). Foram realizadas duas repetições por concentração. Para confirmar a atividade nematicida do óleo os Juvenis foram coletados e transferidos para placas de Petri contendo água destilada e monitorados por 24 horas.
O resultado do ensaio in vitro mostrou que todas as concentrações testadas apresentaram ação nematicida sobre os juvenis J2 de M. javanica quando comparadas a testemunha. Na curva de mortalidade foi possível remeter ao óleo essencial de M. alternifolia uma ação inversamente proporcional entre concentração de O.E. e tempo de mortalidade. Comprovando assim, que, quanto maior a concentração, menor o tempo para a indução de mortalidade do patógeno. As concentrações de 5 mg/mL, 10 mg/mL e 15 mg/mL proporcionaram uma mortalidade de 100% em 20, 20 e 16 horas, respectivamente (Gráfico 1).
Os resultados obtidos neste experimento vão ao encontro de outros trabalhos já desenvolvidos por vários pesquisadores que evidenciaram o potencial efeito de substâncias extraídas de plantas na mortalidade de fitonematoides. De acordo com Carson e Riley (1995) a atividade antimicrobiana é dependente do composto Terpinen-4-ol, composto principal e ativo do óleo de M. alternifolia, garantindo que, quanto maior a quantidade encontrada no óleo essencial, melhor será sua ação. O mesmo composto possui a ação anti-inflamatória (HART et al, 2000). Entretanto, outros constituintes possuem a mesmas propriedades antimicrobianas, como o γ-terpineno, o α-terpineno (BURT, 2004) e o 1,8-cineol (ALBORNOZ, 1992).
O óleo de M. alternifolia deve causar uma interferência no metabolismo dos juvenis de M. javanica inibindo funções vitais, atuando sinergicamente através da membrana, o que tende a ocasionar sua ruptura, e/ou afetar o sistema nervoso. Estas ações podem explicar a mortalidade dos juvenis. Entretanto, estudos futuros em condições similares de cultivos deverão ser realizados para permitir entender melhor a dinâmica do óleo de Melaleuca alternifólia no controle de M. javanica. Além disso, a utilização combinada de produtos biológicos com químicos pode ser uma alternativa para reduzir a concentração destes últimos, sem perder a eficácia.
Maiquel Frigo, Instituto Phytus; Rodrigo Gripa Madalosso, Centro Universitário Franciscano; Gracieli Rebelatto, Paulo Sergio dos Santos, Marcelo G. Madalosso, Instituto Phytus
Artigo publicado na edição 209 da Cultivar Grandes Culturas.
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